Ser um pregador eficaz naquele contexto no qual Jeremias estava comissionado por Deus, não era nada fácil. Era preciso muita ousadia e coragem, aliás coragem sempre foi uma qualidade imprescindível para qualquer um que for chamado para pregar a palavra do Senhor. Paulo chegou até dizer a Timóteo "porque Deus não nos deu um espírito de temor, mas de fortaleza". E o próprio Jesus falou para os discípulos que eles haveriam de ser defrontados com homens de muita autoridade e soberba, porém eles não deveriam se preocupar, pois o Espírito Santo estaria com eles e lhes daria as palavras necessárias. E não foi diferente com Jeremias, ao chamá-lo Deus prometeu que estaria sempre com ele, seria a sua força e a sua segurança. Mesmo assim ainda verificamos que Jeremias não ficou isento do sofrimento, pois o sofrer será sempre uma marca daqueles que estão determinados em fazer a obra do Senhor na sua integralidade. Podemos dizer que Jeremias teve a sua alma moldada na "fornalha da aflição". Olhando por esse prisma da ousadia e do sofrimento pode-se dizer que a vida de Jeremias apresentou grandes semelhanças com a do próprio Jesus.
PARALELO ENTRE JEREMIAS E JESUS
São impressionantes as semelhanças que há entre a vida de Jeremias e a de Jesus. Eis algumas delas.
Primeiramente, os dois nasceram e cresceram em pequenos povoados: Jeremias em Anatote, e Jesus, em Nazaré.
Em segundo lugar, os habitantes de Anatote rejeitaram Jeremias e procuraram matá-lo, da mesma maneira que os habitantes de Nazaré rejeitaram Jesus.
Em terceiro lugar, os líderes religiosos foram os principais inimigos de Jeremias, e a mesma coisa aconteceu com Jesus.
Em quarto lugar, Jeremias atacou o povo de então por causa da fé supersticiosa que tinham no Templo, e por crerem que a conduta moral não era tão importante, já que eles obedeciam ao ritual do Templo. Jeremias disse assim: "Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, Templo do Senhor é este... Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes e vos pondes diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes e praticar estas abominações. Será esta casa, que se chama pelo meu nome, um covil de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o Senhor" (Jer. 7:4,8-11). E está escrito, no Evangelho de Mateus 21:12,13, que Jesus, "tendo entrado no Templo, expulsou a todos os que ali vendia e compravam; também derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores.
Em quinto lugar, tanto Jeremias como Jesus estavam destinados a viver vidas solitárias. Eles não se casaram, e a ambos foi negado o prazer do lar e da família. E, quanto aos contatos sociais, os dois estavam limitados a um pequeno grupo de amigos.
Em sexto lugar, Jeremias e Jesus choraram sobre Jerusalém. Ouçamos primeiramente as palavras de Jeremias (8:20-9.1): "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos. Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; estou de luto; o espanto se apoderou de mim. Acaso não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo? Oxalá a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos em fonte de lágrimas. Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo."
Agora ouçamos as palavras de Jesus: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os pintos debaixo das asas, e tu não quiseste" (Mt 23.37).
Em sétimo lugar, nem Jeremias nem Jesus pensavam que o julgamento era a palavra final de Deus. Jeremias sabia que o povo de Judá havia quebrado a aliança e que deveria ser julgado, mas depois do julgamento Deus faria com a nação uma nova aliança. Assim foi como Jeremias se expressou: "Eis que dias vem, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá" (Jer 31.31). E, na noite em que foi traído, Jesus se reuniu com seus discípulos no cenáculo, para celebrar a Páscoa. E, depois de haver tomado o cálice e orado, ele o deu aos seus discípulos, e disse: "Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue do (novo concerto) Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mat 26:27,28)
Tomando-se em conta todas estas semelhanças, não é de surpreender que, quando Jesus apareceu, algumas pessoas pensassem que ele fosse Jeremias. Quando Jesus perguntou aos seus discípulos, em Cesaréia de Filipe: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" então eles responderam: Uns, João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas" (Mt 16:13,14). O maior elogio que Jeremias podia receber veio seiscentos anos depois de sua morte: algumas pessoas pensavam que Jesus era Jeremais.
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