quarta-feira, 28 de julho de 2010

A AUTENTICIDADE DA PROFECIA – Lição 5

No quesito autenticidade só existe uma maneira de verificarmos se a palavra é autentica ou não! E este é a Bíblia a palavra do nosso Deus, que é a balança e aferidor de toda verdade. Não nos deixemos levar pelo carisma e eloqüência do transmissor de uma palavra profética, pois, por mais persuasivo que seja o tal, temos que avaliar tudo for dito a luz a palavra de Deus. Quando um dito profeta exige um crédito imediato, sem reflexão do ouvinte, ameaçando muitas vezes aqueles que podem estar duvidosos, descarte imediatamente tal mensagem, pois Deus nos deu o direito de analisar e julgar a palavra profética para nos certificados se é ou não da parte de Deus.

A HISTORIA DO MUNDO TEM SIDO UM REFERENCIAL

O tema profecia sempre despertou interesse em todos os níveis da existência humana, de forma geral as pessoas ficam um tanto fascinadas quando ficam sabendo que alguém possui o dom profético, isto é tem a capacidade de revelar coisas que estão ocultas e ainda estão para acontecer. No mundo atual são incontáveis a quantidade de pessoas em diversos ramos religiosos que se dizem dotados de um dom sobrenatural para exercer o oficio profético. Todavia, as Escrituras Sagradas enfatizam a atividade profética de uma forma muito ampla, estabelecendo parâmetros e pré-requisitos para que essa prática seja autenticada conforme palavra do Senhor. A autenticidade da profecia se baseia no fato de que o verdadeiro profeta trata-se de alguém, homem ou mulher que tenha sido escolhido por Deus, o eterno criador dos céus e da terra, para ser seu porta voz entre os homens. Numa perspectiva teológica podemos afirmar que a Bíblia encerra no seu contexto toda a revelação de Deus para a humanidade , tudo que o Senhor deseja transmitir aos homens foi dito por meio do Antigo e Novo testamento. Por isso, o livro de Apocalipse conclui dizendo que qualquer um que tirar ou acrescentar alguma coisa a esta profecia será amaldiçoado. Hoje não temos mais o ministério profético conforme os moldes do antigo testamento, o "assim diz o Senhor" está relacionado às peculiaridades que envolvia ofício profético naquelas circunstâncias. Talvez por não compreender as profundas diferenças que existem entre ato profético daquele período e dom profético exercido na atualidade, que algumas pessoas têm utilizado está expressão com intuito de autenticar alguma ação pretendida como profetica. A maioria de nós já ouvimos falar de Nostradamus, um homem que ficou conhecido mundialmente como profeta e conquistou um grande número de discípulos e admiradores. As supostas profecias de Nostradamus são de alta complexidade, escritas por meio de códigos e compreensíveis somente por estudiosos dedicados, que produzem os significados a partir da contemplação dos eventos, muitas depois dos fatos já ocorridos. E assim, ocorre com muitos outros tantos profetas que apareceram através de toda historia da humanidade. Todavia, com a bíblia acontecesse de forma diferente, pois, as profecias bíblicas estão registradas de forma clara e objetiva e de fácil interpretação. Outros documentos religiosos, tais como o alcorão maometano e o livro de mórmon, podem declarar ser a palavra de Deus, porém falta-lhes a validez que se comprova pela profecia anterior e o seu subseqüente cumprimento, e pela presença em todas as partes do Redentor humano e divino, deixando notório que eles não contêm as provas de autenticidade que há na Bíblia (por exemplo o fenômeno das profecias cumpridas). Sendo o registro da santa vontade de Deus para o homem, a Bíblia tem a máxima importância para esclarecer corretamente o sentido verdadeiro das revelações que ela mesma contém.

EVIDENCIAS INTERNAS DA AUTENTICIDADE DA PROFECIA DIVINA

Muitas profecias bíblicas já tiveram o seu cumprimento na história, de forma parcial ou total, algumas estão tendo o seu cumprimento na atualidade. Isaías é conhecido como o profeta messiânico, pois o seu livro reúne um grande número de profecias com relação ao Messias prometido a nação de Israel. Tais profecias foram proferidas 7 séculos antes do Nascimento do Cristo, porém, é inquestionável o seu cumprimento integral acerca do tempo, local, circunstâncias e vários outros aspectos. O profeta anuncia o extraordinário nascimento virginal do Messias (Is 7.14); Os atributos divinos (Is 9.6). E no capítulo 53 temos informações precisas sobre a trajetória da vida dele e também detalhes da obra expiatória de Jesus. Os manuscritos encontrados no Mar morto nas cavernas de kunran em meados do século XX, comprovaram a grande fidelidade dos escritos de Isaías. Ainda nesse livro temos o caso de Ciro, o monarca persa, o qual Deus chamou pelo nome 150 anos antes do seu nascimento (Is 44.28).

O cap. 37 do livro de Ezequiel constitui-se numa das grandes provas da autenticidade das escrituras, é uma das profecias mais claras sobre o despertamento nacional e espiritual do povo Israelita. Fato que está em curso nos dias modernos e todos podemos testemunhar.

No livro de Daniel temos uma descrição detalhada dos quatro últimos impérios mundiais: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma, antes que eles surgissem no cenário da história mundial (Dn caps. 2 e 7).

A maior autenticação da profecia foi dada pelo Senhor Jesus ao citá-la como referencial de verdade em várias ocasiões e também confirmou a origem divina das Escrituras proféticas, como também credenciou os profetas como mensageiros constituídos e enviados por Deus. O próprio Jesus exerceu o ofício profético, pois em vários momentos registrados no Novo testamento Ele proferiu palavras proféticas. No Evangelho de Mateus 24.1-2, encontramos os discípulos fascinados com estrutura do templo e procuravam chamar a atenção de Jesus para aquele esplendor arquitetônico, porém, o interesse dele era que os discípulos estivessem focados nas realidades proféticas, por isso, ele lhes responde "Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada". Hoje sabe-se claramente que Jesus estava proferindo uma profecia com relação a destruição de Jerusalém que haveria de ocorrer no ano 70 d.C pelas tropas romanas comandadas pelo general Tito, filho do imperador Vespasiano. Flávio Josefo, historiador do primeiro século, registra esse fato histórico e também faz uma menção ao templo extremamente relevante para confirmarmos a autenticidade da profecia. Josefo registra que o General teria feito uma recomendação para que os soldados romanos poupassem o templo, porém, durante a investida um grupo de soldados que não teriam entendido tal ordem, investiram contra o templo com tanta fúria que até as bases da edificação foram arrancadas. O equívoco romano foi necessário para o cumprimento integral das palavras do Senhor "..Não ficará pedra sobre pedra..".

EVIDÊNCIAS EXTERNAS DA AUTENTICIDADE DA PROFECIA

Os grandes líderes, teólogos, mestres, professores e eruditos dos primeiros séculos que sucederam os apóstolos, ficaram conhecidos como os pais da igreja. Entre eles estão Inácio, Policarpo, Justino Martir, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Eusébio, Atanásio, Jerônimo, Agostinho e outros. O testemunho destes homens autentica a composição e trajeto histórico das Escrituras. Suas citações são de suma importância, primeiro por causa da devoção deles a Deus e à sua Palavra, eles foram cuidadosos em copiar os textos. E, segundo por terem vivido perto dos dias apostólicos. È provável que tivessem acesso a manuscritos que existem mais hoje. Há possibilidades que alguns tivessem acesso aos próprios originais.

Outra evidência a favor da autenticidade da bíblia é a descoberta dos Rolos do Mar morto, em março de 1947. Foram encontrados cerca de 350 rolos, os quais foram considerados uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX. Escritos pelos essênios um século antes de Cristo. Partes de cada livro do Antigo testamento foram encontradas, com exceção de Ester. De especial interesse são os rolos do livro de Isaías, porque um dentre os dois encontrados é o livro completo desse grande profeta. Trata-se de um manuscrito hebraico de Isaías mil anos mais antigo do que qualquer outro já descoberto. De maneira notável os rolos confirmam a exatidão do texto massorético do Antigo testamento.

CONCLUSÃO


Na minha opinião este é um dos assuntos mais abrangentes que existem no universo da teologia cristã, porque são abundantes as evidências a favor da autenticidade da profecia divina. Creio que a importância desses argumentos se dão no nível teológico e acadêmico. Todavia, dificilmente tais elaborações são suficientes para convencer aqueles que fazem oposição sistemática a fé cristã, pois os tais estão sempre munidos de contra-argumentações baseadas em ceticismo fanático. Por outro lado quando as pessoas se despojam da presunção humana e abrem o coração, a palavra do Senhor descrita no livro de Hebreus como "A espada de dois gumes" , penetra intimamente e proporciona ao ser humano uma experiência de mudança real incomparável. O fator vivificante da Profecia divina é a maior prova de sua autenticidade, da qual milhões podem testemunhar "se alguém está em Cristo nova criatura é...". Essa afirmação do apóstolo Paulo é confirmada todos os dias nas milhares de vidas são vivificadas espiritualmente por meio do Evangelho de Cristo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PROFECIA E MISTICISMO – Lição 4

Faz 28 anos que decidi servir ao Senhor, minha conversão aconteceu na Assembléia de Deus de Recife. Após ter conhecido alguns grupos denominacionais resolvi atender o apelo em um culto da Assembléia de Deus, porque entendi que nesta igreja havia um grande empenho dos seus membros para vivenciar a fé de acordo com os parâmetros bíblicos. Porém, com passar do tempo me deparei com algumas práticas que me proporcionaram certos conflitos. Uma dessas práticas era a extremada ênfase aos "usos e costumes", os quais muitos membros costumavam confundir com doutrina, passando a taxar de pecadores e rebeldes aos demais cristãos que não adotassem tais padrões. Isso caracterizava muitas vezes um tipo de exclusivismo religioso que se configura na maioria das seitas. Essa mentalidade mudou com o passar dos anos, embora ainda existam muitos líderes que se mantêm retrógados, defendendo ainda tais idéias. Outra prática com a qual não conseguia concordar era a postura mística de alguns crentes, pessoas que supervalorizavam a experiência mística, que avaliavam o valor de um culto a partir da quantidade de pessoas que falaram "línguas" e pelas profecias proferidas. Também mediam a espiritualidade de um crente não pelo seu conhecimento e prática dos princípios da Palavra de Deus, mas pela suposta quantidade de dons apresentadas pelo tal. A medida que observava fui descobrindo que maioria dessas pessoas tinham sido bastante místicas antes de se converterem ao evangelho, e agora tinham dado uma roupagem evangélica às suas crenças supersticiosas, desenvolvendo uma experiência de fé baseada no fenomenalismo religioso. A experiência mística é sempre sensorial, o místico é um eterno dependente das emoções, ele precisa sentir alguma coisa para se satisfazer. Nessa perspectiva originou-se a prática soteriológica sensitiva, pois, para muita gente que conheci, a salvação dependia do "sentir". Costumava-se perguntar aos novos convertidos "você sente salvação?". Isto fez com que muitas pessoas mergulhassem nas experiências místicas em busca desse "sentir", por outro lado criou-se uma plataforma de ação para os espertos, aqueles que buscavam se promover na comunidade evangélica, logo viram nessa sede do povo pela experiência sensitiva, uma grande oportunidade para manipular as pessoas por meio de encenações carismáticas. Essa realidade ainda hoje se constitui em um campo fértil para a ação do falso profetismo. Essa busca pela experiência mística tem movimentado o mercado da fé, se multiplicaram os "gurus evangélicos", que a semelhança dos gurus da seitas, tem sempre uma profecia pronta para os seus clientes. È obvio que a razão principal para o crescimento desse comportamento místico no meio assembleiano e evangélico é conseqüência da carência de uma teologia verdadeiramente bíblica. Numa estimativa pessoal eu diria que noventa por cento dos cultos ainda é carente do ensino bíblico que promove a maturidade da fé. Estamos diante de um cristianismo sem reflexão, uma geração de cristãos que não conseguem priorizar o conhecimento e adoração com bases bíblicas como elementos central da liturgia, pois, isso já não é tão suficiente, porque as pessoas estão acostumadas a um Evangelho humanista que está alicerçado em suas necessidades. O evangelho humanista coloca o homem como centro do evangelho e Deus procurando meios de satisfazê-lo. O Evangelho bíblico coloca Deus como centro, o homem como um pecador contumaz e Deus oferecendo-lhe uma grande oportunidade de se arrepender.

O MISTICISMO GERA UM EVANGELHO HUMANISTA BASEADO NO INTERESSE E SUPERSTIÇÃO

O evangelho humanista não produz verdadeiros adoradores, e sim, consumidores de religião. Observamos que nos dias hodiernos muitas pessoas que vão as igrejas não estão pré-dispostas para ouvir a profecia divina na sua essência, que muitas vezes pode ser contrária aos seus interesses, e submeter a verdade de Deus. Porque o interesse da maioria é a busca de uma nova sensação. Vão onde prometer mais fantasia, onde a viagem mística seja provável. Onde o cenário for mais mágico, mais imediato, é isso que buscam.

Aprisionado em sua infantilidade, o cristão supersticioso procura compreender os acontecimentos espirituais a partir de referenciais em seu mundo mágico e fantasioso. Distraído, vagueando por seu universo imaginativo, é inclinado a interpretar os fatos da vida como acasos e coincidências. Por desconhecer ou por não crer que Deus tem planos para cada um de seus filhos e que o justo viverá da fé (Hb 2.4), é facilmente levado a procedimentos adivinhatórios. Experimenta forte fascínio por reuniões que anunciam prodígios e maravilhas. O seu interesse pelo mundo transcendental é fruto de mera curiosidade infantil pelo misterioso. È completamente indefeso quando vislumbra uma oportunidade para observar fenômenos de curandeirismo. Inocente, despreparado e sugestionável, torna-se uma presa fácil das várias formas de charlatanismo religioso. Geralmente essas experiências místicas se configuram em atitudes fanáticas que se manifestam com uma religiosidade neurótica, de forma que o relacionamento do indivíduo com o Ser transcendente se apresenta biblicamente inadequado, desproporcional e conflitual, adotado a partir de uma concepção teológica pessoal e arbitrária, concorrendo paralelamente à instrução bíblica. Porém, distanciada de Cristo. A manifestação mais provável desse conflito religioso infantil reflete-se na área do relacionamento pessoal com Deus. O relacionamento homem – Deus quando se reflete numa religiosidade doentia, pode ser compreendido olhando-se uma decrescente escala de referência de valores, cujo começo é representado pelo misticismo, o qual se encerra no ateísmo materialista.

O MISTICISMO E O CRESCIMENTO DO FALSO PROFETISMO

O povo insatisfeito com sua religiosidade segue aqueles que lhe prometem satisfação. A necessidade do homem atual de ter uma vida comunitária, de se envolver com o místico, de se identificar com o religioso, de abandonar o envolvimento com o material que lhe traz sofrimento e decepção, se tornam vulneráveis a ação dos gurus religiosos que se apresentam como profetas de Deus. O povo de uma maneira geral busca o místico desejando respostas dos líderes carismáticos, nas experiências misteriosas que envolvem as práticas de alguns grupos proféticos, orientais, espiritualistas, neopentecostais e mágico-religiosos, como: visões e revelações supostamente recebidas por alguns fundadores de seitas; busca da comunicação com os mortos; crendices em líquidos, objetos abençoados; repetição de frases ou mantras para modificar atitudes; profunda contemplação e abstração do mundo presente; rituais de iniciação a determinadas funções; operação de milagres e curas; busca do transe ou do êxtase; utilização de despachos etc.

JESUS ANUNCIOU A FALSA PRÁTICA DA PROFECIA

"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos". (Mt 24, 24). Os profetas enviados por Deus operam sinais e prodígios? Sem dúvida que sim! Os milagres sempre fizeram parte da manifestação do Espírito Santo em toda a história da igreja. Porém, nos últimos tempos têm surgido pessoas no cenário político e religioso das nações realizando milagres a ponto de enganar os próprios eleitos. O profeta verdadeiro realiza milagres, mas o falso também! Como diferenciar o falso do verdadeiro? Jesus nos ensinou: Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.20), e em seguida acrescentou a sentença de condenação dessas pessoas: Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade (Mt 7.23). A injustiça e a iniquidade pautam a vida do iníquio! E não pensemos que os operadores de milagres de Satanás virão só de segmentos religiosos alheios aos meios evangélicos. Eles surgirão também do meio cristão, enganando e sendo enganados. Paulo profetizou este tempo do fim, discorrendo especialmente dos "últimos tempos", em que (...) alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores (1 Tm 4.1-5). Tiago comenta uma sabedoria que não vem do alto "antes, é terrena, animal e demoníaca" (Tg 3.15). como esse ensino de demônios se propagará? Obviamente através da religião cristã institucionalizada, seja ela católica ou protestante. E ainda não vimos tudo! "O mistério da iniqüidade já opera" (2Ts 2.7) mas sem o seu poder total! O Espírito Santo nos foi dado para nos guiar a toda verdade. De acordo com os apóstolos, o Espírito nos ensinará a diferenciar "o espírito da verdade do espírito do erro" (1 Jo 4.6).

CONCLUSÃO

Há alguns anos atrás ouvi de um pastor da Assembléia de Deus em Recife a seguinte expressão "Eu penso que cinquenta por cento do eventos que acontecem em nosso meio e que são proclamados como espirituais, não passam de misticismo" . Confesso que aceitei plenamente a colocação, pois, estava acostumado a testemunhar diversas manifestações ditas proféticas e sobrenaturais que não podiam ser respaldas nas escrituras. Entendo que tal realidade que é extensiva a diversos grupos evangélicos no Brasil, e tem uma relação direta com a indiferença para com o ensino teológico. A verdade que os grandes ministérios evangélicos defensores de um conservadorismo que atua como mecanismo de preservação de uma hegemonia administrativa, não tem interesse em promover o ensino teológico, pois um rebanho leigo não faz questionamentos. Alguns ministérios mantêm algumas escolas teológicas que funcionam apenas para atender a reivindicação de um parcela da membresia, não passando de uma escola dominical melhorada para fortalecer os costumes e tradições do grupo, sem espaço para a reflexão teológica.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

AS FUNÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS DA PROFECIA – Lição 3


Os grandes profetas dedicaram os seus talentos e a sua vida ao ensino dos princípios da justiça ética. Não eram inovadores, como dizem alguns. Apresentavam-se antes como reformadores, interpretes novos da redenção divina de Israel, do concerto entre Deus e o povo da sua escolha, sucessores de Moisés, Samuel, Elias e Eliseu, na interpretação da lei moral, revelada a Moisés, ao povo da sua própria época. Mas, como profetas levantados e vocacionados pelo Santo de Israel, não ficavam limitados nos seus ensinos, pela revelação do Senhor aos profetas do passado.

Percebiam que o Senhor estava atuando na história do seu povo, e que eles eram seus mensageiros, chamados para denunciar os ensinos falsos sobre a eficácia dos ritos religiosos e os pecados da injustiça social, a imoralidade e a desumanidade do seu povo. Não resta dúvida de que havia no ensino dos ritos religiosos lugar para apresentar também a prática da justiça como condição de receber as bênçãos do Senhor ( Deut. 24.10-22; 25.13-16).

Os profetas reformadores protestaram contra a idéia prevalecente de que o sofrimento era sempre punição do pecado. Com o conceito sacerdotal do pecado, era sempre fácil descobrir uma justificação de qualquer sofrimento que pudesse cair sobre a nação ou sobre qualquer pessoa. Mas limitaram a sua discussão do pecado ás ofensas dos ricos e poderosos contra a justiça social; a opressão dos pobres e indefesos, a prática do engano, violência e suborno dos tribunais, para se enriquecerem e viverem no luxo, enquanto apresentavam ofertas e holocaustos sobre os altares para ganhar o favor do Senhor. Os profetas condenaram severamente os pecados de várias classes, mas ainda consideraram englobadamente o povo na sua relação com Deus. Devido a complexidade das condições religiosas, estes profetas aceitaram, por algum tempo ainda, a teoria dos antecessores de que todo o sofrimento do povo era a punição dos seus pecados.

Com a reforma dirigida pelo rei Josias, baseada na descoberta de uma cópia da lei no templo do Senhor, houve um esforço para cultivar os ensinos proféticos, prática a justiça, transformar a vida religiosa do povo, e assim desenvolver a nação santa visada na escolha divina de Israel. A reforma inspirou o povo com a esperança de receber as bênçãos do Senhor. Pouco tempo depois Judá caiu em poder da Babilônia. Jeremias reconheceu o fracasso da reforma muito antes da queda nacional. Falou à consciência despertada do povo, mostrando aos reis e ao povo que a nação ainda era pecaminosa, desejando as bênçãos da justiça e da fidelidade do Senhor, enquanto pratica a injustiça e confiava na política dos reis, ao invés de ouvir e obedecer à mensagem de Deus.

Segundo o ponto de vista cristão, a saúde, a prosperidade e as outras vantagens materiais e sociais não podem ser consideradas como provas absolutas da bondade e da justiça do homem. Assim os doentes e os necessitados não pertencem ao grupo dos felizes. O leproso, na sua aflição, ficava privado dos privilégios da vida social e das práticas religiosas.

Há porém, evidências de que muitas pessoas religiosas mostraram simpatia para com as pessoas infelizes, e ministraram às suas necessidades, especialmente dos pobres, dos necessitados, dos órfãos e das viúvas. Escritores bíblicos denunciavam aqueles que negligenciavam e maltratam os pobres e necessitados (Jó 24.4; Sl 9.18; 12.5); mas as numerosas exortações em favor destes grupos infelizes aparentemente indicam que esses, geralmente ficara negligenciados. Deus sempre se apresenta como seu defensor, e no Sl 68.5 é representado como o pai de órfãos e o protetor de viúvas. Na visão profética o abandono dos necessitados seria contrário à natureza de Deus.

É notório que a questão teológica está diretamente relacionada com a vida social e política da nação, e isto tornou mais árdua a missão dos profetas. Os profeta Jeremias e Ezequiel reconheceram a justiça da punição do povo escolhido, mas Habacuque levantou a questão da justiça de Deus no seu modo de tratar com nações.

O CARÁTER SOCIAL E POLÍTICO DA PROFECIA DE AMÓS

Nos últimos anos do governo de Jeroboão, Amós proclamou a Palavra de Deus para o reino do Norte. Ele viera a Samaria da pequena aldeia de Tecoa, localizada a cerca de 8 km de Belém. Para ganhar a vida ele pastoreava ovelhas e podava sicômeros. Quando se encontrava entre pastores de Tecoa. Amós recebeu uma chamada de Deus para ser profeta. Esse chamamento foi tão cristalinamente claro que quando o sumo sacerdote tentou impugnar a Amós, em Betel, o profeta se recusou a calar (Amós 7.10-17).

A mensagem de Amós refletia o luxo e o lazer dos israelitas durante o reinado de Jeroboão. O Comércio feito com a Fenícia,pedágios cobrados do tráfico de caravanas que atravessavam Israel e a Arábia, e a expansão para o norte,às expensas da Síria, foram proventos que aumentaram os cofres de Jeroboão. A rápida elevação do nível entre os abastados aumentou as diferenças entre as classes sociais. Prevaleciam os males sociais. Com agudo discernimento Amós observou a corrupção moral, o luxo pecaminoso e a opressão dos pobres, enquanto os ricos acumulavam maiores riquezas por meio da violência. Em linguagem simples mais vigorosa ele denunciou corajosamente os males que permeavam a vida social, econômica e política a Israel. A retidão não podia ser substituída pelos ritos religioso, e sem aquela a nação de Israel não poderia escapar dos juízos de um Deus reto.

ISAÍAS, UM PROFETA ESTADISTA

Homem de profundo entendimento e santidade e da justiça do Senhor, Isaías cria firmemente na escolha divina de Israel para servir no estabelecimento do reino de Deus na terra, na base dos princípios da justiça divina. Denunciou tão severamente como Amós, Oséias e Miquéias, os pecados do povo, e reconheceu muitos dos homens de Judá, na sua ignorância e no seu amor da injustiça e imoralidade, nunca poderiam servir ao propósito divino na eleição de Israel. Mas foi o primeiro profeta que compreendeu os maravilhosos recursos do Senhor na direção da história e na realização dos seus propósitos por meios espirituais que sobrepujam as revoltas, e a infidelidade de reis e de multidões do povo contra a sua vontade revelada aos profetas. È verdade que Judá, na sua totalidade, não eram o povo de Deus, nem o reino de Deus, mas dentro do povo haveria sempre um restante de fiéis, representantes do reino como o agente do Senhor na terra.

Como estadista, Isaias entendeu a futilidade de alianças políticas, e revoltas de pequenas províncias contra impérios poderosos. Quando o povo ficou entusiasmado com o convite de aliar-se com o Egito para livrar-se do poder da Assíria, Isaías reconheceu que o socorro do Egito era uma ilusão. O profeta andou "nu e descalço" por três anos "para servir de sinal e portento contra o Egito e contra a Etiópia".

terça-feira, 13 de julho de 2010

“Correr atrás do vento” A REFLEXÃO EXISTENCIALISTA DE SALOMÃO

O texto entre aspas foi extraído do livro de Eclesiastes cap. 1.14 "atentei para todas as obras que fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento". Sem chegar ao extremo de afirmar que Salomão foi o primeiro filósofo existencialista, pois a corrente de pensamento filosófico denominada de existencialismo, é algo dos tempos modernos, não posso deixar de admitir que o texto de Eclesiastes é produto de uma profunda reflexão sobre a vida, a existência dos seres humanos "debaixo do Sol". Atentemos para as expressões: "debaixo do sol" ; "atentei" e "tudo é vaidade". O sábio Salomão se propõe em fazer uma análise vertical da vida, a existência que acontece a parti de um processo autônomo, isto é, ele olha para vida que acontece sem o referencial divino.

O texto já inicia pela conclusão, a síntese de sua descoberta "...vaidade de vaidades! "tudo é vaidade." (cap. 1.2). A palavra vaidade nesse contexto não está se referindo ao exibicionismo e narcisismo manifestados por muitos homens, e sim, a ocorrência de uma existência que prescinde da própria essência do ser, esvaziando-se da divindade do criador. Porque o termo vaidade aqui significa "vazio", pois autor envereda por uma vagem existencial, através da qual ele busca vários caminhos, tentando em algum deles encontrar um sentido para a vida, isto é, algo que por si só pudesse dar significado a sua própria vida. Porem, ele somente conseguirá descobrir que "existem muitos caminhos que parecem levar a algum lugar, porém, o final deles é a morte" . A vaidade se configura numa triste realidade, na qual o indivíduo coloca Deus a margem dos seus projetos existenciais, e se lança numa busca frenética procurando em diversas situações construir a sua própria felicidade e viver como se não dependesse de Deus. Todavia, essa busca por realização que acontece de maneira verticalizada, indiferente a realidade do Deus pessoal, o qual traz em si o significado de toda existência, e nada pode existir sem Ele, conforme disse o Apóstolo Paulo aos atenienses "Nele nós existimos e nele nos movemos" . Tentar encontrar o sentido da vida em uma realidade não centrada em Deus é o mesmo que empreender uma CORRIDA ATRÁS DO VENTO, na qual o indivíduo nunca atingirá sua meta, pelo contrário ficará sempre mais distante de encontrar o que busca.

Salomão mergulha nesse mar da existência humana tentando descobrir se haveria alguma realização centrada exclusivamente no Ser e nada mais, que pudesse lhe proporcionar o real significado de existir "debaixo do sol", isto é, aqui neste mundo. No capítulo 2 podemos observar os diversos caminhos escolhidos por ele.

O primeiro deles diríamos que tem a ver com o estilo "life party", a vida é só festa, são os bares e as boites nos finais de semana, clubes, os carnavais e todas as festas de época e fora de época. Todavia, depois de desfrutar toda essa euforia descomprometida, ele se vê completamente vazio, não descobre nenhum sentido nisso tudo, e por isso ele conclui "não passa de vaidade" (cap 2.1-2).

Na segunda tentativa ele resolve busca a realização tornando-se um grande empreendedor: construiu casas, plantou vinhas, construiu açudes. Tornou-se um empresário obcecado, megalomaníaco. Também não foi dessa vez que encontrou a felicidade. Sendo assim, prossegue na sua busca frenética, resolve ser um especulador do mercado financeiro (cap 2.8), amontoou ouro e prata. Até ai permanece insatisfeito.

Depois disto ele envolveu-se com o mundo artístico, relacionou-se com os famosos da arte e da música. Pois ele diz que se proveu de cantores e cantoras, que freqüentavam a sua casa. Isto também não lhe trousse sossego, o que lhe fez ir busca de mais um caminho e finalmente enveredou pelo sexo livre, no amor livre, amou muitas mulheres (cap. 2.8). Casou, descasou, teve casos e amizades coloridas. De todas essas experiências ficaram a frustração, pois nenhum empreendimento humano por si só pode dar sentido a vida.

Como disse o famoso escritor russo, Dostoievski: "existe um vazio no coração humano do tamanho de Deus", isso corrobora com o nosso pensamento que qualquer projeto de vida indiferente ao referencial de Deus, não passará de fadiga e vaidade que se expressará através da angustia e inquietação.

O renomado filósofo existencialista, o francês Jean Paul Satre no seu livro "A náusea", concebe o mundo como um absurdo, e a vida como um processo do acaso em todos os sentidos. Satre defendia que os seres humanos precisavam dar um sentido a própria, só que criado por eles próprios. Infelizmente o existencialismo de Satre parou no cap. 2 de Eclesiastes e por isso ele foi mais um ser humano que com todo o seu potencial passou toda sua existência CORRENDO ATRÁS DO VENTO, sem conseguido a sua meta, descobrir o significado da própria existência, e ele resume a sua frustração no título da obra mais famosa "O Ser e Nada".

Confesso que ao estudar um pouco sobre a filosofia existencialista fiquei mais seguro acerca da minha fé em Jesus Cristo, pois mesmo não aderindo a fé em Deus os existencialistas ao revelarem a frustração por encontrarem as respostas para o sentido da vida, nos prova por antítese, que estas respostas só podem ser encontradas na palavra de Deus. E isso ocorre quando o ser humano tem um encontro com o seu Criador por meio de Jesus Cristo, o qual veio para dar vida abundante, vida com propósito, vida que tem um significado e uma direção certa, DEUS.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA-lição2

A Bíblia reconhece a profecia como um meio de comunicação divina. Deus falou aos homens, muitas vezes e de muitas maneiras, através da instrumentalidade profética (Hb 1.1). Em Jeremias 18.18: "...porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta..." , fica evidente que era o profeta, no Antigo Testamento, que ocupava a posição central de revelar a verdade de Deus aos homens, pela palavra.

A função fundamental do profeta era era falar em nome de Deus. A palavra "PROFETA" vem do grego "prophetes", de "pro" (antes ou por) e "phemi" (falar). O profeta, portanto, é aquele que fala antes no sentido de proclamar, ou aquele que fala por, isto é, em nome de (Deus). O profeta é um porta-voz da revelação de Deus e a profecia é o conteúdo da revelação "...porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens(santos) falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21).

No antigo Testamento três palavras são usadas para definir o profeta: VIDENTE = pessoa com capacidade de perceber as coisas do ponto de vista de Deus (I Sm 9.9), HOMEM DE DEUS = homem que pertencia primeiramente a Deus e totalmente dedicado à causa, portanto apto para transmitir a palavra de Deus, PROFETA ("nibba") = uma pessoa chamada ou nomeada para proclamar a palavra de Deus (Dt 18.18).

O termo profeta aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 20.7, referindo-se a Abraão, homem que conhecia a Deus: "Agora, pois, restitui a mulher a seu marido, pois ele é profeta e intercederá por ti, e viverás...". oficialmente a profecia surgiu com Moisés (Dt 18.18; Os 12.13; Nm 11.25 e 12.2) e se estabeleceu com Samuel (I Sm 9.9; 10.5 e 19.20). Nos tempos da Davi, o grupo dos cantores do santuário" ...profetizava com harpas, em ações de graças e louvores ao Senhor" (I Cr 25.3). Entretanto, é com Elias e Eliseu e os profetas escritores do século do século VIII a. C., que o sentido de profeta como aquele que ministrava a palavra de Deus aos seus contemporâneos ganhou preeminência histórica.

O fenômeno da inspiração dá originalidade à profecia bíblica. Pela inspiração, Deus fala ao profeta, que precisa transmitir fielmente a mensagem que recebe. A forma da inspiração é verbal, isto é, Deus colocando na boca do profeta a sua palavra. "Depois, estendeu o Senhor a mão, e tocou-me na boca e o Senhor me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras" (Jr 1.9). "Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordnar" (Dt 18.18).

OS PROFETAS DA ANTIGA E DA NOVA ALIANÇA

Para compreendermos o ministério profético na Bíblia é necessário olharmos para a doutrina da Aliança. Está denota um compromisso gracioso da parte de Deus no sentido de abençoar o homem, principalmente, aqueles que, pela fé, recebem as promessas e cumprem os deveres envolvidos nesta aliança. Jesus Cristo é o ponto central da Aliança. Nele se cumpre e se divide o exercício profético em profetas da antiga Aliança e profetas da Nova Aliança (Hb 8.1-13; Jr 31.31-34). Os profetas da antiga aliança que escreveram suas profecias (Profetas Escritores), geralmente são classificados em quatro profetas maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e em doze profetas menores (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias), segundo o tamanho de seus escritos. As profecias dos escritores podem ser classificadas em três grupos principais: profecias a respeito de Israel e o seu relacionamento com Deus da Aliança; profecias messiânicas ou acerca de Jesus Cristo, o Redentor Prometido; e as profecias escatológicas, isto é, acerca dos últimos dias quando o reino de Deus será estabelecido visivelmente na terra. O principal objetivo das profecias na antiga aliança era exortar o povo de Israel para o seu compromisso com Deus assumido na aliança (Is 1; Jr 11.1-17; Ez 16; Dn 9; Os 1-2). Fidelidade a Deus! Por isso o monoteísmo, a santificação e o messianismo são os temas centrais da pregação profética.

O ÚLTIMO PROFETA

Após quatro séculos de silêncio profético, João Batista é o último profeta da Antiga Aliança e o precursor de Jesus, "Os profetas vigoraram até João" (Lc 16.16), ou seja, após João Batista não existe mais o profeta nos moldes da antiga aliança. Jesus Cristo é o profeta da Nova Aliança. Ele exerce o seu ofício revelando-nos Deus pela sua Palavra e pelo seu Espírito, assim como a vontade de Deus para nossa salvação (Jo 1.1-14; 15.15; 20.31; 14.26). Todo Cristão passa a ser, a partir da Nova Aliança, uma testemunha do Senhor Jesus Cristo com a responsabilidade de proclamar as virtudes de Deus (I Pe 2.9). O ministério profético constitui-se agora, na pregação da Palavra de Deus com a tríplice finalidade de edificar, exortar e consolar (I Co 14.3; 2 Tm 4.2; I Pe 4.11).

ELEMENTOS DO PROFESTISMO BÍBLICO

Havia três elementos essenciais no profetismo bíblico: a vocação profética; a mensagem que o profeta recebia de Deus e que deveria transmitir aos outros e o cumprimento cabal daquilo que foi profetizado. VOCAÇÃO era o chamamento de Deus para o ofício profético. A resposta ao chamado não era facultativa ao vocacionado e implicava na dedicação total de sua vida (Jr 1.1-19). Não adiantava fugir de Deus e do cumprimento da responsabilidade de pregar a mensagem divina (Jn 1). Portanto, não existia verdadeiro profeta sem vocação divina (Jr 23.21). MENSAGEM, O outro elemento era a comunicação divina da mensagem ao profeta. O verdadeiro profeta tinha mensagem de Deus para comunicar ao povo. Mediante a palavra, Deus exprimia o seu pensamento e a sua vontade ao profeta; este a recebia e, por sua vez, a transmitia (Jr 1.2; EZ 1.3; Os 1.1). Deus também comunicava a sua mensagem através visões (Is 2.1; 6.1; Am 7.1-9). Visão sensitiva (Ex 3), visão imaginativa (Ez 37) e visão intelectual (Is 8.1,5 e Jr 5.1). Portanto, não existia profeta verdadeiro sem a mensagem de Deus. CUMPRIMENTO, o último elemento essencial ao profetismo era o cumprimento da profecia proferida. Foi o próprio Deus quem estabeleceu o critério de avaliação: se a palavra profética não se cumprir "...esta é a palavra que o Senhor nõ dissse..." (Dt 18.20-22). O profeta deveria ser morto.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O MINISTÉRIO PROFÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO - Lição 1














Em muitas religiões antigas havia algo parecido com o profetismo em Israel, até mesmo a terminologia, por exemplo, em Mari, no Eufrates. O profetismo hebreu destaca-se como profecia voltada para os juízos divinos e como sombra das condições políticas, sociais e culturais interpeladas pelos profetas. Os antecedentes dos vaticínios de ameaça consistem nos eventos da libertação de Israel e das caminhadas pelo deserto, quando Israel se consolidava como povo e nação, como fruto imediato da salvação operada por Deus. Apartando-se, porém, deste Deus, Israel perdia os alicerces de sua existência. É a esta altura que entram em ação os porta-vozes de Deus a fim de salvar e assegurar a sobrevivência de Israel. Sem o querer, o Deus-redentor é fadado a se converter no Deus-juiz, sem deixar, no entanto, de todo a continuar a ação salvífica de seu povo. O primeiro exemplo apareceu no episódio do bezerro de ouro: Deus julgou, mas também salvou seu povo transgressor.

A fase caracterizada pelos vaticínios funestos terminou no exílio babilônico: irrompera o juízo ameaçador pelos profetas, sobreviveu só um resto do povo que fora salvo da mensagem salvadora do profeta Isaías e de Ezequiel. Deus se manifestara como redentor, no começo e no fim da história.

A proclamação dos juízos de Deus teve seu lugar entre as duas fases da salvação, baseando-se na crítica das condições reinantes no momento e que puseram em xeque a existência de Israel: "A mim me abandonaram, a fonte de água viva". Consequentemente, a destruição não será mera fatalidade, mas ação punitiva de Javé, e dentro do plano geral do Deus de Israel, calculando, ao mesmo tempo, destruição e salvação redentora.

No bojo da história do profetismo aparece o mesmo esquema: a profecia agoureira engastada nas profecias alvissareiras, antes e depois: na aurora da monarquia, os profetas lisonjeiam a realeza, posto que não sem críticas, quando oportunas (Natã). E antes da própria monarquia, o profetismo achava-se ligado aos líderes carismáticos (Débora). Extinta a realeza, os profetas ameaçadores mudam de estilo para pregar o advento da salvação escatológica (Ezequiel e Daniel).

O PROFETISMO POR ETAPAS

Numa primeira etapa, antes de Amós, os livros históricos relatam a atividade dos profetas da época. A partir de Amós, os profetas começam a formar a tradição independente e específica, cuja conservação e coleção ficava a cargo dos círculos de discípulos e adeptos que continuavam a obra do mestre. Ambas as primeiras etapas distinguem-se também pelo teor dos oráculos; somente depois de Amós a ruína é anunciada ao povo inteiro. Este tipo de oráculos precisava ser conservado e transmitido! Interessava a sobrevivência de Israel e, ainda, a credibilidade da palavra divina pregada pelos profetas. Até Amós, o castigo atinge pessoas individuais, sobretudo o rei, como responsável pelo bem-estar do povo. A execução injusta da Nabot (Acabe e Elias) envolvia também o povo. Até Amós, o rei podia ser responsabilizado devido ao caráter sacral da dignidade régia. Depois dele, o próprio povo é chamado a dar conta de seus atos. Na constelação mudada, o rei já não representava o povo que, em sua totalidade, já havia suplantado a sacralidade da instituição.

De Amós até 587 a. C. distinguimos dois períodos: o primeiro até a queda de Samaria em 722, o segundo até o fim de Judá em 587. São diferentes também os tipos de profetismo atuantes no reino de Samaria (Israel) e no reino de Judá (Jerusalém), ocorrendo frequentemente cruzamento entre os dois. Amós, natural de Judá, exerce sua função em Israel; Jeremias, na esteira de Oséias, defende posições tipicamente setentrionais. Os vaticínios de Amós foram acolhidos em Judá, porque Miquéias tem mais afinidades com Amós do que com Isaías. E assim por diante. A despeito das tipologias estabelecidas, os vaticínios acerca dos juízos divinos revelam uniformidade admirável nos traços essenciais. Foram, afinal de contas, os profetas que contribuíram para manter um resto de união entre os dois reinos politicamente separados.

OS PROFETAS NA VIDA DE ISRAEL

Os profetas censuravam todas as áreas da vida do povo, mas principalmente as violações dos mandamentos capazes de trazer riscos à existência da nação. Os casos concretos variam de profeta para profeta, de situação para situação. A repreensão política falta em Amós e Miquéias. Oséias ataca os reis e os chefões. Em Isaías é bem pormenorizada a acusação de cunho político. No cap. 2 ele incrimina a Hybris (soberba, arrogância, irreverência) que lesa a majestade de Deus; a seguir, repreende a confiança nas alianças políticas (Cap. 31.1ss). Jeremias desaprova a autonomia nas decisões políticas sem consultas prévias da vontade de Deus. Se, no início, os profetas apoiavam o rei, aos poucos viram-se constrangidos a atacá-lo frontalmente. O rei é acusado de permitir ou até de favorecer a idolatria; de contrariar os direitos de Deus (Natâ, Elias, Jeremias); de desdenhar a palavra divina a ele dirigida (Oséias, Isaías, Jeremias). na pessoa do proeta, a realeza - não autóctone no povo eleito - recebeu, colocada ao seu lado, uma instância admoestadora de modo que as contrariedades entre monarca e profeta podiam recrudecer até a perseguição, o aprisionamento e a morte do profeta (Urias). Consta, por outro lado, que jamais um profeta organizava a oposiçao contra o rei. Limitavam-se a falar e a padecer as consequencias. Avançando Oséias contra a instituição monárquica, ele nunca redigiu um manifesto para a sua abolição (7, 3 e 8, 4). Reinavam temporadas de boas relações entre o soberano e profeta (Isaías, Jeremias), quando não se cervava e recuava ante a reprimenda do profeta ( 2 Sm 12). Na vida tão sofrida de Jeremias, deus-se o caso de o rei se ver constrangido a solicitar conselho do profeta encarcerado (Jr 37. 3-10).

A acusação de abusos sociais, estendidos até o campo econômico e cultural, predomina em Amós e Miquéias, acha-se em Isaías no começo de sua atividade, e em Jeremias no discurso no templo (7.1-15). Faltando em Oséias, é enfatizada em Ezequiel, cap. 22. A censura dos crimes sociais ancorava-se no direito transmitido desde os tempos antigos, e não apenas no alto grau de sentimento moral dos profetas. A pregação profética ressuscitava o direito divino confiado a Israel fazendo-o valer contra as inúmeras infrações: Natã (2 Sm 12), Elias (IRs 21) e outros. No seu discurso no templo, Jeremias cita uma série de preceitos do Decálogo, fazendo a mesma coisa Amós (5.10-13; 8.4-7), ou o cântico da vinha em Is 5.1-7. Mesmo não havendo violação formal de mandamento, o profeta investe contra os prepotentes que abusando do seu poder, oprimem o pobre. "Assim falou Javé: Pelos três crimes de Israel, pelos quatro, não o revogarei! Porque vendem o justo por prata e o indigente por um par de sandálias. Eles esmagem sobre o pó da terra a cabeça dos fracos e torcem o caminho dos pobres; um homem e seu pai vão à mesma jovem para profanar o meu santo nome (Amós 2.6,7). Aí dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo... (Is 5.8). Cf (Miquéais 2.1).