segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A ATUAÇÃO SOCIAL DA IGREJA - Lição 10



Gostaria de fazer parte de uma igreja com mais presença no campo do social, porém, não podemos negar que a igreja protestante no Brasil tem uma grande dívida para com a sociedade. Temos no Brasil diversos grupos protestantes que são detentores de um alto poder econômico, todavia, muito pouco desses recursos são investidos em obras sociais de notoriedade. Isso acontece porque existe uma preocupação transparente entre a maioria das denominações e ministérios nesse pais, a qual se traduz numa competição entre as grandes igrejas evangélicas que buscam tão somente a glorificação dos seus próprios sistemas, por meio de construções exuberantes, a conquista do status político com a eleição de candidatos que possam arvorar a bandeira da denominação e também uma corrida desenfreada pela apropriação dos espaços midiáticos, isto é, a compra de estações de rádios, canais de televisão, poderosos sites na internet que sejam eficazes na promoção denominacional e também a própria imagem das lideranças principais. As vultuosas somas de capital investidas nessas áreas parece desvanecer as motivações para os investimentos na área social. Talvez, porque o trabalho social não proporcione tanto reconhecimento e a visibilidade que a maioria está procurando. Algumas grandes igrejas mantém alguns trabalhos medíocres que usam como pretexto para apresentar como justificativa de que realmente desenvolvem uma obra social. Na verdade o que existe mesmo é um discurso por demais hipócrita que exige que cada cristão pratique solidariedade para com os necessitados, quando muitos líderes vivem como verdadeiros "marajás do evangelho" agindo de uma maneira a demonstrar que não tem a mínima preocupação com as necessidades de quem quer que seja. A maioria das igrejas evangélicas não só têm uma ação social muito pálida, como também não ajudam algumas instituições para-eclesiásticas que atuam na área social, tais como hospitais, casas de recuperação de drogados, assistência a menores abandonados e assim por diante. A maioria dessas instituições sobrevivem mais de ofertas oriundas de das pessoas de uma forma geral do que de ajuda de igrejas. Apesar da abordagem negativa, não estou afirmando que não existam igrejas e pessoas no meio evangélico que não estejam preocupados com o social, o que estou dizendo é que tais ações estão longe de traduzir o potencial da igreja evangélica no Brasil para a obra social. As chamadas ONGS parecem ser muito mais eficazes do que a igreja evangélica no tocante a obra social. Houve épocas em que muitas lideranças negligenciavam a obra social porque achavam que o trabalho exclusivo da igreja era apenas cuidar das almas dos homens, pensavam que a única coisa que importava para as pessoas era "o pão espiritual" pois só desse pão deveria o homem viver. Por outro lado, na atualidade poucos ainda preservam essa mentalidade, teóricamente todos têm conhecimento da obrigação social da igreja, pois tal ensino é patente em toda a bíblia, a qual recomenda em diversas passagens sobre as atenções e cuidados para com os necessitados, todavia, as ambições pessoais têm mudado o foco da igreja, canalizando os seus esforços para outras prioridades.

A BASE BÍBLICA PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL

A partir do livro de Gênesis já encontramos algumas referências sobre a responsabilidade social. Ao criar a mulher Deus estabeleceu responsabilidades que homem e mulher teriam um para com o outro. E posteriormente quando Caim matou Abel, Deus veio a Caim e lhe perguntou: "Caim onde está o teu irmão ? Porém, Caim quis esquivar-se de sua responsabilidade, e por isso disse para Deus "Sou eu porventura o guardador de meu irmão?". Deus estava cobrando de Caim o bem estar de Abel, exatamente pelo fato de que ele era responsável pelo bem estar do irmão. A situação não mudou muito, tem muita gente se negando em cumprir a sua missão social, porém, Deus estará sempre a nos perguntar "Onde está o teu irmão? ou como está o teu irmão?. Ele espera da sua igreja uma resposta coerente com o Amor Dele que foi revelado na Cruz de Cristo. Sobre este aspecto quero compartilhar o belo texto de John Stott sobre responsabilidade social. Qual é, então, a base bíblica para responsabilidade social? Porque devem os cristãos se envolver? No final das contas, existem apenas duas atitudes que eles podem adotar com relação ao mundo. Uma é a fuga, outra o engajamento. "Fugir" significa voltar as costas ao mundo em rejeição, lavar as mãos das coisas do mundo (mesmo sabendo como Pôncios Pilatos , que nem assim desaparece a responsabilidade), e endurecer o coração aos agonizantes gritos de socorro. "Engajar-se", por outro lado, significa voltar o rosto para o mundo em compaixão, sujar as mãos, sofrer e gastar-se a serviço deste e sentir no fundo do ser o comovente e incontido amor de Deus. Entre nós, os evangélicos, são muitos que se comportam como fujões irresponsáveis. Viver dentro da igreja em comunhão uns com os outros é mais conveniente do que servir em um ambiente externo apático ou mesmo hostil. Naturalmente, vez por outra fazemos investidas no território inimigo através de campanhas evangelísticas (aliás, como evangélicos somos especialistas nisso). Depois, contudo, nos recolhemos de novo, e após cruzarmos o fosso do nosso castelo cristão (segurança da nossa própria comunhão evangélica), suspendemos a ponte  levadiça e até fechamos os ouvidos aos gritos daqueles que esmurram nosso portão. Quanto às obras sociais, nossa tendência é dizer que isto é perda de tempo, já que o Senhor vai voltar logo. Afinal de contas, se a casa está em chamas, para que pendurar cortinas novas e dar uma ajeitada nos móveis? O que importa é salvar o que está perecendo. Dessa forma tentamos salvar nossa consciência com uma teologia espúria. Ao invés de tentarmos fugir à nossa responsabilidade social precisamos abrir os ouvidos e escutar a voz Daquele que conclama seu povo em todo tempo a sair (assim como Ele o fez) para o mundo perdido e solitário a fim de viver e amar, testificar e servir, como Ele e por Ele. Pois isto, sim, é "missão". Missão é a nossa resposta humana à divina comissão . É todo um estilo de vida cristão, que tanto inclui evangelismo quanto responsabilidade social, sob a convicção de que Cristo nos envia ao mundo assim como o Pai a Ele o enviou, e que é para o mundo, portanto, que devemos ir, para viver e trabalhar para Ele. Ainda assim, no entanto, resta-nos a questão: "Por que?" Por que deveria o cristão envolver-se com o mundo e seus problemas? Em resposta, proponho que examinemos as grandes doutrinas da bíblia, nas quais todos já cremos em teoria, mas tendemos a podar e retocar a fim de adaptá-las à nossa teologia escapista. Meu apelo é no sentido de que tenhamos coragem suficiente para conservar a integridade bíblica dessas doutrinas. Qualquer uma delas já bastaria para nos convencer da nossa responsabilidade social cristã; pois tais doutrinas juntas nos deixam sem qualquer desculpa.".
A responsabilidade não é meramente proteger vidas inocentes: também inclui fazer o bem positivo em prol dos outros. Segundo Jesus, e o ensino do Antigo Testamento também que o homem é responsável por amar seu próximo como a si mesmo. Jesus disse que o amor é a essência da lei moral (Mt 22.39). Até mesmo disse que a totalidade da moralidade do Antigo Testamento podia ser reduzida à regra Áurea (Mt 7.12). Exemplos específicos daquilo que significa amar os outros não faltam nem na vida nem nos ensinos de Cristo. As curas que Jesus fez dos mancos, dos leprosos e dos cegos, ilustram Sua própria solicitude, e sua história acerca do Bom Samaritano demonstra o amor que todos os homens devem ter com os outros (lc 10.30ss). As Epístolas de Novo Testamento abundam de exortações para os cristãos cuidarem uns dos outros e dos de fora. Paulo escreveu: "Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros" (Fp 2.4). Outra vez: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprires a lei de Cristo" (Gl 6.2; 10). A Primeira Epístola de João é muito explícita no que diz respeito à responsabilidade do cristão no sentido de amar aos outros. (I Jo 3.17-18), como o é também a de Tiago (1.27). Em síntese, o homem é moralmente responsável pelos demais homens. Ele é o guardião do seu irmão.


PRECISAMOS DE UMA VISÃO HOLÍSTICA DO "SER"


A palavra hólos veio do grego e significa inteiro; composto. Segundo o dicionário, holismo é a tendência a sintetizar unidades em totalidades, que se supõe seja própria do universo. Sintetizar é reunir elementos em um todo; compor. Ter uma visão holística do homem é tratá-lo em todas as dimensões do seu "Ser", corpo, alma e espírito, pois, é dessa forma que a palavra do Senhor o trata. O que os cristãos as vezes não percebem, é o fato de que a responsabilidade de amar às outras pessoas se estende à totalidade do "Ser". Ou seja, o homem é mais do que uma alma destinada para outro mundo; é também um corpo que vive neste mundo. E como residente desta continuidade do tempo e do espaço o homem tem necessidades físicas e sociais que não podem ser isoladas das necessidades espirituais. Logo, a fim de amar ao homem conforme ele é - o homem total - é necessário ter um solicitude acerca das suas necessidades sociais, bem como das necessidades espirituais. Parte do descuido do "homem total" tem sua origem na ênfase platônica não-cristã sobre a dualidade do homem. Esta ênfase foi digerida pelos cristãos da Idade Média e tem sido transmitida para o presente. Em essência, argumenta que o homem é essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento, e na pior, um grande mal. A correção desse erro é achada no ensino bíblico acerca da unidade essencial do homem, e da qualidade boa da criação física e corpórea, feita por Deus (Gn 1.31). Tanto a unidade do homem quanto a bondade do corpo ficam evidentes na doutrina cristã da ressurreição, fato este que é repugnante à mente grega (At 17.32). A ressurreição do corpo não faria bom senso se os homens fossem completos sem seu corpo. Do outro lado, se o homem é essencial e permanentemente um corpo com alma, neste caso a negligência de qualquer aspecto é um erro sério. Se o homem deve ser amado como homem, deve-se amá-lo conforme ele é (e conforme ele será) como criatura física e social, bem como espiritual. Até mesmo se alguém rejeitar as doutrinas da unidade do homem e da imortalidade do corpo, é miopia demonstrar preocupação somente com as dimensões espirituais da vida. Os homens nesta vida, pois, têm mesmo corpos, e não podem viver aqui sem eles. Se, portanto, devemos alcançá-los para o mundo do porvir - se vamos salvar suas "almas" - então isto deve ser realizado através dos corpos deles. Os corpos que estão morrendo de fome dificilmente ficarão impressionados com a mensagem acerca do pão da vida, se nós lhes recusamos o alimento para esta vida. Jesus alimentou a multidão faminta com o pão físico antes de pregar-lhes acerca do pão espiritual (Jo 6.11ss). Os homens não têm muita probabilidade de sentirem sede pela água da vida enquanto estiverem assoberbados pela sede física. Noutras palavras, se os cristãos não mostrarem nenhuma solicitude para com as necessidades físicas e sociais básicas dos homens, neste caso não poderão esperar uma resposta muito positiva da parte deles para sua mensagem espiritual. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A BELEZA DO SERVIÇO CRISTÃO - Lição 7

Na atualidade a expressão "Ministro do Evangelho" tem se distanciado do seu campo semântico original, pois a palavra "ministro" vem do mesmo termo grego que traduzimos por diácono. Nos tempos hodiernos muita gente que ostenta esse título tem se achado no direito de reivindicar muitas regalias, pois, se vêem mais como príncipes do que como servos de Deus e da igreja de Cristo. Numa certa ocasião alguns grupos da igreja de Corinto manisfestaram partidarismo em favor de alguns líderes, uns de Paulo outros de Apolo, entrentanto, o apóstolo Paulo reagiu duramente contra tal concepção, "Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o Senhor deu a cada um ? (I Co 3.5). Paulo referiu-se a sua pessoa como ministro cinco vezes e diversas vezes chama os seus colaboradores de ministros. O termo aparentemente enfatiza o papel de servo e pregador. O papel dos líderes espirituais é preparar os santos para o "serviço" (Ef 4.12). Espera-se que todos os santos ministrem. Entendo que o próprio desenvolvimento da nossa fé depedende da forma que conceituamos e vivenciamos o termo "servo". Uma profunda compreensão desse termo nos permitirá encontrar a nossa verdadeira identidade. O Serviço cristão nos proporciona alcançar as satisfações mais profundas da alma.
Nos capítulos 25 a 32 de êxodo, achamos Moisés, o servo do Senhor, no monte, onde recebeu instruções da parte de Deus quanto à construção da habitação do Senhor (Tabernáculo). Se nós queremos ser úteis do Senhor, construir algo de valor na igreja local, fazer o serviço do Senhor segundo o plano de Deus, é imperativo que fiquemos em comunhão com Ele. Neste capítulos Deus chamou os obreiros empregados na construção do Seu santuário. Todos tinham capacidades diferentes e funções variadas. Na família de Deus todos são filhos. Cada cristão é um verdadeiro filho de Deus. Quanto à nossa posição em Cristo, somos todos iguais (Gálatas 3.26-28). Na igreja local, porém, há distinções. A igreja local não é uma sociedade sem classes, mas é um organismo composto de muitos membros com posições e funções de diversas e distintas. Na igreja primitiva havia apóstolos e profetas, os quais não existem mais hoje, mas ainda há presbíteros, diáconos, mestres da Palavra e evangelistas. Deus, por intermédio do Espírito Santo, tem distribuído dons à igreja e tais dons devem ser controlados pelo mesmo Espírito e exercidos em ampr (Ef. 4.11-15; I Co 12.4-11). Os dons são diversos e há distinções entre os irmãos, mas nunca deve haver divisões. Todos os membros devem funcionar no lugar escolhido por Deus, em harmonia e para o bem-estar do corpo, como um todo. O Tabernáculo era a habitação de Deus e só Deus tinha competência de escolher os servos. (Êx 31.1-2) estes versículos nos ensinam que Ele tem o direito de chamar quem Ele quiser e quando Ele chama não há dúvida, pois Ele chama pelo o nome. Não podemos chamar ninguém para trabalhar na obra, se antes Deus não tiver chamado essa pessoa. Antes de tudo devemos orar (Mt 9.37-38). Não é nossa prerrogativa escolher o nosso próprio serviço ou ministério. Moisés queria servir ao Senhor e, certa ocasião, vendo as necessidades existentes entre o povo de Israel, agiu precitadamente e, em vez de ajudar, ele agravou mais a situação e o sofrimento do povo (Êx 2.11-15). Foi um caso do homem certo agir no momento errado. Deus tem o direito de chamar a quem Ele quiser. Ele é Soberano, Ele é o Oleiro. E que direito temos nós de recusar quando Ele ordena? Quando a ordem do Senhor veio a Moisés de maneira tão clara, Ele pretextou a sua incompetência e levantou muitos obstáculos. Aprendamos que, antes de Deus chamar alguém, já o capacitou para fazer a obra e, com a ordem, Ele fornece a força necessária para a executar (Mc 3.1-6). Deus tem um plano para cada vida entregue a Ele e tem um serviço para cada filho Seu. Deus Escolheu Pedro para trabalhar entre os judeus, Paulo para evangelizar os gentios, Ele enviou Barnabé para servir na ilha de Chipre e mandou Tito para trabalhar em Creta. “Cada um tem uma função. Não há membro supérfluo no corpo de Cristo. Cada membro, irmão e irmã, é necessário. Portanto, o irmão ou que pensa não ter utilidade, precisa lembrar-se que é necessário. Não pode ficar inativo sem prejudicar o corpo inteiro” (R. E. Watterson). Vários nomes são mencionados em Êxodo 31. Bezalel é o primeiro e o nome do pai e do avô também são incluídos. Uri significa “uma sombra” ou “uma luz” e Hur significa “linho”, enquanto que Bezalel significa “na sombra de Deus”. O primeiro tem a idéia de iluminação ou dedicação; o segundo, de santificação e o terceiro de comunhão. São qualidade necessárias e indispensáveis em qualquer servo do Senhor. Bezalel é a primeira pessoa nas Escrituras a ser descrita como uma pessoa cheia do Espírito Santo. A obra de Deus precisa ser feita no poder de Deus (! Co 2.1-5). A obra de Bezalel era importante. O Tabernáculo era a sombra de coisas ainda futuras e, em particular, uma figura do Senhor Jesus. Tudo o que Bezalel ia fazer refletiria a Pessoa de Cristo (é exatamente aqui que encontramos a máxima da beleza do serviço cristão); por isso, ele precisava ser um homem cheio do Espírito de Deus. Por essa mesma razão, nós devemos depender deste mesmo Espírito. Muitas vezes ficamos preocupados com aquilo que Deus quer fazer através de nós e esquecemos que a maior obra é aquilo que Deus deseja operar em nós. Veja a ordem em Gálatas !.15-16).