sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A ORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO – Lição 2

A prática da oração é uma atividade sempre enfatizada nas páginas das escrituras, a começar pelos primeiros livros do Antigo Testamento. Antes da queda, Adão se comunicava com Deus de forma direta e pessoal, porém, o pecado o impossibilitou de continuar usufruindo desse livre acesso a Deus. A Bíblia silencia sobre o fato de Adão ter praticado alguma forma de oração, por outro lado diz em Gênesis 4.26 "E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do SENHOR" . è óbvio que essa expressão não quer dizer que os homens começaram a orar a partir da geração de Enos, isso nos revela que o próprio Adão teria instruído aos seus descendentes acerca da importância da oração, cuja a ênfase maior foi dada a partir dessa data, temos ai o estabelecimento do marco divino sobre a necessidade que os homens tem em exercitar a oração para que possam manter contato com Deus.

Os patriarcas de Israel tinham na oração sua principal arma de superação. Podemos citar Abrão no cap. 15 de Gênesis. Deus havia prometido para Abrão que ele seria pai de uma grande nação, porém, alguns anos tinham passado, Abrão tinha envelhecido e agora parecia um tanto fragilizado para continuar crendo na promessa de Deus. Nesse contexto de ansiedade e frustração Abrão entra na sua tenda para orar, e antes que ele apresente suas queixas, Deus procura fortalecer o coração dele: "Depois destas coisas veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão" Gn 15.1. Abrão estava tão frustrado que já estava fazendo planos na contra-mão do projeto que Deus já tinha estabelecido. No v. 5 Deus convida Abrão para sair da tenda e caminhar com Ele, e então, mostrar-lhe que a promessa permanece firme. Aprendemos com esse episódio bíblico que no Antigo Testamento a oração não se baseava apenas numa forma litúrgica pré-definida, porém, numa experiência profundamente existencial, na qual os indivíduos também tinham a oportunidade de expressar os mais profundos dilemas da sua própria existência, para que o próprio Deus pudesse lhes proporcionar as respostas que pudessem resolver suas crises existenciais e espirituais. Em situação semelhante temos também o caso de Jacó, que sentindo-se ameaçado por uma possível vingança da parte do irmão Esaú, desceu ao vale de Jaboque para reivindicar a proteção e o livramento do Senhor.

A oração nos ministério profético do Antigo Testamento possuía um aspecto bem mais abrangente do que as próprias necessidades do profeta. Os profetas tinham a oração como um recurso para chamar a atenção de Deus em relação aos problemas morais, éticos e espirituais do povo de Deus e da sociedade como um todo. Sua oração reivindica o estabelecimento da justiça social e da submissão a verdade de Deus por parte dos homens. Pelo fato do profeta ser um homem de ação e não um intelectual teórico, o elemento intelectual na oração profética ocupa um papel secundário. O profeta é um indivíduo que confia na possibilidade da sociedade ser totalmente transformada pela palavra de Deus. Suas orações refletem sempre esta problemática. Ele clama ao Senhor, pedindo que aja com justiça no meio da injustiça dos homens. Suas orações sempre refletem uma aguda preocupação pelo bem-estar social do povo entre o qual encontra-se inserido. Moisés foi um grande exemplo de altruísmo, o qual intercedeu pelo povo de uma forma tão contundente, que o fez chegar ao extremo da apelação, ao dizer para Deus que se Ele não perdoasse e poupasse o povo da destruição, então que tirasse o nome dele o "livro da vida". Apesar de parecer chantagem e ousadia da parte de Moisés, Deus não julgou dessa forma, pois viu naquele profeta um homem que amava extremamente o seu povo, e que estava disposto a abrir mão dos seus privilégios para ficar ao lado desse povo. A ousadia de Moisés se fundamenta no fato de que ele confiava muito no poder da intercessão.

Outro grupo importante nesse contexto são os sacerdotes. Estes personagens são fundamentais para o desenvolvimento da religião judaica. Os sacerdotes tinham por missão regulamentar os sacrifícios e dar respostas a quem vinha consultar a Deus. Usavam para este efeito meios apropriados, como os Urim e os Tumim, espécies de dados que o sacerdote leva num avental guarnecido de bolso. A decisão conseguida mediante Urim e Tumim era chamada Tôrah, lei. O sacerdote era intermediário entre o povo e a divindade. O cargo sacerdotal transmitia-se hereditariamente. O Antigo Testamento conhecia famílias e mesmo dinastias de sacerdotes, como a dinastia que Eli fundou em Siló, ou Aimeleque em Nobe (I Sm 21 ). Os sacerdotes desempenhavam a missão do culto oficial, isto é, do conjunto de orações e de gestos simbólicos que visavam conservar a santidade. Centralizava-se o culto em torno do sacrifício, que é uma oblação feita a Deus. Os particulares ofereciam sacrifícios para expressar sua gratidão, para pagar um voto, para conseguir a remissão duma culpa, ou para apoiar uma súplica. A oração dos sacerdotes conserva as características das orações dos profetas. Além disso ela possui suas próprias características. Geralmente, a oração sacerdotal é feita em público. Por este fato, ela não é mística, nem profundamente pessoal, ou intelectual. Isto só seria possível numa congregação altamente instruída. Ela também não é essencialmente profética, pois não abrange assuntos mais vastos à justiça social. A oração sacerdotal funciona como forma de exortação. Por causa de seu caráter público, tende a ser ritualística em sua natureza.

Um dos grandes símbolos da oração no antigo testamento é o Altar de Incenso. A todos os sacerdotes era permitido ministrar diante do altar de incenso, mas as escrituras salientam mais o ministério do sumo sacerdote diante daquele altar. Assim, a ênfase principal deste altar é a mediação do nosso Senhor Jesus como Sumo Sacerdote, pois a nossas orações só serão aceitas por Deus se forem feitas no nome de Jesus. O altar de ouro ou de incenso representa Cristo como Sacerdote e nós nos alegramos em saber que Aquele que é o nosso Sacerdote é homem. Ele é humano, O Nome dEle é Jesus. Ele conhece o nosso mundo. Ele esteve aqui. Ele passou por todas as circunstâncias nesta vida. Outro elemento de grande importância aqui é o incenso que ali era queimado. As instruções divinas alusivas à composição do incenso eram muito rigorosas e pormenorizadas (Êxodo 30.34-38). Das Escrituras aprendemos que os ingredientes usados eram de qualidade rara e preciosa; havia proporções iguais e os ingredientes misturados constituíam uma fórmula que não era permitido imitar; as diversas especiarias deviam ser moídas e pisadas e convenientemente preparadas para o incenso ser queimado no fogo. Aqui temos uma tipologia que aponta para o tipo de oração eficaz. Para que as nossas orações agradem a Deus precisamos cultivar uma vida cujos os princípios estejam em harmonia com a Palavra do Senhor. Jesus disse: "Se vós estiverdes em mim e as minhas em vós, tudo que pedirdes vos será feito". Quando reconhecemos a Jesus como Salvador e Senhor de nossas vidas e procuramos viver uma vida de humildade e submissão a palavra dEle, nos tornamos habilitados para apresentarmos orações agradáveis diante do altar do Senhor, as quais subirão como cheiro suave até as narinas do Eterno Deus, assim como acontecia com o incenso que era queimado no altar.

Quero concluir essa reflexão mencionando uma das mais belas e poderosas orações do Antigo Testamento. O autor dessa oração não é um personagem bíblico famoso, pois talvez muitos cristãos nem sequer lembram ter lido ou ouvido falar sobre dele. (I Crônicas 4.9-10) "E foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; e sua mãe deu-lhe o nome de Jabez, dizendo: Porquanto com dores o dei à luz. Porque Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: Se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido. Segundo a Biblia Jabez foi um homem muito ilustre, e sua grande virtude é que ele era um homem, cuja a oração era eficaz. Observe que esse capítulo 4 de I Crônicas apresenta uma genealogia, geração após geração está passando, e entre todas elas devem ter existido grandes guerreiros, administradores, construtores, sábios, oradores,porém, nenhuma dessas atividades foi mais importante do que a desempenhada por Jabez, buscar o sucesso por meio da oração. Olhando por essa perspectiva apreendemos sobre o alto pedestal que o Antigo Testamento coloca a oração. Se queremos ser verdadeiramente exaltados pelo Senhor assim como foi Jabez, precisamos antes de qualquer coisa sermos obreiros com um ministério de oração eficaz. Existem muitos que estão mergulhados em grande ativismo, seja em ministérios de pregação, de ensino, administração de igrejas, empreendimentos, e tantas coisas nas quais buscam reconhecimento e até mesmo eternizarem os seus próprios nomes. Todavia, estão se esquecendo que é por meio de uma existência humilde, que muitas vezes passa desapercebida das pessoas aqui, mas que alcança uma grandeza imensa diante do Senhor. Existem muitos Jabez por ai que estão sendo desprezados e desvalorizados, que não atraem a atenção de muita gente, mas sobre estes, o próprio Senhor vai dizer um dia: " E foi Jabez mais Ilustre do que todos os seus irmãos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário