A natureza essencial da apologética pode ser observada a partir da teologia cristã e a situação intelectual de sua época. “Justino Martir, apologista do século II, combinou o conceito estóico de logos com a idéia bíblica da palavra de Deus. Os Teólogos Alexandrinos Clemente e Orígenes acharam terreno comum na filosofia platônica, assim como Agostinho. Tomáz de Aquino fez uso de Aristóteles. Partindo de terreno comum, o objetivo dos apologistas era sempre o de recomendar a verdade cristã ao mundo pagão, utilizando todas as evidências da história e da natureza humana à sua disposição. Quando o cristianismo tornou-se a religião majoritária no Império e deixou de ser uma minoria lutando num mundo pagão, a apologética trabalhou para clarificar o caráter razoável da fé cristã aos que já criam, sustentando que é perfeitamente razoável aceitar os relatos bíblicos do cristianismo. Depois da Reforma, a apologética tornou-se a defensora da ortodoxia cristã contra os ataques do deísmo, racionalismo, naturalismo, materialismo e outros. Ao mesmo tempo, porém a apologética foi colocada na posição defensiva por causa das descobertas das ciências naturais e da ciência histórica. "A apologética trouxe descrédito a si própria ao procurar por Deus nas lacunas de nosso conhecimento histórico e científico moderno, tendo que recuar constantemente de um posto avançado para outro, até que por fim já não havia mais território significativo para defender”.(Dogmática Cristã,Vol.1 Pg35).
O período patristíco se caracteriza pela história da patrologia da igreja. Apesar da diversidade de opiniões este foi sem dúvida um momento muito propício para se formar uma verdade substâncial em assuntos vitais para a teologia.
Conforme J.N.D. Kelly em sua obra “Dogmas Centrais da Fé Cristã” nos apresenta a seguinte avaliação do período patrístico, através da qual podemos perceber características muito importantes que vai nos dar as fortes características apologéticas dos pais da igreja. “Duas importantes linhas divisórias, uma vertical e outra horizontal, atravessam o período. A primeira é a diferença de temperamento teológico entre o Oriente e o Ocidente. Por razões históricas, Roma e as igrejas imediatamente associadas a ela (Gália, Espanha, Norte da África, etc.) desenvolveram-se relativamente independentes das igrejas orientais, e isso se reflete em seus credos, liturgias e atitude doutrinária. Enquanto os teólogos gregos são em geral intelectualmente ousados, tendendo à especulação, seus colegas latinos, com exceção daqueles sujeitos às influências orientais, parecem, pelo contrário, cautelosos e prosaicos, limitando-se a expor a regra tradicional de fé. Como exemplo extremo dessa diferença basta justapor os conceitos de teologia sustentados por 1) Irineu e Tertuliano, e 2) Clemente e Orígenes, na segunda metade no segundo século e na primeira metade do terceiro. Nutrindo profundas suspeitas em relação a filosofia, sendo até hostís a ela, os primeiros limitaram a função da teologia à exposição das doutrinas apresentadas nas Santas Escrituras; elogiavam os cristãos simples que se satisfaziam com a regra de fé. Por outro lado, Clemente e Orígenes chegaram ao ponto de distinguir dois tipos de cristianismo, a que correspondiam dois graus de cristãos. O primeiro tipo, inferior, baseava-se na “fé”, isto é, na aceitação literal das verdades declaradas nas Escrituras e do ensino da igreja, enquanto o segundo tipo, superior, era descrito como “gnosis”, isto é, uma forma esotérica de conhecimento. Esse tipo começava com a Bíblia e a tradição, aliás, baseava-se nelas, mas esforçava-se por trazer a tona seu sentido mais profundo e, à luz disso, explorar os mistérios mais profundos de Deus, de Seu universo e do plano da salvação; supunha-se que isso devia culminar em contemplação mística ou êxtase. Desse modo, eles dividiam os fiéis em simples crentes, a quem tendiam a desprezar, e homens “espirituais” ou “perfeitos”, a quem consideravam especialmente privilegiados por Deus.
A linha divisória horizontal coincide com a reconciliação entre a igreja e o império efetuada por Constantino I (306-337), cujo o símbolo foi o Concílio de Nícéia (325). Antes disso, a igreja era um corpo perseguido, que lutava para se adaptar a seu ambiente e derrotar inimigos como o gnosticismo. É um mérito da igreja que, apesar de todas as dificuldades, ela tenha conseguido produzir grandes teólogos construtivos como Irineu e Orígenes. Com a acessão de Constantino, porém, a situação mudou radicalmente. Daí por diante, com exceção de um rápido interlúdio, quando Juliano foi o único imperador (361-363), a igreja desfrutaria o favor muitas vezes embaraçoso do Estado. A era intensa de controvérsia eclesiástica havia começado, e os concílios de bispos tornaram-se instrumento adotado para definir o dogma. Na verdade, a teologia cristã estava entrando em período de esplendor, e as definições conseguidas a custo neste contexto de controvérsia e, muitas vezes, de rivalidades nada edificantes, iriam revelar-se de valor duradouro.
Entretanto o fato mais importante de tudo é o fato de que a igreja dos pais foi colocada no ambiente cultural complexo do Império romano. Isso significa que, embora fosse baseada em suas próprias fontes singulares de revelação, a teologia cristã não foi moldada dentro de um vácuo. A atmosfera em que ela teve de crescer e desenvolver estava repleta de noções religiosas, filosóficas e até teosóficas. Ela reagiu com violência contra algumas; e foi consciente ou inconscientemente afetada por outras. Para quem espera apreciar de forma adequada a evolução do pensamento patrístico é indispensável certa familiaridade com esse ambiente.
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