O TEÓLOGO E APOLOGISTA IRINEU
“Irineu veio da Ásia Menor, onde na juventude fora aluno de Policarpo de Esmirna, que, por sua vez, tinha sido discípulo de João. Sua teologia, além disso, exemplifica a tradição joanina associada à Ásia Menor. A maior parte de sua vida, no entanto, passou no ocidente. Tornou-se bispo de Lyons por volta de 177, e ali permaneceu até sua morte ( no início do terceiro século).
O principal objetivo da obra teológica de Irineu era defender a fé apostólica contra as inovações gnósticas. A gnose de Valentino foi a maior ameaça ao cristianismo, em sua opinião, pois ameaçava a unidade da igreja bem como procurava destruir a distinção entre o cristianismo e as especulações religiosas pagãs.
Irineu era um teólogo bíblico no verdadeiro sentido do termo. Enquanto os gnósticos buscavam a revelação em sabedoria oculta que, ao menos, em parte, era independente da Bíblia, em mitos e sabedoria de mistérios, Irineu afirmava ser a escritura a única base para a fé. O Antigo e Novo testamento eram os meios pelos os quais a revelação e a tradição original nos atingem. Além do Antigo testamento, que julgava ser, acima de tudo, o fundamento da doutrina da fé, Irineu faz referência a uma coleção de escritos do Novo Testamento, que considerava de igual autoridade e que, em traços gerais, é o mesmo cânone hoje aceito. A Palavra “Testamento”, naturalmente, não era empregada neste texto. O canône ainda não tinha sido formalmente determinado. Alguns dos escritos neotestamentários eram considerados demasiadamente controversos; eram aceitos como canônicos em alguns círculos, enquanto em outros sua autoridade apostólica era posta em dúvida. Em traços gerais, no entanto, os limites do cânone do Novo Testamento já tinham sido definidos mesmo antes da época de Irineu. O modo como ele emprega os escritos do Novo Testamento demonstra, até certo ponto, este fato.
Irineu nada diz sobre a diferença entre Escritura e tradição que apareceu mais tarde no campo da dogmática. A tradição oral que cita como tendo autoridade decisiva era o que apóstolos e profetas ensinavam, e que confiaram à igreja, e fora perpetuado nela pelos que tinham recebido o evangelho dos apóstolos. Com relação ao conteúdo, isto nada era além da proclamação conservada em forma escrita no Antigo e no Novo Testamento. Os gnósticos, por usa vez, deturpavam os ensinamentos da Bíblia fundamentando-se em tradições que não procediam dos apóstolos. Em passagem bem conhecida (Adversus haereses, III, 3, 3) Irineu se refere à cadeia ininterrupta de bispos romanos, começando com a época dos apóstolos, para demonstrar que era a igreja – e não os heréticos – que tinha preservado a tradição correta. Seria erro, contudo, procurar ver nesse texto o conceito de sucessão apostólica desenvolvido posteriormente. Irineu, em última análise, estava preocupado, em primeiro lugar, com conteúdo doutrinário e não com teorias sobre ordenação.
O ponto interessante da teologia de Irineu, dentro do nosso contexto apologético, é observado no fato, de que, ele tinha como alvo principal apresentar o plano da salvação de Deus desde a criação até o cumprimento final . O Tempo, em sua opinião, era época limitada; principiou com a criação e terminará com o cumprimento. Em ambas as extremidades circunda-o a eternidade. Ë dentro deste contexto do tempo que a salvação ocorre. Dentro deste contexto Deus realizou as ações testemunhadas pelas escritura, e das quais depende a salvação dos homens. Para os gnósticos a salvação não era algo que realizava dentro da história; era uma idéia, um sistema especulativo que supunha poder a alma elevar-se acima do temporal e reunir-se com sua origem divina mediante a gnose. Para Irineu tudo isto era história real, cujo cumprimento se esperava para o fim dos tempos. A diferença entre a cosmovisão grega e o conceito cristão de tempo evidencia-se nestes pontos de vista opostos.
A criação fazia parte do plano divino da salvação. O Filho de Deus, o salvador, estava presente antes do princípio do tempo em seu estado preexistente. O homem foi criado para que o Salvador não estivesse só, de modo que houvesse alguém para salvar. Tudo foi criado mediante o Filho e para o filho. A salvação foi realizada pelo mesmo motivo porque Deus criou: a fim de que homem pudesse ser semelhante a Deus. O homem foi criado a imagem de Deu, mas, como resultado da queda, essa semelhança foi perdida. O significado da salvação é tornar possível ao homem concretizar seu destino mais uma vez, a saber, que o homem possa tornar-se a imagem de Deus segundo o protótipo discernível em Cristo. O homem se encontra no centro da criação. Tudo o mais foi criado para o homem usar. Mas o homem foi criado para Cristo e para tornar-se como, que é o centro de toda existência, Aquele que abrange tudo no céu e na terra. (Cf. Adversus haereses, V.16,2).
A salvação para os gnósticos, consistia em libertar-se o espírito do homem da criação, do mundo material e retornar à pura espiritualidade. Para Irineu, no entanto, salvação significava que a própria criação seria restaurada a seu estado original, que a criação finalmente atingiria o destino que Deus lhe reservara. Em outras palavras, salvação, para Irineu, não significava que o espírito do homem se libertaria de suas cadeias materiais, mas em vez disso, que o homem inteiro, corpo e alma, seria libertado do domínio do diabo, retornando a sua pureza original e tornando-se como Deus.
A idéia básica da apresentação de Irineu do plano da salvação é que a Obra da criação foi restaurada e recapitulada na salvação realizada por intermédio de Cristo. Em oposição aos gnósticos, que julgavam consistir a salvação no livramento do espírito do mundo material, Irineu insistia que Deus e homem, corpo e alma, céu e terra, são capazes de ultrapassar a ruptura provocada pela invasão do pecado e serem reunidos novamente. Isto, para Irineu, era o significado da salvação.
Irineu também desenvolveu sua cristologia em oposição ao ponto de vista docético defendido pelo gnosticismo. A obra da salvação pressupõe que Cristo é tanto verdadeiro homem como verdadeiro Deus. “Se os inimigos do homem não foram vencidos pelo homem, não podem ter sido verdadeiramente vencidos; além disso, se nossa salvação não procede de Deus, não podemos estar plenamente seguros que estamos salvos. E se o homem não se unisse com Deus, não lhe seria possível compartilhar a imortalidade”(III, 18,7; Cf. Gustav Aulen, History of Dogma, p.32). Encontramos aqui forte ênfase na humanidade de Cristo: um homem real tinha de andar na trilha da obediência a fim de que a ordem que fora destruída pela desobediência de Adão pudesse ser restaurada. Ao mesmo tempo, apenas Deus podia realizar a obra da redenção. Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. (vere homo, vere deus)”.
Ao analisarmos minuciosamente tudo o que foi dito acima, nos aclara cada vez mais a nossa mente, o fato, que o elemento apologético é a grande mola impulsionadora e motivadora deste teólogos patrístico, por nome de Irineu. O mesmo revela um propósito firme e determinado de combater todas as idéias gnósticas, que, procuram desfazer as principais doutrinas da fé cristã.
Estou verdadeiramente encantado com os texto lidos até agora, quero dizer que as publicações aqui existentes tem me ajudado muito com o curso que faço de teologia.
ResponderExcluirAgradeço, muito a todos e rogo as bençãos de Deus.