quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

QUANDO A IGREJA É PERSEGUIDA – Lição 8

Qualquer cristão com um mínimo conhecimento sobre a história do cristianismo, vai concordar com o fato de que embora as perseguições tenham produzido muitas tribulações para o povo Deus, por outro lado funcionou como instrumento de despertamento, obrigando a igreja a viver numa total dependência de Deus. Em períodos de perseguições a comunhão espiritual tende a ser aprofundada, as necessidades emergentes forçam os crentes a dedicaram mais tempo na vida de intimidade com Deus, orando mais, jejuando mais, se humilhando diariamente na presença de Deus, não dando espaço para o orgulho pessoal, egoísmo, competições e tantos outros comportamentos que se constituem em grande vexame para muitas igrejas da atualidade. O iminente perigo produzido por uma perseguição gera unidade na igreja, as pessoas passam a entender melhor o quanto precisam umas das outras, e assim cria-se um ambiente verdadeiramente propício para a prática e manifestação do amor cristão, e não apenas discursos retóricos e contrários à realidade, como temos visto em grande dos contextos evangélicos desse país. Quando a igreja passa a viver uma fé conforme os parâmetros ensinados por Jesus, ela incorpora a identidade do seu próprio Mestre. A Igreja perseguida é uma igreja cujos os membros sempre foram muito parecidos com Jesus, por causa disso alguns deles chegaram até mesmo a serem confundidos com Jesus.

Infelizmente temos que admitir a triste realidade, que nós cristãos, em épocas de refrigério e tranqüilidade apresentamos uma forte tendência para acomodação e muitas vezes desvios grosseiros da verdade. Podemos citar o exemplo clássico e negativo do Rei Davi, que após ter vencido todos os seus inimigos, estando agora vivendo no conforto do seu palácio, deixou de ir para guerra, acomodou-se, e na sua ociosidade se esqueceu de dar continuidade a sua comunhão com Deus, caindo de forma desastrosa. Há um ditado popular que diz o seguinte: "mente desocupada é oficina do diabo", isto é, a ociosidade é algo muito perigoso, pois, a realidade tem demonstrado que isso realmente acontece. As perseguições sempre incitaram o povo de Deus a se ocuparem mais com atividades de interesse da alma, do que propriamente com aquelas inerentes ao bem estar aqui neste mundo. A igreja de Roma, sobre a qual não temos como determinar quem teria sido seu fundador, porém, podemos destacá-la pelo fato de ter sido abençoada com a obra missionário, do grande apóstolo do gentios. Paulo esteve por dois na cidade de Roma, embora em prisões, ele estava evangelizando e ensinando a igreja que ali já existia. Essa igreja foi muito perseguida, muitos cristãos foram jogados nas arenas para serem devorados pelas feras e ao mesmo tempo servir de espetáculo para uma população pagã que odiava todos os cristãos. Para termos uma idéia do que realmente aconteceu com os cristãos do 1° século na cidade de Roma eu vou transcrever um extrato do livro "As Catacumbas de Roma" de Benjamim Scott; "Encarando a oposição ao Cristianismo manifestada no reinado de Cláudio, a circunstância, narrada por Paulo, de que ninguém assistiu a ele na sua primeira defesa, mas que todos o desampararam quando teve de comparecer perante Nero, a presença de Judeus não convertidos naquele mesmo lugar e tempo, e por terem os judeus não convertidos dito: 'o que nós sabemos desta seita, e que em toda parte a impugnam' cremos que os cristãos, tendo ainda em conta sua a sua própria segurança, começavam a buscar refúgio da antipatia popular, da oposição judaica e da oposição do governo romano nesses esconderijos subterrâneos que se estendiam pelo menos até quinze milhas de Roma na direção da Via Ápia. Isto, é claro, não passa de mera suposição; mas poderia explicar como esses irmãos puderam encontrar com Paulo a uma distância tão grande de Roma. A tempestade da perseguição aos cristãos, tão repetidamente predita pelo seu Senhor e Mestre, estava prestes a começar. Antes do fim do reinado sanguinário do monstro Nero, eles, sem dúvida, foram compelidos a refugiarem-se nessas covas e cavernas da terra... o primeiro caso bem fundado de perseguição ocorreu sob o reinado de Nero, cerca do ano 64 da nossa era, após a primeira visita de Paulo a Roma. Tácito narra minuciosamente as circunstãncias; e, sendo pagão, encara o grupo cristão debaixo desse ponto de vista. No décimo ano do reinado de Nero, a cidade foi incendiada, ficando quase totalmente destruída; o fogo durou oito dias e dos seus catorze departamentos somente oito escaparam. Tal foi a indignação do povo que acusava Nero de ter lançado fogo propositadamente, que ele, para se livrar da ira popular, atribuiu o crime aos desprezados cristãos."

Durante todo esse período a igreja se mostrou uma coluna inabalável, os cristãos viviam uma profunda comunhão com Deus e uns com os outros, por meio da fé enfrentavam os seus algozes como muita ousadia, não temendo até mesmo a morte. Sabiam que iam morrer, porém, tinham plena confiança nas promessas de Deus, pois, tinham a total certeza que o lar celestial lhes esperava, e lá eles haveriam de receber a coroa da vitória. Todavia, quando a perseguição terminou e veio o período em que o imperador Constantino declarou o cristianismo a religião oficial do Estado, a igreja acomodou-se uma estreita relação de acomodação com o poder político e social, e a partir daí começou a perder a sua identidade, e assim tem sido até, essa união de igreja e estado nunca deu certo. Hoje é a igreja evangélica que está ambicionando o mesmo troféu estatal que um dia pertenceu a igreja romana, o qual a levou a ruína.

Hoje muitos evangélicos reclamam de perseguição por parte do mundo não evangélico, é verdade que existem algumas formas de perseguição, porém, nenhuma comparação pode ser feita com os períodos em que a igreja enfrentou perseguição de verdade. O que existe na verdade nos dias atuais, é uma certa cumplicidade da igreja evangélica com a ética do mundo. Digo isto, porque tenho visto grandes igrejas evangélicas nesse pais, as quais arrecadam grandes somas em dinheiro, não tem uma obra social relevante, não dão assistência nem aos seus membros, porém, estão ávidas pelo poder político, pois, têm se empenhado bastante para eleger candidatos nos vários escalões do governo, e o pior é que não tem, nem se quer um projeto que vise alguns benefícios sociais. A preocupação está relacionada apenas com status político da instituição, demonstrar o poder político de suas lideranças que visam se utilizar do tráfico de influências para fazer o que bem entendem, e muitos casos até mesmo legitimar ações ilegais. Existem lideranças que querem construir prédios sem obedecer a legislação em vigor, utilizar som de forma abusiva, publicidade sem a devida legalidade, e quando são autuados como infratores se justificam diante da comunidade dizendo que as autoridades estão perseguindo a igreja. Isso não passa de um pretexto para justificar o erro e também para manipular as pessoas, ou em alguns casos apenas a mania de perseguição que muitos crente têm. Sem falar nos muitos empregados relapsos que ostentam o estigma de evangélico, todavia, não são fiéis nas suas obrigações para com seus subordinados e quando sofrem alguma punição ficam propagando que estão perseguidos porque são crentes. Que o Senhor tenha misericórdia! não confundamos as consequências dos nossos erros com perseguição.

2 comentários:

  1. Comentário de grande valia Pastor para a ebd de Domingo.Uma pergunta! Será que a igreja não é ensinada a manter sua identidade em épocas de refrigerio e tranquilidades, e enfrentar perseguições por amor a cristo como uma reação ja antecipada pelo proprio cristo. acredito que épocas de tranquilidade, levam ao conformismo e acomodação da Igreja. Qual será o mais nocivo a fé cristã.

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  2. Graça e paz irmão Jair, eu não diria que falta ensino nesse contexto, porém, a história tem mostrado que épocas de facilidades, tem faltado referências para o povo se espelhar, pois, a maioria das lideranças ficam embriagados com o poder e revestem de presunção, passando a se entenderem figuras ilustres que devem ser extremamente honrados. Esquecendo-se de são apenas servos e nada mais.

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