quinta-feira, 9 de abril de 2009

A IGREJA E O MUNDO SECULAR NA VISÃO DE BONHOEFFER

Bonhoeffer não aceitava a divisão que a igreja fazia entre o sagrado e o secular, dividindo o mundo em duas esferas, a sagrada e a profana. Ele queria levar Deus e a igreja de volta ao mundo secular. Porque somente assim Deus, poderia realmente se tornar o centro da vida, e de ser o limiar. Segundo Bonhoeffer a igreja costuma entender que certas pessoas, certas profissões, certos atos e certos livros são sagrados, enquanto os demais são profanos. As pessoas e as atividades dedicadas ao que seja sagrado serão mais elevadas do que as pessoas e as atividades associadas ao que seja profano. A vida que mais interessa ao religioso constitui-se num cenário de tensões e conflitos entre injunções religiosas e profanas. Quanto mais religiosa se presuma uma pessoa qualquer, tanto maior tempo e energia devotará ao que lhe pareça sagrado e tanto menos se disporá gastar-se pelo que lhe pareça profano.
Bonhoeffer Propõe “o santo mundanismo”, criando assim um conceito de aspecto paradoxal. “ Por isso se expressa assim: “A vida natural deve ser entendida simplesmente como preliminar para vida em com Cristo. Ë somente da parte do próprio Cristo que recebe sua valorização. O próprio Cristo entrou na vida natural, e é somente através da encarnação de Cristo que temos o direito de chamar outras pessoas à vida natural e a viver, nós mesmo, a vida natural”. Mesmo sabendo da transcendência de Deus, não devemos pensar que ele fora de alcance. “Isto é o porque o cristão deve aprender a viver o seu cristianismo e falar de Deus de uma maneira secular. A igreja não deve se preocupar com seus próprios interesses religiosos, mas servir o mundo. Ela tem que seguir o modelo de Jesus, “o homem para os “. Para Bonhoeffer é necessário que haja uma interpretação secular do cristianismo e da igreja.
Bonhoeffer afirma que os verdadeiros cristãos não podem cultivar o anti-mundanismo, o separatismo do mundo secular, como pretexto de apresentar uma pretensa piedade, porque na verdade, isto os caracterizará como mundanos no sentido estritamente pejorativo.
“por “mundanismo” quero dizer viver sem reservas nos deveres, problemas, sucessos e fracassos, experiências e perplexidades desta vida. Ao fazermos assim, lançamo-nos completamente nos braços de Deus, levando a sério, não nossos próprios sofrimentos mas, sim, os de Deus no mundo – vigiando com Cristo no Getsêmane. Isso, penso eu, é a fé; é a metanoia; e é assim que a pessoa se torna um homem e um cristão”
Lutero é citado por Bonhoeffer como tendo agido numa perspectiva do ideal secularizado para alcançar o seu propósito de independência da religião. “Lutero estava protestando contra um cristianismo que estava lutando em prol da independência e destacndo-se da realidade de Cristo. Protestava com a ajuda do secular e em nome de um cristianismo melhor. Assim também, hoje, quando o cristianismo é empregado como arma polêmia contra o secular, isto deve ser feito em nome de uma secularidade melhor, e, acima de tudo, não deve levar de volta a uma predominância estática da esfera espiritual como finalidade em si mesmo”.
Bonhoeffer defende um tipo de experiência polifônica para aqueles que têm uma visão secularizada da fé, e podem levar as suas vidas dedicando um intenso amor ao próximo e as causas justas.
“O que quero dizer é que Deus deseja que O amemos eternamente com a totalidade do nosso coração – não de tal maneira que fica ou enfraqueça nosso amor terrestre, mas para fornecer um tipo de cantus firmus está claro e nítido, o contraponto pode ser desenvolvido até seus limites. Os dois são “Inseparados e porém distintos”, nas palavras da Definição de Calcedônia, domo Cristo nas Suas naturezas humana e divina. Não é possível que a atração e a importância da polifonia da música consista em ser ela uma reflexão musical deste fato cristológico e, portanto, da nossa vita christiana? ...Somente uma polifonia deste tipo pode dar à vida uma pelnitude e, ao mesmo tempo, nos garante que nada de calamitoso pode acontecer enquanto o cantus firmus é continuado”.
A secularização proposta por Bonhoeffer não deve ser entendida como um total abandono a fé em Deus, em Cristo, ou até o exercício devocional. Tendo em vista que apesar de toda sua ênfase na vida presente, jamais negou a sua esperança quanto a vida futura. Todavia a sua intenção é não permitir que uma coisa absorva a outra, isto é, que o temporal negue a realidade da vida futura, ou o eterno negue o valor do temporal.

Um comentário:

  1. Não podemos realmente fazer esta distinção tão radical a ponto de ficarmos alheios ao pensamento das pessoas que não conhecem a Jesus. O que a Bíblia claramente ordena é que os discípulos de Cristo vivam no mundo como se não fossem do mundo no sentido moral, ou seja, deixar de praticar aquilo que contraria a santidade de Deus. A Palavra de Deus tanto ordena que nos abstenhamos de coisas ofensivas ao Senhor como nos ordena igualmente a envolvermo-nos com os não-cristãos exatamente para que eles sejam alcançados pela inigualável graça de Deus. Lembro-me agora de Adão no jardim após ter pecado, Deus não o abandonou, não deixou-o entregue ao seu pecado, ao seu "mundanismo" mas amorosamente o buscou para restaurá-lo à Sua comunhão. Parabéns pelo seu blog, tornei-me seu seguidor e gostaria que conhecesse os nossos Observatório Teológico - www.observateologia.blogspot.com e Blog do Discípulo - www.creioeunabiblia.blogspot.com que Deus abençoe sua vida e ministério.

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