quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A PLENITUDE DO REINO DE DEUS – Lição 13


Os temas relacionados com a escatologia bíblica são, sem sombras de dúvidas, os que mais apresentam dificuldades para a maioria dos ramos do cristianismo. Talvez seja porque a disciplina da escatologia é para os crentes como a matemática é para a maioria dos estudantes secundaristas. Devido a essa fama de “tema complicado”, a maioria dos cristãos têm demonstrado muito interesse para estudar esse assunto. Porém, vamos abordá-lo conforme nos impulsiona o tema referente a plenitude do Reino de Deus. Através da história do cristianismo foram muitos os momentos em que algum profeta apareceu para anunciar o final dos tempos. Pelo fim do ano 1000 também se esperava o fim do mundo, isto em razão de uma interpretação errada do trecho simbólico do Ap 20.1-10, mas também por causa  da decadência do Ocidente: século de ferro (900-1000), famílias ducais de Roma lutavam pelo papado. Os próprios judeus esperavam que a vinda do Reino fosse espetacular. Pegar-se-ia em armas para vencer o inimigo romano e Israel reinaria. Estrelas cairiam do céu, segundo a esperança apocalíptica.  A Palavra do Senhor não fornece nenhuma base para que sejam estabelecidas datas para o fim do mundo, pelo contrário, Jesus diz que ninguém sabe o dia, nem o Filho do Homem (Mt 24.42; Mc 13.32). A Bíblia condena, pois, a inclinação humana de determinar o dia em que o mundo findará. Também evita as descrições fantásticas comumente em uso. A sua descrição é sumamente moderada, em comparação com a visão apocalíptica de seu tempo. Toda a sua mensagem está concentrada no próprio fato de que Deus reinará. Vejamos o que nos diz Jesus sobre isso: Mt 24.29...Lc 21.25: “Logo após esses dias de tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará mais sua claridade, os astros cairão do céu, os poderes do céu serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem”. Como entender isso? Devemos ver isso como um gênero literário. Perturbação nos astros, disso já os profetas do AT falavam. Assim, Isaías descrevendo a queda da Babilônia fala das estrelas, do sol e da lua que não difundem mais o seu brilho (Is 13.9). A ruína de Israel é anunciada em termos semelhantes (o sol se porá ao meio-dia e a terra será recoberta de trevas);  e de Edom também (Is 34.4), como a do Egito (Ex 32.7) e os fenômenos são por sua vez preditos em Sofonias 1.14. Os autores bíblicos tinham um prazer em associar a natureza aos acontecimentos humanos; como cordeiros (Sl 113.4). É claro que aqui temos um sentido puramente metafórico e por que não o teria também em referência ao fim do mundo? Pedro (II Pe 3.7) diz que os céus e a terra que agora existem são reservados para o fogo no dia do juízo e da perdição dos ímpios”. Será este mundo destruído? Uma destruição por meio da bomba atômica e a de hidrogênio provocaria fenômenos semelhantes aos citados pelo apóstolo Pedro. O sol perde a sua energia, os pólos também degelam. No contexto da filosofia grega também existiam referências a destruição do mundo pelo fogo. Todavia, o mesmo Pedro que fala da destruição do mundo pelo fogo, também se refere a novos céus e nova terra (II Pe 3.13; Ap 21.1). Nessa perspectiva será mais coerente dizer que o mundo físico será transformado. Os seguidores do teólogo Orígenes, que diziam que o mundo corpóreo seria totalmente destruído subsistindo apenas puros espíritos, foram condenados pelo sínodo de Constantinopla (543 d.C). Na idade Média também havia gente que defendia a destruição total, como João Escoto Eriúgena e vários outros estudiosos afamados. Portanto, como compreender este novo céu e nova terra?  Embasado nas Escrituras podemos dizer que os redimidos pelo sangue do Cordeiro, os quais constituem agora o verdadeiro povo de Deus, em estado de glorificação, estão aptos para reinar com o Senhor Jesus, Paulo nos diz: “Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará;” II Tm 2.12. Algumas pessoas as vezes indagam sobre como será o ambiente depois da consumação, e então perguntam: “ existirá flora, fauna? O teólogo Tomás de Aquino nega simplesmente a existência de animais, plantas e corpos inanimados mistos, pois nada deles é incorruptível. Porém muitos autores modernos admitem tudo isso, pois isto concorre para ornamentar a natureza e deleitar os homens. Mas em geral os teólogos são muito reservados sobre isso.


CONSUMAÇÃO


Quando Jesus veio na plenitude dos tempos trouxe redenção para a própria natureza. os milagres não são intervenções de Deus pelas quais Ele perturba a ordem da natureza. Não eram também evidência da divindade de Cristo. Jesus Cristo nunca os fez para provar tal coisa. Os milagres são o sinal da presença do Reino em nosso meio. Não são o inesperado mais sim o esperado do Reino de Deus. Com a presença de Jesus a mente e o corpo do homem ficam sãos. Não há lugar para doenças no Reino de Deus. Os mortos são ressuscitados. Não há lugar para a morte no Reino de Deus. A tempestade é acalmada. Não há lugar para violência física no Reino de Deus. Jesus diz: O Reino está no meio de vós. Isto não quer dizer que há uma semente lançada em nossos corações. Isso é pietismo e individualismo. O Reino de Deus é objetivo e presente em Jesus Cristo. Quando olhamos para o fim à luz de Cristo começamos a perceber a filosofia da história de Paulo em Rm 8. O fim, de que fala o NT é o ajuntamento de céus e terra. Ap 21.22 "A habitação de Deus está com os homens. Com isto finda-se a ruptura entre céus e terra e a natureza é redimida da maldição. A Bíblia não nos fala só de Novo Céu. A Escatologia também não se refere apenas a morrer e ir para os céus. A Escatologia tem uma perspectiva horizontal. Esperamos a redenção da natureza e da terra. Por vezes o nosso pensamento está mais próximo do romanismo do que da Bíblia. Pensamos que a terra é apenas o palco onde se desenvolve o drama da alma. A terra é suja. O corpo é carnal e seu destino é o pó. A única coisa importante é a alma e o seu fortalecimento. Assim, quando o drama da salvação terminar tudo o que está acontecendo na terra não terá significação. Os céus ficarão e a terra será destruída numa conflagração gigante. Daí a história e a vida não ter significação. A única coisa que permanecerá será a eternidade celestial. Mas a Bíblia não pensa assim do Tempo, História e Eternidade. No decorrer da História o propósito de Deus está sendo levado a cabo. Aqui e agora o todo da natureza aguarda a consumação final. A ressurreição do corpo significa, pois, que também todo o contexto de nossa vida e da natureza será restaurado. Da criação de Deus nada se perde. Todas as novas esperanças e empreendimentos no fim se realizarão e terão significação porque serão eternizadas e permanecerão na presença de Deus. 


A IGREJA NO REINO ETERNO


O estado eterno do crente é vida através e com o Senhor Jesus Cristo: "E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho não tem a vida" (I Jo 5.11,12). A vida eterna não é simplesmente a existência eterna; todos os homens, justos e injustos, existirão eternamente. A vida eterna não se refere apenas à duração da vida, mas a sua qualidade. O cristão tem a vida de Cristo (Gl 1.20), porque possui Cristo em seu íntimo (Cl 1.27). A vida em Cristo é um bem presente do cristão, assim como sua esperança futura. Ela é chamada de estado futuro do crente apenas no sentido de que na volta de Cristo a vida eterna não mais será tirada (I Jo 3.2; Ap 2.10). No paraíso, reinando com Cristo em seu reino milenar, ou habitando a Nova Jerusalém, o crente permanecerá na presença de Jesus na casa do Pai. A vida na casa do Pai é assegurada pela promessa de Cristo de preparar um lugar para nós ali (Jo 14.2,3); a preparação que nos concedeu um lugar foi a obra expiatória de Cristo na cruz do Calvário. A morada eterna do crente será no eterno reino do nosso Deus. 

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