A definição de cultura não é tão simples como parece. Os antropólogos já criaram mais de trezentas definições. O conceito mais básico de cultura é relativo ao jeito próprio de as pessoas enfrentarem suas atividades cotidianas e perceberem o mundo em que vivem. "Este conceito refere-se a coisas muito concretas, como a forma de dormir, levantar-se, comer, beber, trabalhar, brincar, lutar, expressar amor, casar-se, criar e educar os filhos, adoecer, morrer, etc. Existem, por exemplo, várias maneiras de dormir. Nem todos dormem do mesmo jeito, usando cama, colchão e lençóis. Em muitas comunidades do interior, dorme-se no chão ou numa plataforma de barro com pelegos de carneiro. Na selva, como também em várias regiões do continente, usam-se rede e estrados de madeira". Os hábitos de higiene pessoal diferem muito de país para país. Sabe-se que os franceses não são muito achegados ao banho diário. Para disfarçarem os maus adores desenvolveram a maior indústria de perfumaria do mundo. Nós, brasileiros, nos
banhamos todos os dias; em alguns lugares, devido ao
excessivo calor, várias vezes ao dia. Já os escandinavos banham-se em saunas. Nos climas
frios nórdicos pouco se transpira, e a sauna produz artificialmente um ambiente em
que os poros se dilatam e o suor limpa a pele de bactérias mortas. Edward Taylor,
antropólogo norte-americano, assim definiu a cultura: Cultura, tomada em seu amplo sentido etnográfico, é o todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes,
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de
uma sociedade. Examinando os primeiros relatos históricos das civilizações
mais antigas, observamos que as sociedades transformavam em arte o que
primeiramente haviam criado apenas para atender suas necessidades mais básicas.
Além de caçar, os povos primevos buscavam desenhar suas aventuras nas paredes das
cavernas. Os potes de barro, inicialmente usados apenas para conter alimentos
e cozinhá-los ao fogo, passaram também a receber adornos. O mesmo processo
aconteceu com as roupas. Desde os tempos mais remotos, há nítida demonstração de que
as roupas não eram usadas apenas para cobrir e proteger o corpo. Elas adquiriram valores artísticos e estéticos,
expressando a criatividade própria das pessoas e de uma determinada sociedade. O clima, na maioria das vezes, pode determinar não apenas o
tipo, mas também as cores e até o material usado na Confecção de roupas. Nos
ambientes frios, as roupas não só escondem o corpo completamente, como adquirem
cores pretas e cinzentas, por serem as que melhor conservam as pessoas aquecidas. Nos climas tropicais, com fartura de sol, as Vestimentas são brancas ou
muito coloridas, além de
possuírem tecidos bem leves. A moda escocesa dos homens se
vestirem com saias de lã e grossas meias só tem sentido no clima do norte da
Europa. O deserto árido e seco obriga os árabes a se vestirem com
grandes blusões de algodão branco; já o clima tropical e úmido da Amazônia leva
os índios a andarem nus. Os vaqueiros nordestinos usam gibões de couro, mesmo
vivendo sob o sol causticante das caatingas, porque necessitam proteger-se dos
garranchos espinhosos da mata. As mulheres bolivianas, de forma igualmente
peculiar, vestem-se com várias camadas de roupas para se defenderem do frio andino. Não se pode atrelar qualquer valor moral a essas diferenças;
as pessoas não optaram por se vestir de certa maneira em razão de ser
moralmente depravadas ou mais santas que outras. Pode-se concluir, deste modo, que a
topografia e a vegetação são os fatores que exigem a utilização dos mais
diversificados tipos de vestes. Uma sociedade que veste pouca roupa, ou até nenhuma, não
sente vergonha de viver assim e não compreende porque outros povos (de clima
frio) precisam usar tanta roupa. Quando um europeu observa um africano trajando roupas
tão coloridas, ele também acha estranho. No Nordeste brasileiro é muito comum
homens calçarem sandálias. Já estive em congressos em que alguns pastores
compareceram às reuniões com uma chinela de couro. Esse comportamento seria
totalmente inaceitável num congresso de pastores nos Estados Unidos. E. A. Nida, em seu livro de antropologia missionária Costumes e Cultura, mostra porque é importante saber respeitar as diferenças culturais
no cumprimento do mandato missionário. ...estudos contemporâneos sobre os costumes e os valores
estéticos e morais dos tipos de roupas têm concluído que o uso de pouca roupa
por parte de certos povos pouco tem a ver com a moralidade de uma
sociedade. O que afeta a moralidade de uma sociedade é o desobedecer às leis
que determinam quais as roupas que podem e devem ser usadas
dentro daquela sociedade. Isso significa que a moralidade de um povo não pode ser
medida segundo as leis de nossa sociedade, mas sim, pelas leis particulares de
cada sociedade em si. A própria origem da palavra "roupa" fornece algumas
pistas para a compreensão de seu valor cultural. A
Enciclopédia Mirador mostra que
este vocábulo advém do século XII. "De origem portuguesa, 'roba' procede do
vocábulo germânico 'rauba', que significa 'saquear, roubar com violência'." Possivelmente as roupas, como despojo de guerra, valorizavam o guerreiro vencedor. As civilizações, portanto, criam roupas e adornos
específicos de acordo com os seus parâmetros próprios. Estes, por sua vez, são consoantes às suas próprias convenções sociais e podem ou não ser apropriados em outras
culturas. Há roupas e adornos característicos dos anciãos e das crianças que podem
ter relevância numa cultura, mas não significar nada em outra. Em determinadas tribos, os guerreiros se adornam para uma batalha pintando os olhos com uma cor,
enquanto noutras o ornamento de guerra é alguma pele de animal selvagem. No
Brasil, por exemplo, os militares possuem diversos tipos de vestes, uma para cada
ocasião específica. As noivas, em virtude da
cerimônia do casamento, também se vestem de maneira diferenciada; nossa cultura aceita que uma mulher se case de
branco, com grinalda, véu e muito bordado. Porém, se uma mulher se vestir com
roupa de noiva e for a uma cerimônia fúnebre, as pessoas certamente irão considerá-la
louca, pois, segundo nossos costumes, seu procedimento seria impróprio. Há roupas
específicas, inclusive para os sacerdotes. Desde as religiões pagãs da Babilônia,
Pérsia, Grécia até as dos índios mais primitivos, criaram-se roupas sagradas para uso
exclusivo dos sacerdotes. Na cultura judaica, a indumentária dos sacerdotes foi
meticulosamente detalhada no Pentateuco. Em Êxodo 28:1-6, Deus forneceu uma minuciosa descrição de
como o sacerdote deveria trajar-se. O próprio texto fornece o objetivo de se
usar roupas tão distintas das que usariam os demais judeus: Faze também vir para junto de ti Arão, teu irmão, e seus
filhos com ele, dentre os filhos de Israel, para me oficiarem como sacerdotes, a saber,
Arão, e seus filhos Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Farás vestes sagradas
para Arão, teu irmão, para glória e ornamento. Falarás também a todos os
homens hábeis, a quem enchi do espírito de sabedoria, que façam vestes para
Arão, para consagrá-lo; para que me ministre o ofício sacerdotal. As
vestes, pois, que farão são estas: um peitoral, uma estola sacerdotal, uma
sobrepeliz, uma túnica bordada, mitra e cinto. Farão vestes sagradas para
Arão, teu irmão, e para seus filhos, para me oficiarem como sacerdotes. Tomarão
ouro, estofo azul, púrpura, carmesim e linho fino... retorcido, obra
esmerada, (grifos do autor). A Igreja medieval tentou imitar o Antigo Testamento e vestiu
seus padres com vários tipos de vestes clericais. Havia, também, vestes
sacerdotais que distinguiam as hierarquias: o papa, os cardeais, bispos e padres. Na
Reforma Protestante, no século XVI, Lutero não reformou a liturgia tão profundamente, de
sorte que muitos pastores luteranos continuaram basicamente com os mesmos paramentos clericais. Calvino, por sua vez, entendendo que a função do sacerdote não era
mais sacramentai, resolveu vestir os pastores com as roupas dos juizes. As
togas dos pastores deveriam mostrar à congregação que as funções do homem de Deus no
púlpito eram de, à semelhança do que faz um juiz com as leis, interpretar e
explicar a Bíblia. Até para expressar luto, cada sociedade adota um tipo de
traje. No Brasil, devido à influência católica luso-italiana, veste-se de preto para
indicar a dor da morte. Alguns anos atrás, exigia-se que as viúvas trajassem roupas negras
e fechadas durante um ano; aquelas que violassem esse código social seriam
consideradas levianas. Já em Israel, para expressar luto, as pessoas vestiam-se com
roupas de saco e sentavam-se em cinzas. Na Índia, as mulheres quando choram os seus
mortos trajam-se de branco. Em Israel a cor roxa significava realeza; mas, no Brasil, durante anos essa foi a cordas casas mortuárias. A cultura é semelhantemente responsável, em qualquer
sociedade, pelos códigos comportamentais das pessoas. Criam-se regras que valem apenas em determinado círculo social. Dessa forma, fica impróprio um ancião
vestir-se com as roupas de uma criança, assim como um guerreiro trajar-se do mesmo modo
como se casou. Para sabermos se um homem está vestido com roupas de mulher,
precisamos ter conhecimento de como
a cultura em que ele está inserido determinou o que um homem e uma mulher devem vestir. No ocidente, um homem trajar-se com um
camisolão pode significar que ele queira travestir-se de mulher; na
palestina, contudo, será identificada apenas a sua tribo. Os cabelos longos e brancos podem
representar experiência, daí os juizes europeus usarem perucas quando entram nas cortes.
O cabelo raspado é um costume típico dos monges budistas, enquanto os judeus mais
devotos não cortam as franjas laterais de seus cabelos.Sendo assim, de acordo com as próprias regras de uma
demarcada sociedade, uma vestimenta pode ou não carregar valores morais. E. A.
Nida exemplifica: ...uma certa tribo indígena brasileira determina que as
mulheres devem usar como roupa um cordão em volta da cintura com outro amarrado
na direção oposta. Como brasileiros que so-mos, achamos que isso é
muito pouco para cobrir a nudez de uma mulher. Mas dentro daquela sociedade,
isso é suficiente. E não é imoral. Os homens não se sentem
perturbados por causa daquele cordão apenas. Mas, se uma daquelas mulheres sair
para o trabalho sem o cordão, ela estará cometendo um ato grandemente
imoral. As roupas nas culturas portuguesa e brasileira. Posso recordar vividamente de um congresso do qual
participei como preletor. Eu havia falado na noite anterior e interessei-me muito em
ouvir o preletor daquela noite. Ele também desenvolveria o tema do congresso: Santidade ao
Senhor. Considerado como um dos bons pregadores da nova geração dos avivalistas
brasileiros, interessei-me por ouvi-lo. Porém, bastaram alguns minutos
para que eu percebesse o rumo que ele daria ao seu sermão. Exemplificando com a vida da sua
jovem esposa que nunca tocara seus cabelos com uma tesoura e jamais havia vestido
uma calça esporte, ele redargüiu aos jovens: "Devemos ser santos." A ala
conservadora da igreja gritava glória a Deus, mas o meu coração chorou de tristeza. Saí da
reunião lamentando o futuro da igreja. Antes de querer agradar os mais
conservadores, ele deveria discernir o poder que a cultura exerce sobre nossos comportamentos e
saber que nossas raízes portuguesas, indígenas e africanas não são mais
pecadoras ou santas que as de qualquer outra nação. Os brasileiros falam, comem, vestem-se e agem de acordo com
a cultura brasileira. Tomemos, por exemplo, nosso idioma. Quem já foi
a Portugal sabe que o português que falamos aqui é diferente do de lá. Nossa
língua sofreu influências aqui que nos levaram a falar diferente de nossos antepassados
lusitanos. Os negros africanos nos ensinaram um jeito mais manso, carinhoso de
falar. Quando queremos saber de uma criança se um ferimento está doendo, não
perguntamos secamente: dói muito? Perguntamos: está dodói? Repetindo a palavra duas
vezes, suavizamos o seu sentido e nos comunicamos com ternura. Isso é muito
brasileiro. Nossa cozinha também tem um sabor singular. No Nordeste e
Norte do Brasil, nossos cardápios têm muita influência indígena. A farinha, a
rapadura, a carne-seca vêm da mesa dos nativos. Já na Bahia e em Minhas Gerais, há
muito da cultura africana nos pratos. O azeite de dendê, as frituras são dos
nossos pais africanos. Já no sul do país, os churrascos têm muita influência dos
pampas e da cultura européia que imigrou para o nosso país. Na cultura portuguesa as roupas adquiriram seus valores pela
fortíssima influência católica. Durante anos os portugueses trajaram-se de forma
bem conservadora. Há pouco mais de cem anos, as mulheres não podiam mostrar o
tornozelo, então considerado muito sensual; cobriam-se
completamente com saias, anáguas, meias grossas e mangas longas. Os homens trajavam-se de calças compridas (somente crianças
vestiam-se de calças curtas), com austeros casacos, fraques e coletes. Enquanto os ingleses, ao viajarem para os países tropicais,
vestiam-se de bermudas, os portugueses mantinham-se fiéis ás tradições de
se trajarem com roupas que eles mesmos consideravam recatadas. Mas, mesmo
mantendo-se conservadores quanto aos seus costumes e tradições, os portugueses sabiam
que há roupas neutras, as quais, por não designarem o sexo a que se destinam, podem
ser usadas tanto por homens como mulheres (chinelas, blusas, camisetas). Tanto um homem como uma mulher podem calçar chinelas de dedo
(tipo japonesa ou havaiana) sem experimentarem constrangimento; todavia,
convencionou-se que as sandálias com qualquer tipo de salto são sempre femininas.
Nenhum homem sente-se bem ao calçar uma sandália que possua salto alto. Há
detalhes que muitas vezes passam até despercebidos: a cultura portuguesa convencionou
que as blusas masculinas devem ser fechadas com botões no sentido da
esquerda para a direita, ao passo que as blusas femininas devem ser abotoadas no sentido
inverso. A cultura brasileira adotou muitos padrões comportamentais
do catolicismo português. Os homens, mesmo num clima tórrido, continuam
vestindo-se com paletós; as calças curtas ainda significam trajes infantis, e as mulheres seguem identificando nas longas saias sua feminilidade. Mas a cultura não é
estática, ela muda com o passar dos anos. Os brasileiros, depois, passaram a imitar a
moda francesa, que na virada do século era o que havia de mais moderno. Após a
Segunda Guerra Mundial, entretanto, os americanos passaram a dar o novo tom das
vestimentas. O mais típico exemplo são as calças jeans. Desde o século passado, o
índigo tem servido para confeccionar as roupas dos trabalhadores rurais da América
do Norte. Contudo, elas só se popularizaram como uma vestimenta resistente nos anos
cinqüenta, ganhando, a partir daí, o mundo inteiro; tornaram-se as vestimentas globais. Mas por mais forte que tenham sido as influências européia e
americana, há um resto de índio e africano em todos nós. Será essa a razão
por que temos uma forte inclinação para nos vestir com poucas roupas? Além do calor,
esse resquício indígena nos leva a chegar em casa e tirar as roupas pesadas e
sóbrias. Procuramos camisetas largas, calções frouxos. Queremos nos sentir mais à vontade.
Será que nossos antecedentes africanos não surgem, vez por outra, em nossa
indumentária colorida? Essa queda que o brasileiro tem pelo colorido não vem de
berço? (Livro "É proibido" Ricardo Godim.
No meu entender a cultura evangélica é a mesma da comunidade na qual essa ou aquela denominação está inserida. A postura extremamente dogmática de alguns grupos evangélicos têm proporcionado o surgimento não de uma cultura evangélica, mas de uma atitude que expressa algo que podemos denominar de contra-cultura. Isto se configura no fato de que a imposição de certos costumes por parte de algumas igrejas, os quais são justificados sob o pretexto de "Aparthaid evangélico" do mundo profano. Todavia, essa estratégia não sido eficaz para promover o desenvolvimento espiritual de tais igrejas, como muitos têm pensado. O rigor dos usos e costumes em muitas situações tem sido algo que beira ao ridículo, pois adeptos dessas igrejas seguem tais costumes de forma tão obcecada, que para eles a obediência a tais normas torna-se o fundamento da própria fé. A ênfase a essas práticas na verdade tem promovido a expansão da religião legalista, a qual se proclama "dona da verdade" e com prepotência condena e demoniza tudo que não for idealizado a partir do seu universo do "sagrado". Dicotomiza a vida em dois planos o "sagrado" e o "profano" (conforme suas próprias concepções), dessa forma confunde manifestações culturais com manifestações espirituais. Precisamos discernimento para tratarmos com elementos de uma cultura, pois neles, certamente estão presentes os maiores sentimentos e anseios dos indivíduos. Uma leitura adequada das culturas nos permitirá desenvolver uma antropologia eficiente que nos dará um conhecimento mais profícuo do Ser humano, o qual é o grande alvo da nossa missão. Desprezando a cultura dos homens estará provocando um distanciamento dos mesmos. Em alguns meios sociais ainda predomina o "Estereotipo" de que todo evangélico é uma pessoa ingênua. Existe uma música que procura expressar essa realidade, por meio do seguinte refrão "Eu sou crente, mas não sou besta não!", isso parece cômico, porém, se encaixa perfeitamente em alguns contextos, pois, o tratamento inadequado dado por alguns evangélicos as questões culturais, fez com que muitas pessoas passassem a julgar os evangélicos como fanáticos religiosos e indivíduos alienados no âmbito socio-cultural.
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