segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O TEÓLOGO ORÍGENES


Considerado um dos gênios mais poderosos não somente da igreja como também da humanidade. Na antiguidade cristã, somente Agostinho podia ser comparado a ele. É difícil dizer o que nele se deve admirar mais: se a extensão: se extensão e a força do saber, ou o entusiasmo, o fervor do homem, as qualidades religiosas do cristão, a alma de fogo do martir.

Na Realidade, não se trata de enumerar as obras de Orígenes. Parte de suas obras perdeu-se, mas existe fragmentos. As areias do Egito, vez por outra, oferecem-nos alguns farrapos. Citemos ao menos as hexapalas (ou Bíblia sêxtupla), empreendimento gigantesco no qual, em seis colunas, Orígenes apresentava o texto hebraico (em caracteres hebraicos e gregos) e as quatro versões gregas da Bíblia. Apesar do trabalho nunca ser reproduzido o único exemplar existente ficou em Cesaréia até a invasão dos sarracenos, no século VI. Eusébio e Jerônimo viram-no e consultaram-no.

A maior parte de suas obras é consagrada à exegese. Compõe de escólios, de homílias, de comentários.

Os escólios são simples notas explicativas sobre passagens ou palavras difíceis, e as homílias foram pregadas aos fiéis de Cesaréia. 574 sermões, somente temos registros de 240 que chegaram até nós. Os comentários são estudos mais extensos, de caráter científico, sobre os livros da Escritura. Não se possui nenhum deles por inteiro. Orígenes ai dá prova de uma erudição que abrange todos os campos: filologia, história, filosofia e teologia. Ele não se dtémno sentido literal, cujo significado perscruta melhor que ninguém; esforça por atingir o sentido espiritual, graças ao método alegórico, já utilizado por clemente.

Orígenes retoma os vários motivos cristológicos dos seus antecessores, dando-lhes no entanto um rumo diferente. Para ele Jesus é tudo. Portanto é impossível reduzi-lo a uma só concepção. É Deus e Filho de Deus, Palavra, sabedoria, Vida, mas também o Redentor, Médico, Primogênito dos mortos, etc. Vários títulos lhe são atribuídos por Ele ser o filho eterno do Pai, nascido antes da criação, e outros Ele ganhou por Ter-se tornado Homem em benefício da humanidade caída. É portanto possível distinguir na sua vida terrestre entre aquilo que fez ou disse como Deus ou como Homem, na base da sua “natureza divina” e na base da sua “natureza e condição humanas”. Nele, como primícias da humanidade nova, “há um entrelaçamento entre a natureza divina e a humana”. É aqui que Orígenes dá um rumo à idéia de Irineu de intercâmbio que mais tarde será de significação decisiva. Ele coloca a pergunta se Jesus tem ou não uma alma humana e responde que Filho de Deus assumiu inteiramente a condição humana, porque “não se salvaria se não tivesse assumido o homem total”.

Origenes concebe a salvação principalmente como contemplação do Pai que nos é dada através do Filho de Deus e que nos faz filhos junto com ele. Neste contexto, surgem constantemente idéias que mais tarde vão criar dificuldades. Pode-se dizer que a concepção de Orígenes é esta: O Filho eterno procede do Pai, como sua imagem e está ligado a Ele com toda a sua vontade. As almas, por sua parte, são criadas pelo filho como imagem; mas enquanto as outras almas o abandonaram, continuava alma de Jesus intimamente ligada à Palavra desde a eternidade; esta alma entrou na carne, não por infidelidade, mas por obediência a Deus. Forma-se assim um encadeamento de dependências descendentes que ao mesmo tempo constitui uma linha de adesão ascendente. O Pai se expressa na sua imagem eterna; esta se expressa como imagem na alma humana de Jesus e esta, por sua vez, no seu corpo; e vice-versa une-se a alma de Jesus contemplando e amando a Palavra que por sua vez, no seu corpo; e vice-versa une-se a alma de Jesus contemplando e amado a Palavra que por sua vez, ama e contempla o Pai. A alma humana de Jesus exerce o papel de mediador entre a Palavra e a carne. O caminho de nossa salvação está nisso: que aceitamos e imitamos a manifestação corporal da palavra, para assim aderir a palavra e finalmente chegar a contemplação do Pai. Nosso salvador tem em si todos os degraus deste caminho, em que ele se adapta às nossas às nossas forças: para uns ele é o leite, para outros um remédio, para os perfeitos a comida sólida da própria palavra.

Esse modelo cristológico, em que o Homem Jesus está ligado por amor ao Pai, coloca a pergunta se a união “Homem-Deus” é vista por Orígenes como uma “união moral”. Parece que sim, uma vez que para afirmar esta união ele lança constantemente mão do seguinte trecho da escritura: “Quem adere ao Senhor constitui com Ele um só Espírito”(I Co 6.17), e nos indica este tipo de união como exemplo. Isto implica que a distinção entre unidade do Homem-deus e a nossa união com Deus pela graça também são apenas graduais. Será que Orígenes abandonou a formulação tradicional “um e e o mesmo”. Não há dúvida de que Orígenes acentua a intimidade com Deus. A escritura fala do Filho de Deus com a condição humana que assumiu, que é superior à nossa união com Deus. A escritura fala do filho de Deus e do Filho do homem “não como dois seres mas como de um só. O Homem assumido não é “alguém distinto” da Palavra, eles “não são dois” mas uma “realidade composta”. Essa união é união real, não só união racional. Mesmo assim. Há um certo crescimento nesta união: a glorificação implica que o homem não é mais diferente da palavra, mas identificado com ela”.

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