O homem, em seu estado atual de inteligência, não tem tido condição de falar de Deus, a não ser em linguagem antropomórfica em que o homem atribui a Deus formas e características humanas, (antropomorfismo), ou por meio de antropopatismo (figura de linguagem que atribui a Deus sentimentos humanos). Independente da terminologia empregada, devemos ter a humildade de reconhecer que não temos condição de dizer coisas grandiosas sobre Deus, visto que Deus é indizível, continua diante do homem como o mistério tremendo e o mistério fascinante, que representa o maior desafio da mente humana. Considerando que até hoje, não obstante todo o progresso da ciência, o homem ainda não tem condição de dizer o que é a matéria, porque o átomo continua uma entidade misteriosa. Considerando, que o homem não tem grandes coisas a dizer sobre o espírito, que continua uma entidade enigmática, mesmo diante das máquinas mais sofisticadas que o homem tem inventado, seria uma descabida presunção da mente humana querer descrever Deus.
O apóstolo Paulo discerniu na sua carta aos Romanos, a qual a consideramos um tratado teológico sobre a doutrina da justificação, a grande dificuldade para o homem conhecer a Deus ao ponto de poder formular conceitos abrangentes acerca do Ser Divino. Esse texto de Rm 11.33-36 fundamenta a nossa abordagem de forma clara e obetiva: "O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." No primeiro século Paulo já possuía essa concepção, que continua com total validade.
Partindo do princípio de que todas as experiências humanas são finitas, o homem se refere a Deus como o Infinito. Considerando que a finitude humana tem a ver com o tempo e com o espaço, o homem considera Deus infinito em relação ao espaço, que significa, onipresente e infinito em relação ao tempo, portanto eterno. Nesse sentido, o conhecimento de Deus só nos é possível através da fé, que gera em nós a experiência mística, levando-nos a transcender os conceitos da linguagem, procedentes do raciocínio humano. Essa experiência imediata com Deus, uma vez obtida, é infalível, isto é, não pode ser expressa por meio de palavras, passando a fazer parte da verdade interior de cada crente, não pertencendo ao campo das discussões teológicas, mas ao campo da experiência religiosa, necessária a todo crente. A alma humana, como criatura de Deus, conhece a Deus na comunhão com o seu criador, mas esse conhecimento não comunicável racionalmente, portanto, não se constitui matéria de discussão teológica. Conhecer a Deus significa se identificar com Ele, adquirindo gradativamente, sua natureza. Isso acontece por meio da habitação do Espírito Santo no homem. Assim, o conhecimento de Deus se transforma em algo existencial, vivencial, experimental, que se dá a partir da transformação do ser e da maneira de existir, que resulta na participação de um ser maior que projeta o homem do tempo na eternidade.
Desse modo, o conhecimento de Deus jamais pode ser reduzido a mero conceitos, pelo contrário, trata-se de um conhecimento experimental e existencial que contribui para que a teologia sistemática tenha como fundamento a revelação divina, sistematizada na tradição dogmática, em que são construídas as verdade da fé cristã. A teologia sistemática não pretende nos apresentar o conhecimento de Deus, mas o conhecimento das verdade firmadas sobre Deus, a partir de sua revelação e da tradição dogmática, reconhecendo porém, que o conhecimento de Deus precisa ser intuitivo, místico e existencial, continuando, por conseguinte, misterioso, não somente tremendo, mas também um mistério fascinante.
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