quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A FUNÇÃO LIBERTADORA DA TEOLOGIA

"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeira-mente, sereis livres" (Evangelho de João 8.36).
Na minha concepção o texto supracitado expressa o principal fundamento da experiência religiosa. A maioria dos cristãos tem o hábito de interpretar o texto em questão ape-nas uma dimensão unicamente espiritual, al-guns entendem esta libertação aqui proposta, como processo que é alusivo ao desenvol-vimento espiritual, e um outro pensamento ainda mais limitado refere-se aqueles que entendem esta libertação como um fenómeno estático que o novo-converso recebe no ato de sua iniciação, num estalar de dedos como acontece no show de algum mágico. Eu entendo que a experiência proposta por Jesus é de uma extensão tão imensurável que é impossível para nós tentar compreendê-la no seu todo. Jesus coloca diante dos discípulos qual deve ser a real perspectiva da vida cristã, a qual se caracteriza por uma experiência libertadora. Sabendo disso somos induzidos a perguntar-mos, que tipo de libertação seria essa? qual a amplitude e dimensão dessa liberdade. Se observarmos o Ministério de Jesus por essa perspectiva, veremos que nos seus ensinos, Jesus projeta uma libertação holística, isto é, o seguidor do evangelho precisa experimentar a liberdade em todas as dimensões do SER. Somente nesse nível de experiência estaremos aptos para servir eficazmente no Reino de Deus. O Evangelho é a Verdade, e, é essa verdade que liberta do poder dos espíritos malignos, da escravidão do pecado, pois a Bíblia afirma que "todo aquele que comete o pecado, é escravo do pecado". O mundo no seu curso, usa de uma infinidade de metodologias para alienar as pessoas, a fim de privá-las de um relacionamento com Deus no qual elas possam desfrutar de plena liberdade. Os discípulos para os quais Jesus dirigiu estas palavras já haviam experimentado a conversão, porém a aceitação da fé é apenas o primeiro passo, a partir daí segue-se todo um processo de aprendizado que vai proporcionar uma libertação progressiva. É nessa trajetória que a teologia vai exercer a sua tarefa principal, que é clarear o caminho, evitando assim que venhamos a cair em algum precipício.
Já ouvi mais de uma vez alguns cristãos afirmando que apesar do preconceito que tinham pela frente, resolveram investir na formação teológica, e depois de algum tempo estavam agradecendo a Deus pelo alto nível de maturidade alcançado, passando a ter absoluta segurança para deixar de lado o jugo demoníaco e humano, passando a levar somente o jugo de Jesus, o qual é leve e suave. É provável que no passado algumas lideranças religiosas tenham se posicionado contra a teologia numa atitude de zelo e cuidado para com o rebanho, mas tanto nos dias passados como nos dias hodiernos, tal atitude tem como objetivo cativar as pessoas para que elas possam servir aos seus interesses, e assim esses tais procuram manter o povo afastado da teologia para mantê-los no cativeiro dogmático e ideológico, privando-lhes de experimentar a dimensão de liberdade proposta no evangelho.
Os Dogmas criados por algumas ideologias religiosas têm se constituído nos principais elementos de alienação desde o princípio da história da igreja até os dias atuais, trata-se de ideias que são impostas como verdades inquestionáveis, as quais uma boa parte dos adeptos de alguns grupos religiosos aceitam e praticam sem nenhuma reflexão que lhes proporcione um fundamento escriturístico para tal prática. É esse tipo de obediência cega que esses ditos líderes, os quais fazem questão de estarem sempre repetindo que foram chamados por Deus (como mais uma forma de intimidação), exigem uma atitude de total submissão pessoas, isto é, "crentes cabeças de largatixa", assim costumam definir os que se submetem. Essa frase expressa bem o tipo de relação que esses ditadores eclesiásticos desejam manter com os seus liderados, para desta forma manipularem as pessoas como bem entenderem. As vezes esses tais até levantam seminários em seus guetos denominacionais (igrejas), porém, não passa de fachada, é apenas para passar uma falsa ideia de que intencionam instruir o rebanho, ou, por outro lado, usar o ensino teológico de uma forma manipuladora para fortalecer suas ideologias de dominação.
A Teologia coloca em evidência a verdade que nos liberta dos temores infundados do misticismo. Uma vez ouvi um pastor evangélico dizer que muitas das crenças vivenciadas nos meios evangélicos no Brasil, não passavam de misticismo, e ainda ironizou com a seguinte expressão: " isso é um tipo de catimbó evangélico" . Infelizmente, está é a pura realidade, algumas igrejas estão cheias de gurus espirituais com status de profeta, os quais se sentem no direito de invadir a intimidade das pessoas no nome de Deus, e em muitos casos que já presenciei, arruinar a vida das pessoas. Sem falar nas igrejas dos amuletos e práticas ritualísticas que em muitas coisas se assemelham às práticas esotéricas e das religiões afro-brasileiras. Isso tudo é resultado de "analfabetismo bíblico", estamos vivendo um cristianismo sem Bíblia, ou melhor, literalmente falando, bíblias existem em grandes quantidades no comércio e até mesmo debaixo dos braços da maioria dos crentes, porém, o que falta é colocarmos a mensagem libertadora da bíblia no "coração". Em 1996 foi publicado no Brasil o livro "cristianismo em crise", o autor Hank Hanegraaff, ele era o presidente do instituto cristão de pesquisas na Califórnia, na capa do livro temos a seguinte epígrafe "um câncer está devorando a igreja de Cristo. Ele tem de ser extirpado!." A mensagem desse livro é um alerta contra um grupo de pastores carismáticos que se intitulavam "mestres da fé", e que com as suas teorias mirabolantes acerca da fé triunfalista, ficaram conhecidos no mundo inteiro e criaram impérios religiosos em seus países, entre eles, Kenneth E. Hagin, Benny Him, Morris Cerullo e outros. Tais pastores deram origem a um movimento que ficou conhecido na América do Norte como "O movimento da Fé". Quando nos inteiramos de uma realidade tão triste como essa, percebemos o quanto a falta do verdadeiro conhecimento do evangelho deixam as pessoas tão perdidas e fragilizadas, tão fáceis de serem enganadas, dando ouvidos a todo o tipo de vozes. A teologia se propõe capacitar-nos para conhecermos a voz do Mestre Jesus, porque o próprio Senhor disse "as minhas ovelhas conhecem a minha voz". É de fundamental importância para a nossa boa condição espiritual, no presente e no futuro, que dediquemos-nos ao estudo sistemático e minucioso da palavra de Deus, porque a cada dia que passa, surgem inúmeros "mestre" auto-proclamados, que não não passam de mercenários que têm como objetivo se apropriar do rebanho para tirar proveito. Porém, a experiência de alguns anos tem me mostrado que os cristãos que investem no estudo da palavra de uma forma incessante, não dão atenção as vozes desses falsos mestres, nem se rendem aos caprichos e ignorância de alguns sistemas denominacionais, cujos os líderes se acham no direito de invadir a privacidade das pessoas, querendo ditar normas quanto ao que cada pessoa pode vestir, comer, as formas de lazer e até mesmo forma de pensar da comunidade, trazendo opressão, conflitos e um grande dissabor para a vida de muitas famílias. Somente aqueles que têm experimentado essa dimensão libertadora da palavra de Deus, estão desfrutando da alegria e refrigério do Espírito Santo em suas vidas. Religiões, igrejas, lideranças, dogmas, ideologias podem funcionar como instrumento de alienação e opressão, porém, a proposta de Jesus para nós é para seguirmos por um caminho que possamos diariamente estar em contacto com a Verdade, o evangelho. A verdadeira teologia como diz Karl Barth é a teologia da Palavra. Só a Verdade ensinada por Jesus "é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho" que tem suficiência em si mesma para nos libertar de todas as alienações oriundas quer seja de uma dimensão espiritual ou terrena.

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