A expressão serviço religioso abrange um imenso universo de práticas e atitudes por
parte dos indivíduos que estão comprometidos com algum sistema religioso,
porém, a expressão máxima desse servir sempre terá uma visibilidade maior no
próprio momento de culto desenvolvido por cada desses sistemas. A palavra “culto”
tem a sua raiz vinda da língua latina (do substantivo cultu; e do verbo colere),
possuindo assim os seguintes significados ‘cultivar’; ‘cuidar’; ‘tratar’; ‘honrar’; ‘venerar’.
Segundo o dicionário Aurélio de língua portuguesa, culto designa um ato de “adoração
ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. É
cabível perceber que o termo não ligado apenas ao cristianismo, mas abrange as
religiões de um modo geral. Na perspectiva cristã o culto pode ser simplesmente
definido como uma forma externa de expressão da crença num único Deus, onde as
especificidades são determinadas pelo cristianismo. Apesar de simples, esta
definição resume toda a visão geral de um culto cristão. O ponto principal no
entendimento das definições do culto cristão não está na adoração a Deus, mas
no núcleo centralizador deste culto. O culto cristão é extremamente encarnacional
e prático. Todos os eventos relacionados a Cristo devem ser inseridos no culto.
Com isto, percebe-se que a ´exteriorização`
apresentada na definição acima, reveste-se e certa coerência estrutural.
Uma teóloga de tradição anglo-católica aborda que o culto é uma resposta das
criaturas ao eterno, trazendo assim uma nova concepção. Neste caso o culto cristão
se caracteriza pela concepção do cultuante a respeito de Deus e sua relação com
Deus. Longe de ser geral, o culto cristão sempre é condicionado e determinado
pela crença cristã. Esta é a mesma idéia defendida pela perspectiva ortodoxa.
Em círculos católicos é comum definir o culto como a glorificação de Deus e a
santificação da humanidade. Irineu já dizia que a santidade é a maior
glorificação do ser humano a Deus. Assim a glorificação a Deus e a santificação
do homem caracterizam o culto cristão. Em todas as definições citadas a atenção
à praticidade do aspecto dinâmico do culto cristão é destacado. Desde muito
tempo a concepção de culto cristão esta atrelada às reuniões realizadas pelos
cristãos nos templos. Porém, esta visão está totalmente fora do real valor e do
verdadeiro significado de tal atitude. A abrangência do conceito real de culto
perdeu seu poder de compreensão a partir da separação entre a teoria e a
prática do que era o culto cristão. Não se sabe quando fora alcançado esta
separação, mas os surgimentos de novas teologias contribuíram com certeza para
esta visão antibíblica.
O
SERVIÇO RELIGIOSO ANTES DA LEI
Antes
da formação do povo de Israel e da entrega da lei, já se tinham formas de
adoração. Nas escrituras sagradas, a primeira menção efetivamente feita sobre
um culto no A T é a de Gn 4.2-7. Não sabe o tempo nem o local em que fora
ofertado o culto, porém, sabe-se
claramente que a oferta de Caim foi rejeitada e a de Abel aceita. Neste
primeiro relato bíblico acerca de um ato efetivo de adoração, encontramos Caim
trazendo uma oferta ao Senhor, fruto da terra, e Abel trazendo dos primogênitos
das suas ovelhas e da sua gordura (Gn 4.3,4). Diz a Bíblia que a oferta de Abel
foi vista por Deus, pois ele deu o melhor. Sobre esse episódio, o Dr Russel
Shedd comenta que a oferta de Abel agradou mais do que a de Caim, não porque
tivesse cumprido as exigências materiais, mas porque o coração de Abel estava
em harmonia com o coração de Deus. Há
uma ligeira afirmação de que os sacrifícios passaram a ser a principal forma de
adoração posteriormente a este episódio. Todas as citações de culto durante a
vida dos patriarcas foram destacadas
pela realização dos sacrifícios. Os patriarcas erigiram altares (Gn 8.20; 17.7,8; 13.18; 26.25; 35.1; 17.15)e
consideravam também árvore e poços como sagrados (Gn 12.6; 35.4; 16.14; Dt
11.30; Js 24.26).
O SERVIÇO
RELIGIOSO DEPOIS DA LEI
Moisés
inaugurou uma nova etapa nas práticas do serviço religioso dos primeiros servos
de Deus. Começou quando ele conduziu o povo de Israel para fora do Egito, e se
estendeu até a era dos juízes. Durante o tempo dos juízes, o povo de Deus ainda
adorava em tendas e em tabernáculo. Somente quando Davi foi coroado rei, que se
fizeram planos para a construção de um templo. Houve uma série de atividades
acrescentadas nesta nova etapa. Quando Deus entregou os Dez mandamentos a
Moisés, deixou bem claro as instruções conforme encontramos em Êxodo 20.3-5.
Neste texto encontramos as palavras encurvarás
e servirás, as quais significam
atitude de culto. O serviço como
culto, traduzido do grego, significa serviço sacerdotal. Serviço também pode
ser tradução de “latreia”,
encontrado no texto de Mateus 4.10, quando Jesus rebate a Satanás, dizendo: “...Vai-te,
Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”.
Neste texto, o serivirás vem de “latreuseis”, enquanto que o adorarás vem de “proskuneseis”, que é também uma palavra grega com significado de
culto. Começa assim a descrição de uma série de outras ordens para a realização
do culto pós-lei.
ALGUNS
ELEMENTOS DO CULTO PÓS-LEI – Tem-se um forte indício que Deus já havia aprovado
os sacrifícios. Nos dias de Moisés, Deus também sancionou um novo local de culto. Quando o grande
legislador subiu ao Monte Sinai, recebeu não só os dez mandamentos, mas também
outras diretrizes para a vida do povo. Dentre estas orientações, foi dado a
planta baixa do tabernáculo. Era um local fechado diferente dos altares
erigidos a céu aberto. O próprio altar era diferente (Ex 27.1-3). O Sacerdócio, nesse ínterim, em
Israel passou a existir o que se conhece por sacerdócio ordenado. De acordo com
a ordem de Deus (Ex 28.1), Moisés consagrou seu irmão (Arão) e sobrinhos. Estes
homens eram da tribo de Levi, e o sacerdócio passou a pertencer efetivamente a
esta tribo. Havia um distinção entre o sumo sacerdote e os sacerdotes. Estes
realizavam todas as atividades competentes aos sacerdotes. Aqueles, porém, além
das atividades normais de um sacerdote, tinham a responsabilidade de executarem
o sacrifício do dia da expiação, onde eles podiam entrar no santo dos santos
(Lv 16.1-25). O sistema sacrificial,
apesar da vasta referência concernente aos sacrifícios em toda a bíblia, tem-se
os rituais sacrificiais mais especificamente registrado nos sete primeiros
capítulos do livro de levítico. O sistema sacrificial é composto basicamente de
cinco tipos de sacrifícios específicos: ofertas queimadas (holocaustos),
ofertas de cereais (manjares), ofertas pacificas, ofertas pelo pecado, ofertas
pelas transgressões.
O
SERVIÇO RELIGIOSO PÓS-EXÍLIO
No
ano 586 a.C., o Rei Nabucodonosor
saqueou Jerusalém e destruiu o templo santo que Salomão havia edificado,
impossibilitando a realização de cultos. Porém, quando acabou o cativeiro,
Ciro, rei da Persia, ordenou aos israelitas que construíssem um templo em Jerusalém
(Esd. 1.2), restituindo os vasos levados por Nabucodonosor (Esd 5.14). Em
muitas coisas, o segundo templo seria como o de Salomão. Mas a arca da aliança
fora definitivamente perdida (destruída) durante a invasão do babilônios. Os
recursos para a construção do segundo templo foram mínimos, devido a própria
situação pós-exílio do povo israelita. O novo templo era menor e menos adornado
do que o de Salomão, mas seguia as mesmas linhas descritas para o tabernáculo. Todo
culto judaico a partir deste retorno era centralizado no novo templo. Os judeus
desta época julgavam estar sob a ira e juízo divinos e, para reparar a culpa,
eles voltaram a oferecer sacrifícios e ofertas. Neste ínterim, os levitas foram
os primeiros a regressarem a Judá. Durante a monarquia outros ramos da tribo de
Levi tinham sido aceitos como sacerdotes. Mas, após o exílio, todos os que
alegam ser sacerdotes tinham que provar
que descendiam de Arão antes de ser admitidos no ofício (Esd 2.61-63; Nem
7.65-67). Outros funcionários do templo, que voltaram de imediato, foram os
cantores e os porteiros. O livro das crônicas refere-se aos cantores e
porteiros como ´levitas`, mas eles eram de origem estrangeira, eram descendentes
de cativos de guerras, que assistiam os levitas no templo de Salomão. No tempo
de Neemias estas pessoas juraram que andariam na lei de Deus e não se casariam
com estrangeiros (Nem 10.28-30). Nestes momentos, a atmosfera de culto
ritualístico fora substituída pelo contexto de remorso. As festas se tornaram refeições
sociais. Um novo festival surgiu – a festa de Purim. Esta festa era realizada
nos dias 14 e 15 do mês de adar, para comemorar o livramento dos judeus das
mãos de Hamã.
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