quinta-feira, 30 de junho de 2011

O PROJETO ORIGINAL DO REINO DE DEUS – LIÇÃO 1

A palavra "reino" desperta muitas ambições em muita gente, até mesmo alguns dos discípulos se precipitaram ao manifestarem o desejo de obter posições privilegiadas no Reino. O Reino de Deus pode ser apresentado nas escrituras em duas dimensões diferentes, quando Jesus disse: “E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus”, Ele estava se referindo ao reino presente, o qual foi estabelecido nesse mundo por intermédio da graça dada por meio do Evangelho, tendo sido à igreja dada a função de ser agência desse reino, pois, ela gerencia a entrada e permanência de todas as pessoas que pela fé no evangelho de Cristo ingressam no Reino.( Lc 10.9). Porém, em Lc 22.18 “Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus”, o Senhor Jesus faz uma referência a Reino apocalíptico, eterno, o qual já está preparado para igreja que foi comprada com o sangue do cordeiro conforme João pôde ver na revelação que foi dada para ele na Ilha de Patmos. Apesar de espiritual, o reino de Deus aqui não consiste apenas de palavras, sermões, doutrinas, teologias e discursos inflamados. Veja o que nos diz Paulo: “Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder” (I Co 4.20). É necessário deixar bem claro que o poder aqui mencionado é o poder de Deus e não do homem, porque o reino é de Deus e não do homem. A igreja não é o reino, mas é o principal agente espiritual do reino, e como tal ela está acima dos sistemas religiosos, acima das instituições humanas. A porta de acesso do reino de Deus é graça conferida através da obra vicária do Senhor Jesus, a oportunidade é franquiada para todos, tanto para entrar como para dar frutos no reino, tornar-se um cooperador ativo. Infelizmente, alguns estão tentando ser latifundiários no Reino de Deus, estão criando monopólios, estão privatizando a eclesiologia, estão promovendo a competição de mercado. O denominacionalismo no Brasil tem produzido muito mais para o reino dos homens do que para o Reino de Deus. Na atualidade existe uma corrida frenética por parte de muitas denominações e ministérios para conseguir espaço na mídia radiofônica e principalmente na redes de televisão. O argumento utilizado por todos é que a intenção é promover o "reino de Deus", porém, por trás do discurso religioso existe uma propaganda pessoal e institucional a qual revela, que para essas pessoas o reino de Deus se restringe aos seus sistemas dogmáticos, dos quais tais pessoas são muito bem servidas e estão gozando de ilimitados privilégios, vivendo como verdadeiros reis, e povo não passa de ingênuos súditos desses reinos de pastores presidentes, reinos de bispos, reinos de apóstolos, e porque não dizer o reino das pastoras. Quem se limita a esses universos denominacionais não está preocupado com o verdadeiro Reino de Deus, e sim com os seus alvos pessoais.

CONCEITOS DO REINO

Apesar de não se mostrar no Antigo Testamento a expressão "Reino de Deus", a idéia em si aparece em quase todas as suas partes. De igual modo, apesar de à parte dos Evangelhos Sinóticos o título ser usado raramente no Novo Testamento, toda a mensagem de Jesus se focaliza sobre o o Reino de Deus (Mc 1.14-15), e a idéia mesma se apresenta sob muitas formas diferente - por exemplo, como vida eterna no Quarto Evangelho e como misticismo em Cristo no caso de Paulo - Através de todo o Novo Testamento. Na verdade, tão penetrante e central é o conceito de Reino de Deus no pensamento do Antigo e Novos Testamentos, que se constitui num dos temas principais a manter os dois unidos. Em sua origem da realeza divina estava intimamente relacionada à crença de que Iavé era o protetor e governador de Israel. Desde o início do culto prestado por Israel a Iavé concebia-se Deus em termos de retidão. Desenvolveu-se entre os profetas a clara convicção de que o Deus de Israel era o Senhor de toda a terra, e predisseram eles o dia em todas as nações reconheceriam sua soberania. O Deus de Israel era o Criador "dos fins da terra"; Ele era o Juiz de todas as nações e de todas as gerações (Sl 145.13); Ele era o Salvador que redimiria Israel e as nações, e estabeleceria seu governo justo sobre toda a terra (Is 45.22,23; 49.6; 66.18-23). Até então Iavé só era conhecido de Israel, mas os profetas e os salmistas predisseram o dia em que, por meio de Israel, - ou no papel de soberano ou de servo de Iavé, - Ele estabeleceria sua realeza universal. Mediante um exame mais minucioso, descobrimos que a realeza de Deus é conhecida no Antigo Testamento de três diferentes modos. Em primeiro lugar, reconhece-se que Deus já é rei. Ele criou o mundo e o governa com retidão. Ele é o Senhor das nações e as usa, mesmo que elas não O conheçam, como instrumentos de sua vontade. É eternamente Deus, apesar de estarem os homens rebelados contra Ele. É soberano mesmo quando homens e nações atraem julgamento e ruína sobre si mesmos, ao desafiarem Sua vontade reta. "O Senhor...como rei presidirá para sempre" (Sl 29.10), e por entre o tumulto da luta contra o mal seus servos podem confiar nÊle, visto que mesmo agora Ele realiza "feitos poderosos": Ele cria, julga e redime e este mesmo Senhor "reinará por todo sempre" Êx 15.18; Sl 99.1-4). Em segundo lugar, a realeza de Deus está sempre presente de modo especial nas vidas daqueles que fazem a Sua vontade. Seu governo manifesta-se de modo mais completo por intermédio do homem reto que obedece à sua lei e dess forma toma sobre si mesmo o jugo do reino (Sl 1.1-3;74.12; Sl 23). Em terceiro lugar, a realeza de Deus é descrita como um reino futuro em que seu governo se manifestará de modo pleno sobre toda a terra. Este foi o aspecto do governo de Deus que encontrou expressão na esperança messiânica. Enquanto esta esperança foi expressa de vários modos no Antigo Testamento e no judaismo dos últimos tempos, era ela, na essência, antecipação da nova era quando Deus haveria de triunfar sobre o mal. Na sua expressão primitiva, tomou a forma de esperança política e nacional, pela qual Israel se tornaria vitorioso sobre seus inimigos e o primeiro reino de Israel seria restaurado. Fé na plena satisfação do Reino de Deus apoiava-se no conhecimento de sua manifestação parcial dentro da ordem histórica. Evidentemente, Jesus cria em todos estes três aspectos do Reino de Deus, mas separou o conceito de tudo que havia de nacionalismo nele, especialmente nas formas tradicionais de esperança messiânica. Transformou o conceito submetendo-o à sua própria compreensão de Deus e do propósito da vida humana. Emancipou o termo e deu-lhe sentido novo e mais profundo; todavia, não necessitou defini-lo, visto ser herança de Israel e assim serviu como ponto focal de sua própria mensagem.

O REINO DE DEUS NO ENSINO DE JESUS

Pouco antes de haver Jesus dado início ao seu ministério público, aparecera João Batista no vale do rio Jordão proclamando que estava próxima uma grande crise e por isso convocava os homens ao arrependimento. Declarava que Deus estava para visitar os homens com julgamento, e dizia: "Já esta posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo" (Mt 3.10). A pá esta limpando a eira; o trigo será recolhido no celeiro e a palha será queimada em fogo inextinguível. Em vista do julgamento iminente, a existência do arrependimento assumiu nova urgência, visto que só ele - e não fato de alguém ser descendente de Abraão - seria válido no terrível dia do Senhor. Jesus foi atraido por João por causa da liderança profética deste e apresentou-se a ele para ser batizado. Na verdade, Jesus se considerou continuador da obra iniciada pelo seu predecessor. Enquanto Ele proclamava mensagem em muitos sentidos semelahante à de João, era ao mesmo tempo mestre independente desde o princípio. Parece que nunca se tornou discípulo do Batista, porque nunca praticou o rito do batismo, e o tipo de vida e o método de ensino que adotou estavam em vivo contraste com os de João. A passo que João descrever a consumação próxima do domínio de Deus primariamente como um terrível julgamento sobre o pecado, Jesus a proclamava como "boas novas". João havia repreendido severamente sua geração, dizendo-lhe: "Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?" (Mt 3.7); Jesus, por sua vez, apresentava Deus desejoso de conceder aos homens as riquezas e alegrias do Reino: "Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino" (Lc 12.32). Apesar de o advento do Reino trazer consigo julgamento, e apesar de muitos estarem destinados a serem excluídos dele, traria a mais alta alegria e benção aos que nele fossem congregados. Para Jesus o Reino era de tão alto valor que a pessoa devia estar pronta a abrir mão de tudo que possuísse para entrar na sua posse. "O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no capo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, via, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas. e tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía, e a comprou" (Mt 13.44-45). A bem-aventurança da vida do Reino é melhor descrita como vida eterna, mas isso não consiste em sobrvivência sem fim; antes, caracteriza-se por determinada qualidade de vida muito superior à desta idade. Entrada no Reino resulta em vida eterna; e assim; a vida eterna se torna posse atual para os que entram no Reino agora. Entretanto, sua realização aguarda a vida da nova era. Desse modo, Jesus afirma aos seus discípulos que os que deixarem bens e entes queridos receberão "já no presente o cêntuplo" e "no mundo por vir a vida eterna" (Mc 10.29-30). A primeira proclamação de Jesus e a que mais chama a atenção a respeito do Reino, foi que sua consumação estava próxima. Enquanto é aceitável que os primeiros cristãos exageraram o elemento apocaplíptico no seu ensino, é impossível compreender a carreira e o ensino de Jesus, a não ser reconhecendo que considerou o Reino primariamente como o domínio futuro de Deus, mas iminente. Sua mensagem estava carregada deste tema quando começou seu ministério público na Galiléia (Mc 1.14-15), e encontrava-se continuamente em seus lábios até à última ceia com os discípulos, quando fez a promessa de se reunirem de novo no Reino de Deus.

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