Faz 28 anos que decidi servir ao Senhor, minha conversão aconteceu na Assembléia de Deus de Recife. Após ter conhecido alguns grupos denominacionais resolvi atender o apelo em um culto da Assembléia de Deus, porque entendi que nesta igreja havia um grande empenho dos seus membros para vivenciar a fé de acordo com os parâmetros bíblicos. Porém, com passar do tempo me deparei com algumas práticas que me proporcionaram certos conflitos. Uma dessas práticas era a extremada ênfase aos "usos e costumes", os quais muitos membros costumavam confundir com doutrina, passando a taxar de pecadores e rebeldes aos demais cristãos que não adotassem tais padrões. Isso caracterizava muitas vezes um tipo de exclusivismo religioso que se configura na maioria das seitas. Essa mentalidade mudou com o passar dos anos, embora ainda existam muitos líderes que se mantêm retrógados, defendendo ainda tais idéias. Outra prática com a qual não conseguia concordar era a postura mística de alguns crentes, pessoas que supervalorizavam a experiência mística, que avaliavam o valor de um culto a partir da quantidade de pessoas que falaram "línguas" e pelas profecias proferidas. Também mediam a espiritualidade de um crente não pelo seu conhecimento e prática dos princípios da Palavra de Deus, mas pela suposta quantidade de dons apresentadas pelo tal. A medida que observava fui descobrindo que maioria dessas pessoas tinham sido bastante místicas antes de se converterem ao evangelho, e agora tinham dado uma roupagem evangélica às suas crenças supersticiosas, desenvolvendo uma experiência de fé baseada no fenomenalismo religioso. A experiência mística é sempre sensorial, o místico é um eterno dependente das emoções, ele precisa sentir alguma coisa para se satisfazer. Nessa perspectiva originou-se a prática soteriológica sensitiva, pois, para muita gente que conheci, a salvação dependia do "sentir". Costumava-se perguntar aos novos convertidos "você sente salvação?". Isto fez com que muitas pessoas mergulhassem nas experiências místicas em busca desse "sentir", por outro lado criou-se uma plataforma de ação para os espertos, aqueles que buscavam se promover na comunidade evangélica, logo viram nessa sede do povo pela experiência sensitiva, uma grande oportunidade para manipular as pessoas por meio de encenações carismáticas. Essa realidade ainda hoje se constitui em um campo fértil para a ação do falso profetismo. Essa busca pela experiência mística tem movimentado o mercado da fé, se multiplicaram os "gurus evangélicos", que a semelhança dos gurus da seitas, tem sempre uma profecia pronta para os seus clientes. È obvio que a razão principal para o crescimento desse comportamento místico no meio assembleiano e evangélico é conseqüência da carência de uma teologia verdadeiramente bíblica. Numa estimativa pessoal eu diria que noventa por cento dos cultos ainda é carente do ensino bíblico que promove a maturidade da fé. Estamos diante de um cristianismo sem reflexão, uma geração de cristãos que não conseguem priorizar o conhecimento e adoração com bases bíblicas como elementos central da liturgia, pois, isso já não é tão suficiente, porque as pessoas estão acostumadas a um Evangelho humanista que está alicerçado em suas necessidades. O evangelho humanista coloca o homem como centro do evangelho e Deus procurando meios de satisfazê-lo. O Evangelho bíblico coloca Deus como centro, o homem como um pecador contumaz e Deus oferecendo-lhe uma grande oportunidade de se arrepender.
O MISTICISMO GERA UM EVANGELHO HUMANISTA BASEADO NO INTERESSE E SUPERSTIÇÃO
O evangelho humanista não produz verdadeiros adoradores, e sim, consumidores de religião. Observamos que nos dias hodiernos muitas pessoas que vão as igrejas não estão pré-dispostas para ouvir a profecia divina na sua essência, que muitas vezes pode ser contrária aos seus interesses, e submeter a verdade de Deus. Porque o interesse da maioria é a busca de uma nova sensação. Vão onde prometer mais fantasia, onde a viagem mística seja provável. Onde o cenário for mais mágico, mais imediato, é isso que buscam.
Aprisionado em sua infantilidade, o cristão supersticioso procura compreender os acontecimentos espirituais a partir de referenciais em seu mundo mágico e fantasioso. Distraído, vagueando por seu universo imaginativo, é inclinado a interpretar os fatos da vida como acasos e coincidências. Por desconhecer ou por não crer que Deus tem planos para cada um de seus filhos e que o justo viverá da fé (Hb 2.4), é facilmente levado a procedimentos adivinhatórios. Experimenta forte fascínio por reuniões que anunciam prodígios e maravilhas. O seu interesse pelo mundo transcendental é fruto de mera curiosidade infantil pelo misterioso. È completamente indefeso quando vislumbra uma oportunidade para observar fenômenos de curandeirismo. Inocente, despreparado e sugestionável, torna-se uma presa fácil das várias formas de charlatanismo religioso. Geralmente essas experiências místicas se configuram em atitudes fanáticas que se manifestam com uma religiosidade neurótica, de forma que o relacionamento do indivíduo com o Ser transcendente se apresenta biblicamente inadequado, desproporcional e conflitual, adotado a partir de uma concepção teológica pessoal e arbitrária, concorrendo paralelamente à instrução bíblica. Porém, distanciada de Cristo. A manifestação mais provável desse conflito religioso infantil reflete-se na área do relacionamento pessoal com Deus. O relacionamento homem – Deus quando se reflete numa religiosidade doentia, pode ser compreendido olhando-se uma decrescente escala de referência de valores, cujo começo é representado pelo misticismo, o qual se encerra no ateísmo materialista.
O MISTICISMO E O CRESCIMENTO DO FALSO PROFETISMO
O povo insatisfeito com sua religiosidade segue aqueles que lhe prometem satisfação. A necessidade do homem atual de ter uma vida comunitária, de se envolver com o místico, de se identificar com o religioso, de abandonar o envolvimento com o material que lhe traz sofrimento e decepção, se tornam vulneráveis a ação dos gurus religiosos que se apresentam como profetas de Deus. O povo de uma maneira geral busca o místico desejando respostas dos líderes carismáticos, nas experiências misteriosas que envolvem as práticas de alguns grupos proféticos, orientais, espiritualistas, neopentecostais e mágico-religiosos, como: visões e revelações supostamente recebidas por alguns fundadores de seitas; busca da comunicação com os mortos; crendices em líquidos, objetos abençoados; repetição de frases ou mantras para modificar atitudes; profunda contemplação e abstração do mundo presente; rituais de iniciação a determinadas funções; operação de milagres e curas; busca do transe ou do êxtase; utilização de despachos etc.
JESUS ANUNCIOU A FALSA PRÁTICA DA PROFECIA
"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos". (Mt 24, 24). Os profetas enviados por Deus operam sinais e prodígios? Sem dúvida que sim! Os milagres sempre fizeram parte da manifestação do Espírito Santo em toda a história da igreja. Porém, nos últimos tempos têm surgido pessoas no cenário político e religioso das nações realizando milagres a ponto de enganar os próprios eleitos. O profeta verdadeiro realiza milagres, mas o falso também! Como diferenciar o falso do verdadeiro? Jesus nos ensinou: Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.20), e em seguida acrescentou a sentença de condenação dessas pessoas: Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade (Mt 7.23). A injustiça e a iniquidade pautam a vida do iníquio! E não pensemos que os operadores de milagres de Satanás virão só de segmentos religiosos alheios aos meios evangélicos. Eles surgirão também do meio cristão, enganando e sendo enganados. Paulo profetizou este tempo do fim, discorrendo especialmente dos "últimos tempos", em que (...) alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores (1 Tm 4.1-5). Tiago comenta uma sabedoria que não vem do alto "antes, é terrena, animal e demoníaca" (Tg 3.15). como esse ensino de demônios se propagará? Obviamente através da religião cristã institucionalizada, seja ela católica ou protestante. E ainda não vimos tudo! "O mistério da iniqüidade já opera" (2Ts 2.7) mas sem o seu poder total! O Espírito Santo nos foi dado para nos guiar a toda verdade. De acordo com os apóstolos, o Espírito nos ensinará a diferenciar "o espírito da verdade do espírito do erro" (1 Jo 4.6).
CONCLUSÃO
Há alguns anos atrás ouvi de um pastor da Assembléia de Deus em Recife a seguinte expressão "Eu penso que cinquenta por cento do eventos que acontecem em nosso meio e que são proclamados como espirituais, não passam de misticismo" . Confesso que aceitei plenamente a colocação, pois, estava acostumado a testemunhar diversas manifestações ditas proféticas e sobrenaturais que não podiam ser respaldas nas escrituras. Entendo que tal realidade que é extensiva a diversos grupos evangélicos no Brasil, e tem uma relação direta com a indiferença para com o ensino teológico. A verdade que os grandes ministérios evangélicos defensores de um conservadorismo que atua como mecanismo de preservação de uma hegemonia administrativa, não tem interesse em promover o ensino teológico, pois um rebanho leigo não faz questionamentos. Alguns ministérios mantêm algumas escolas teológicas que funcionam apenas para atender a reivindicação de um parcela da membresia, não passando de uma escola dominical melhorada para fortalecer os costumes e tradições do grupo, sem espaço para a reflexão teológica.
Paz irmão muito bom seu comentario me ajudou e exclareceu Deus te abençoe e continue assim.
ResponderExcluirum abraço