quinta-feira, 1 de julho de 2010

O MINISTÉRIO PROFÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO - Lição 1














Em muitas religiões antigas havia algo parecido com o profetismo em Israel, até mesmo a terminologia, por exemplo, em Mari, no Eufrates. O profetismo hebreu destaca-se como profecia voltada para os juízos divinos e como sombra das condições políticas, sociais e culturais interpeladas pelos profetas. Os antecedentes dos vaticínios de ameaça consistem nos eventos da libertação de Israel e das caminhadas pelo deserto, quando Israel se consolidava como povo e nação, como fruto imediato da salvação operada por Deus. Apartando-se, porém, deste Deus, Israel perdia os alicerces de sua existência. É a esta altura que entram em ação os porta-vozes de Deus a fim de salvar e assegurar a sobrevivência de Israel. Sem o querer, o Deus-redentor é fadado a se converter no Deus-juiz, sem deixar, no entanto, de todo a continuar a ação salvífica de seu povo. O primeiro exemplo apareceu no episódio do bezerro de ouro: Deus julgou, mas também salvou seu povo transgressor.

A fase caracterizada pelos vaticínios funestos terminou no exílio babilônico: irrompera o juízo ameaçador pelos profetas, sobreviveu só um resto do povo que fora salvo da mensagem salvadora do profeta Isaías e de Ezequiel. Deus se manifestara como redentor, no começo e no fim da história.

A proclamação dos juízos de Deus teve seu lugar entre as duas fases da salvação, baseando-se na crítica das condições reinantes no momento e que puseram em xeque a existência de Israel: "A mim me abandonaram, a fonte de água viva". Consequentemente, a destruição não será mera fatalidade, mas ação punitiva de Javé, e dentro do plano geral do Deus de Israel, calculando, ao mesmo tempo, destruição e salvação redentora.

No bojo da história do profetismo aparece o mesmo esquema: a profecia agoureira engastada nas profecias alvissareiras, antes e depois: na aurora da monarquia, os profetas lisonjeiam a realeza, posto que não sem críticas, quando oportunas (Natã). E antes da própria monarquia, o profetismo achava-se ligado aos líderes carismáticos (Débora). Extinta a realeza, os profetas ameaçadores mudam de estilo para pregar o advento da salvação escatológica (Ezequiel e Daniel).

O PROFETISMO POR ETAPAS

Numa primeira etapa, antes de Amós, os livros históricos relatam a atividade dos profetas da época. A partir de Amós, os profetas começam a formar a tradição independente e específica, cuja conservação e coleção ficava a cargo dos círculos de discípulos e adeptos que continuavam a obra do mestre. Ambas as primeiras etapas distinguem-se também pelo teor dos oráculos; somente depois de Amós a ruína é anunciada ao povo inteiro. Este tipo de oráculos precisava ser conservado e transmitido! Interessava a sobrevivência de Israel e, ainda, a credibilidade da palavra divina pregada pelos profetas. Até Amós, o castigo atinge pessoas individuais, sobretudo o rei, como responsável pelo bem-estar do povo. A execução injusta da Nabot (Acabe e Elias) envolvia também o povo. Até Amós, o rei podia ser responsabilizado devido ao caráter sacral da dignidade régia. Depois dele, o próprio povo é chamado a dar conta de seus atos. Na constelação mudada, o rei já não representava o povo que, em sua totalidade, já havia suplantado a sacralidade da instituição.

De Amós até 587 a. C. distinguimos dois períodos: o primeiro até a queda de Samaria em 722, o segundo até o fim de Judá em 587. São diferentes também os tipos de profetismo atuantes no reino de Samaria (Israel) e no reino de Judá (Jerusalém), ocorrendo frequentemente cruzamento entre os dois. Amós, natural de Judá, exerce sua função em Israel; Jeremias, na esteira de Oséias, defende posições tipicamente setentrionais. Os vaticínios de Amós foram acolhidos em Judá, porque Miquéias tem mais afinidades com Amós do que com Isaías. E assim por diante. A despeito das tipologias estabelecidas, os vaticínios acerca dos juízos divinos revelam uniformidade admirável nos traços essenciais. Foram, afinal de contas, os profetas que contribuíram para manter um resto de união entre os dois reinos politicamente separados.

OS PROFETAS NA VIDA DE ISRAEL

Os profetas censuravam todas as áreas da vida do povo, mas principalmente as violações dos mandamentos capazes de trazer riscos à existência da nação. Os casos concretos variam de profeta para profeta, de situação para situação. A repreensão política falta em Amós e Miquéias. Oséias ataca os reis e os chefões. Em Isaías é bem pormenorizada a acusação de cunho político. No cap. 2 ele incrimina a Hybris (soberba, arrogância, irreverência) que lesa a majestade de Deus; a seguir, repreende a confiança nas alianças políticas (Cap. 31.1ss). Jeremias desaprova a autonomia nas decisões políticas sem consultas prévias da vontade de Deus. Se, no início, os profetas apoiavam o rei, aos poucos viram-se constrangidos a atacá-lo frontalmente. O rei é acusado de permitir ou até de favorecer a idolatria; de contrariar os direitos de Deus (Natâ, Elias, Jeremias); de desdenhar a palavra divina a ele dirigida (Oséias, Isaías, Jeremias). na pessoa do proeta, a realeza - não autóctone no povo eleito - recebeu, colocada ao seu lado, uma instância admoestadora de modo que as contrariedades entre monarca e profeta podiam recrudecer até a perseguição, o aprisionamento e a morte do profeta (Urias). Consta, por outro lado, que jamais um profeta organizava a oposiçao contra o rei. Limitavam-se a falar e a padecer as consequencias. Avançando Oséias contra a instituição monárquica, ele nunca redigiu um manifesto para a sua abolição (7, 3 e 8, 4). Reinavam temporadas de boas relações entre o soberano e profeta (Isaías, Jeremias), quando não se cervava e recuava ante a reprimenda do profeta ( 2 Sm 12). Na vida tão sofrida de Jeremias, deus-se o caso de o rei se ver constrangido a solicitar conselho do profeta encarcerado (Jr 37. 3-10).

A acusação de abusos sociais, estendidos até o campo econômico e cultural, predomina em Amós e Miquéias, acha-se em Isaías no começo de sua atividade, e em Jeremias no discurso no templo (7.1-15). Faltando em Oséias, é enfatizada em Ezequiel, cap. 22. A censura dos crimes sociais ancorava-se no direito transmitido desde os tempos antigos, e não apenas no alto grau de sentimento moral dos profetas. A pregação profética ressuscitava o direito divino confiado a Israel fazendo-o valer contra as inúmeras infrações: Natã (2 Sm 12), Elias (IRs 21) e outros. No seu discurso no templo, Jeremias cita uma série de preceitos do Decálogo, fazendo a mesma coisa Amós (5.10-13; 8.4-7), ou o cântico da vinha em Is 5.1-7. Mesmo não havendo violação formal de mandamento, o profeta investe contra os prepotentes que abusando do seu poder, oprimem o pobre. "Assim falou Javé: Pelos três crimes de Israel, pelos quatro, não o revogarei! Porque vendem o justo por prata e o indigente por um par de sandálias. Eles esmagem sobre o pó da terra a cabeça dos fracos e torcem o caminho dos pobres; um homem e seu pai vão à mesma jovem para profanar o meu santo nome (Amós 2.6,7). Aí dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo... (Is 5.8). Cf (Miquéais 2.1).

Nenhum comentário:

Postar um comentário