Este é um tema no qual preciso confessar que tenho uma posição bastante crítica no que diz respeito a ação social da igreja evangélica em nosso pais, pois temos igrejas nesta nação que esbanjam o seu potencial econômico construindo templos suntuosos, comprando emissoras de rádio e televisão, fazendo campanhas de marketing caríssimas, pagando salários aos seus ministros, considerados altos para a realidade salarial do país, e outros investimentos de natureza semelhante. Todavia percebemos pouco interesse em se investir em obras sociais. Conheço igrejas com mais de 100 mil membros (pentecostal) que para tentar justificar um trabalho social tem umas duas escolinhas funcionando precariamente, um projetinho de ajuda a uma comunidade carente, um precário abrigo de velhos e outras coisas desse nível para constar nos relatórios sociais ou para serem usados como pretextos na hora de levantar ofertas. Lamento, mais no meu Estado as grandes igrejas evangélicas têm uma grande dívida para com a sociedade, pois, a obra social que muitos dizem fazer, não atende nem aos domésticos da fé. Muitas lideranças de igrejas têm espiritualizado a mensagem bíblica, e assim passaram ver as pessoas como se elas fossem constituídas apenas de alma e espírito, e o corpo não tivesse muita importância, agindo como se a função dos líderes eclesiásticos fosse apenas cuidar da parte espiritual. Essa atitude tem se constituído num grande equívoco, pois a palavra de Deus nunca faz essa distinção na constituição do ser humano. Deus olha para o homem na sua totalidade e trata com ele atentando para todas as necessidades desse ser que é corpo, alma e espírito. Quando Jesus disse que “nem só de viveria o homem”, Ele não quis dizer que o homem não precisa de pão, porém, que da forma que o pão material era fundamental para sua existência, assim também a Palavra do Senhor não poderia jamais faltar-lhe. Segundo o apóstolo Tiago, se alguém visitar um necessitado, orar por ele e ir embora sem praticar uma assistência social, procurando suprir as necessidades de tal irmão, esse ato religioso não tem nenhum valor diante de Deus, pois a devoção religiosa sem as obras é contrária a fé cristã.
A RESPONSABILIDADE PARA COM AS OUTRAS PESSOAS
As Escrituras expressam de formas múltiplas e objetivas que todos somos responsáveis uns pelos outros, fugir a essa responsabilidade é negligenciar numa tarefa que foi entregue a cada homem pelo próprio Deus. Vejamos o que aconteceu com Caim. Após ter assassinado o seu irmão, Caim ouviu a voz de Deus: “Caim onde está o teu irmão”, porém ele respondeu “Acaso sou eu guardador do meu irmão”. Essa resposta demonstra o descaso de Caim para com a responsabilidade que Deus lhe entregara, a qual era cuidar do seu irmão. Infelizmente tem muita gente em muitas igrejas que estão morrendo por falta de cuidado, e alguns estão até mesmo sendo mortos por causa da inveja, do egoísmo e da avareza de outros. Todavia, a Palavra do Senhor continua cobrando daqueles que têm negligenciado no que diz respeito ao cuidado com o semelhante, o Senhor continua nos perguntando “onde está o teu irmão?”, o que você fez para ele, e o que você fez com ele ?. Tenhamos muito cuidado, porque a Bíblia nos diz que: “aquele que sabe fazer o bem e não o faz peca”. Não confundamos fé bíblica com religiosidade, os fariseus eram as pessoas mais religiosas da época de Jesus, porém, eles não praticavam a fé bíblica, porque sobre estas pessoas, Jesus fez a seguinte afirmação: “vocês me honram com os lábios, mas seu corações estão longe de mim”. O amor cristão é altruísta, e se caracteriza por uma constante preocupação com o bem estar do nosso semelhante. A presença do amor de Cristo em nossos corações nos conscientiza da grande responsabilidade que temos de nos empenharmos em promovermos o bem para beneficiarmos as pessoas de uma forma geral.
A responsabilidade não é meramente proteger vidas inocentes; também inclui fazer o bem positivo em prol dos outros. Segundo Jesus e o ensino do Antigo Testamento devemos ser responsáveis para amar o nosso próximo como a nós mesmos. Jesus disse que o amor é a essência da lei moral (Mt 22.39). Até mesmo disse que a totalidade da moralidade do Antigo Testamento podia se reduzida à Regra Áurea (Mt 7.12). Exemplos específicos daquilo que significa amar aos outros não faltam nem na vida nem nos ensinos de Cristo. As Epístolas do N. T. abundam de exortações para os cristãos cuidarem uns dos outros e dos de fora. Paulo escreveu: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.4). Outra vez: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6.2, 10). A primeira Epístola de João é muita explícita no que diz respeito `a responsabilidade do cristão no sentido de amar aos outros. (3.17, 18), como também a de Tiago (1.27). Em síntese, o homem é moralmente responsável pelos demais homens. Ele é o guardião do seu irmão.
A RESPONSABILIDADE PARA COM OS IRMÃOS NA FÉ
Paulo conclamou aos gálatas: Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (6.10). O próprio Paulo estava muito ativo em levantar uma oferta para os santos pobres em Jerusalém (Rm 15.26).João, semelhantemente ressaltou a providência para as necessidades dos irmãos, e escreveu: “ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus ( I Jo 3.17). Tiago é igualmente firme na ênfase sobre a providência para os irmãos: “Se um irmão ou irmã estiverem carecidos de roupa, e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: “ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos”, sem contudo, lhe dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (Tg 2.15,16). A responsabilidade social do cristão, quanto ao amor além da sua própria família, começa com a família de Deus. Esta verdade também é subentendida no cuidado da igreja primitiva com suas próprias viúvas (At 6.1; I Tm 5.9ss). A responsabilidade social do cristão começa com a sua própria pessoa, continua com a sua família, depois com os irmãos na fé e se estende para com todas as pessoas. Como filhos de Deus somos encarregados de praticarmos o bem para com todas as pessoas sem jamais excluir qualquer pessoa.
A RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA COM OS POBRES
A igreja tem a obrigação de cuidar dos pobres e não explorá-los como muitos têm feito. A primeira igreja em Jerusalém pediu a Paulo “que nos lembrássemos dos pobres,” disse ele, “o que também me esforcei por fazer” (Gl 2.10). Em cumprimento desta incumbência, Paulo escreveu: “Por que aprouve à Macedônia e a Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém” (Rm 15.26). Até antes deste tempo, quando havia fome em Jerusalém, “Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia” (At 11.29). Tudo isso era furto da responsabilidade social que predominava naquelas comunidades cristãs do primeiro século. A Antigo Testamento abunda em exortações acerca dos pobres. A lei de Moisés ordenava que os cantos e as espigas dos campos fossem deixados para os pobres e estrangeiros (Lv 19.9). Era ordenado, ainda mais: “Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás” (Lv 25.35; Dt 15.15). Uma benção especial é prometida aos que dão aos pobres: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício” (Pv 19.17). Outra vez: “Bem-aventurado o que acode ao necessitado” (Sl 41.1). Os profetas eram campeões dos pobres, Isaías escreveu: “Aí dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo...” (10.1-2).