terça-feira, 30 de março de 2010

JEREMIAS O PROFETA DA ESPERANÇA

Jeremias exerceu o seu ministério num período totalmente caótico para a nação de Judá, que vivia a maior crise de sua história política, social e religiosa. Ele recebeu a quase impossível tarefa de fazer a nação de Judá retroceder na sua trajetória pecaminosa que inevitavelmente culminaria com a destruição(15.1). Mas aquele era um povo teimoso e obstinado, e parecia inclinado à destruição.

- O contexto político, social e religioso

No décimo oitavo ano de Josias, o último rei justo de Judá, o sumo sacerdote Hilquías, encontrou um exemplar do livro da lei (provavelmente Deuteronômio), quando o templo estava sendo restaurado. Safã leu o livro perante o rei; e quando ouviu a palavra de Deus, humilhou-se conclamou a nação ao arrependimento. Levou o povo a retirar a idolatria da terra e restaurar o culto a Jeová, ao menos na aparência. Esse acontecimento está relatado no segundo livro dos reis, caps. 22 e 23 e é geralmente chamado "o grande reavivamento durante o reinado de Josias". A mudança realizou algumas coisas boas, mas não parece que aquele acontecimento pudesse, na realidade, ser chamado um "reavivamento". Jeremias, pelo menos, não pensou assim. Quando a reforma religiosa de Josias começou, Jeremias, que tinha estado profetizando por aproximadamente 5 anos, provavelmente cooperou com ela. Mas, então, percebesse que, em essência, nada se modificava na vida espiritual da nação. Por decreto, Josias pode eliminar os ídolos da terra, mas não pode eliminá-los do coração do povo. É verdade que havia um punhado de adoradores sinceros, mas, para a maioria, o reavivamento foi superficial, e temporário. A religião antiga ainda era mais atrativa, e maioria preferia as suas tradições.

Embora houvesse diminuído de dimensões o problema nacional da interferência da Assíria, de tal que Judá desfrutou de considerável independência sobre Josias, os acontecimentos internacionais na área dos rios Tigre e Eufrates eram observados em Jerusalém com intenso interesse. Sem dúvida, qualquer temor de que o soerguimento de Babilônia como potência, no Oriente, teria implicações sérias para Jerusálem, era contrabalançado pelo otimismo da reforma de Josias. A noticia da queda de Nínive, em 612 A.c., quase certamente foi bem recebida em Judá como uma garantia de que não haveria mais interferências Assírias. O temor de que a Assíria conseguiria recompor-se impulsionou Josias a tentar fechar a passagem aos Egípcios, em Megido (609 A.c), para impedi-los de ajudar os assírios, que estavam retrocedendo ante o avanço das tropas babilônias.

A morte repentina de Josias foi crucial tanto para Judá quanto para Jeremias, pessoalmente. Enquanto o profeta lamentava a perda daquele piedoso soberano sua nação foi projetada num redemoinho de conflitos internacionais. Jeoacaz governou somente por 3 meses antes que Neco, do Egito, o levasse cativo, fazendo-o subir ao trono de Davi, em Jerusalém, a Jeoaquim. Essa súbita guinada dos acontecimentos não somente deixou Jeremias sem piedoso apoio político, mas também deixou-o quase abandonado às astúcias dos líderes apóstatas, que gozavam dos favores de Jeoaquim.

Crise após crise foi aproximando Judá da destruição, enquanto os avisos de Jeremias continuavam a ser ignorados. O ano de 605 a.C. assinalou o começo do cativeiro babilônico para alguns dos cidadãos de Jerusalém, paralelamente ao fato de que Jeoaquim afirmava sua lealdade aos babilônicos invasores. No conflito Egípcio-babilônico, que houve durante o restante de seu reinado, Jeoaquim caiu no erro fatal de rebelar-se contra Nabucodonosor, precipitando a crise de 598 – 597 a.C. não somente a morte pôs abrupto ponto final ao reinado de Jeoaquim, mas também seu filho, Joaquim, e aproximadamente 10 mil cidadãos proeminentes de Jerusalém foram levados ao exílio. Isso deixou a cidade como mero simulacro de existência nacional, enquanto as classes remanescentes e mais pobres controlavam o governo sob seu rei títere, Zedequias.

A corrupção moral estava generalizada, pois, os próprios líderes estavam envolvidos em mentiras, atos avarentos e adultérios. A influência negativa do sacerdócio é devastadora para a nação, acelerando cada vez mais, o processo de decadência. Jeremias toca direto na ferida, ele não usa "meias-palavras", atentemos para as palavras dos profeta: "mas nos profetas de Jerusalém vejo coisa horrenda: cometem adultérios, andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se converta cada um da sua maldade; todos eles se tornaram para mim como Sodoma, e os moradores de Jerusalém como Gomorra... porque dos profetas de Jerusalém se derramou a impiedade sobre a terra." (23.14-15).

MAIOR DO QUE AS CRISES É ESPERANÇA DAQUELES QUE OUVEM A PALAVRA DO SENHOR

Na época de Jeremias a Nação de Judá já estava praticamente sentenciada ao Cativeiro devido ao seu profundo comprometimento com o pecado. O cativeiro seria um acontecimento praticamente inevitável, porém, nem tudo estava perdido, Deus levantou o profeta Jeremias como a última oportunidade para que houvesse uma reflexão por parte do povo, e deixassem de ser tão indiferentes à palavra do Senhor. Desta forma os prejuízos poderiam ser amenizados e as conseqüências menos dolorosas, e essa era a grande esperança de Jeremias, que o povo despertasse do sono da ilusão que estavam vivendo, pois seus líderes espirituais lhes diziam que estava tudo bem, enquanto todos estavam caminhando direto para um abismo, do qual estavam bem próximos. Mas, Jeremias não perde a esperança de que eles possam ouvir os seus avisos, e então ele diz: "Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes e vos ponde diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e dizeis estamos salvos; sim só para praticardes estas abominações! Será esta casa que se chama pelo meu nome é um covil de salteadores aos vossos olhos? (7.3-4). G. Campbell Morgan diz que "covil de salteadores" é o lugar onde os ladrões se escondem logo após ter cometido crimes. Jeremias ainda acrescenta que estes sacerdotes não passavam de falsos curandeiros, mentirosos "curam superficialmente a ferida do meu povo. Dizendo: Paz, paz, quando não há paz" (6.14). O profeta Jeremias tinha esperanças que muitos pudessem despertar do sono espiritual e ainda poder desfrutar das bênçãos de Deus em meio aquela situação tão degradante. Jeremias não desiste da esperança, e lembra ao povo: "Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja a esperança é o Senhor... O Senhor é a esperança de Israel.." (17.7,13).

Enquanto se aproximava rapidamente a ruína nacional, Jeremias recebeu uma elaboração da promessa de restauração. Com uma admoestação para que invocasse a Deus , o Criador, o povo foi desafiado, por meio de Jeremias, esperar nas coisas que desconhecia. Naquela terra, que agora no limiar da destruição, haveria de aparecer um renovo justo proveniente de Davi, de tal maneira que retidão e justiça prevaleceriam uma vez mais. O governo davídico e o serviço dos levitas seriam restabelecidos. Jerusalém e Judá seriam uma vez mais, o deleite de Deus. Esse pacto é tão certo quanto os períodos fixados dia e noite.

Contextualizando

Conforme diz o apóstolo Paulo, estamos vivendo dias trabalhosos, assim como vivenciou o profeta Jeremias. Fomos colocados como profetas numa nação na qual predomina o misticismo e pragmatismo religioso. A superstição e a idolatria fazem parte da vida da maioria dos brasileiros. As autoridades políticas e religiosas estão indiferentes a palavra do Senhor. Somos uma nação com muitas manifestações religiosas, porém, o sacrifício não tem valor perante Deus, pois, não existe comprometimento, não há submissão à vontade do Senhor. O pior disso é que muitas pessoas pensam que estão procedendo corretamente, porque seus líderes espirituais afirmam que tudo está bem, que a prática religiosa descomprometida deles está agradando a Deus. Esses líderes assemelham-se aos sacerdotes da época de Jeremias, o profeta os chamou de charlatões, ilusionistas, pois só estavam preocupados com a com os seus próprios interesses e não com a situação espiritual do povo. Homens avarentos e mentirosos, explorando a ignorância e a falta de discernimento espiritual do povo. Essa indiferença e hipocrisia para com a verdade de Deus tem sido a razão de males, tais como: Miséria social que tem se configurado num alto índice de pobreza provocado por uma injusta distribuição de renda. Temos neste país homens que aparecem nas pesquisas entre os mais ricos do mundo, e paradoxalmente estamos entre os países com o maior número de pobres, altos índices de violência, escândalos políticos e sócias, entre outras coisas. Entre esses falsos profetas que iludem o povo brasileiro com suas mensagens que massageiam o ego das pessoas, sem levá-las a um comprometimento com Deus, pode se contar muitas igrejas e ministérios evangélicos. Fazendo uma inversão do texto bíblico, diria que o Evangelho tem se envergonhado de muitos evangélicos na época atual. Apesar da expressiva crise de identidade enfrentada pela igreja dos tempos pós-modernos, nem tudo está perdido, ainda existem profetas do timbre de Jeremias, homens capazes de renunciar as regalias do ministério, e dizer a verdade custe o que custar, mesmo que isso provoque perseguições, maus tratos, injustiças, perseveram em pregar a verdade de Deus, dizendo em alto e bom som aos pecadores, sejam eles autoridades religiosas, políticas ou quem quer que sejam, que precisam abandonar o pecado e obedecerem a palavra de Deus. Porque está é única esperança para os problemas que assolam este país. Não é elegendo políticos, que na maioria das vezes se corrompem, criticando só por criticar, nem tão pouco se reunindo em quatro paredes para se delirar com a exuberância das nossoas próprias palavras e proferir palavras mágicas, tais: "O Brasil é do Senhor Jesus, decretamos a libertação do Brasil.... e por ái vai.

Primeiro que tudo os profetas dessa era precisam ser tão integro como Jeremias, cuja a cabeça esteja nos céus e os pés aqui terra. Homens que se compadeçam da condição miserável dos pecadores, sem iludi-los, desafiando-os a mudar o estado de desgraça prenunciado, conclamando a um despertamento. Assim como Jeremias o profeta desta era não pode abrir mão da esperança, por maior que seja o caos, ele deve persistir na sua missão. Mesmo que as pessoas não estejam dando ouvidos, não podemos desistir, vamos continuar anunciando que "crer no Senhor é a única esperança".

segunda-feira, 29 de março de 2010

LIÇÃO BÍBLICA CPAD - JEREMIAS

considerações sobre o profeta Jeremias

Tema do livro: Advertência e Juizo. Escrito no sétimo século A.c

Entre outros Jeremias que são mencionados no texto bíblico, encontramos um profeta filho de Hilquías, sacerdote de Anatote, na terra de Benjamim (1.11). O nome Jeremias significa "Jeová estabelece". Este homem foi chamado para o ministério profético por meio de uma visão. Mesmo Jeremias tendo admitido inexperiência, Deus se compromete em capacitá-lo com o seu poder, para que ele leve a sua mensagem a povos e a reinos, prevenindo-lhe da árdua missão devido a grande oposição que teria de enfrentar. (1.4-10). Iniciou o seu ministério profético no décimo terceiro ano do reinado de Josias (Ano 626 A.c), e contínuo sua obra até a tomada de Jerusalém(586 A.c) no quinto mês do décimo primeiro ano do reinado de Zedequias. Deste modo sua vida pública se estendeu por 41 anos sem interrupções. A oposição ao seu ministério começou pelos seus compatriotas, ameaçando-o de morte se não desistisse de suas funções proféticas. Sentiu profundamente que o povo escolhido por Deus se opusesse tão tenazmente a obra de Deus, o que o levou a suplicar justiça (11.18-21). Permaneceu fiel no cumprimento de sua missão, mesmo diante de uma ferrenha perseguição. No quarto ano do reinado de Joaquim, ditou as profecias que havia proferido durante os 20 anos anteriores e que o escriba Baruque registrou em um rolo. Não podendo ir ao templo, pediu a Baruque para pegar o rolo e levar ao santuário, para ser lido diante do povo que estava lá por ocasião de um jejum. Este rolo chegou as mãos do rei, que depois de ler alguns trechos, cortou-o em pedaços e jogou-os no fogo. (36.1-26). Um de seus inimigos, Pasur, sacerdote e prefeito da casa do Senhor, o colocou no sepo, sendo solto no dia seguinte, (20.1-3). Durante o sítio de Jerusalém, as autoridades judaicas olhavam as profecias de Jeremias acerca do êxito dos caldeus e do subseqüente cativeiro de Judá, sob o ponto de vista político ou militar, em vez de as considerar sob o ponto de vista religioso. Diziam que tais profecias enfraqueciam ânimo dos defensores da cidade. Os caldeus, sabendo das muitas injustiças que Jeremias havia sofrido, Nabucodonosor deu ordens para que o soltassem e o entregassem a Gedalias, para que ele habitasse em sua casa e vivesse entre o povo. Foi-lhe também, concedida faculdade de ir para a Babilônia ou ficar na Judéia, cercado de todos os favores e garantias. Preferiu ficar na sua pátria. Por ocasião do assassinato de Gedalias, Jeremias aconselhou os judeus a não fugirem para o Egito, mas foi em vão: não somente foram para lá como até compeliram o profeta a acompanhá-los na sua jornada. Proferiu as suas últimas predições em Táfnis no Egito. Não se sabe como, nem em que tempo morreu.

domingo, 28 de março de 2010

REFLEXÃO SOBRE TEOLOGIA

ARTIGO

Os pecadores da teologia

Alan Brizotti Alan Brizotti
Ministro do evangelho, escritor, professor de Teologia e Conferencista. Ministra cursos e palestras sobre Espiritualidade, Família, Teologia, e diversos temas em todo o Brasil e exterior (Europa). Pesquisador da área de Espiritualidade e Filosofia. Colaborador em diversos blogs e sites, como o Genizah virtual.com
25/03/2010 16:01h
Lutero disse: “A matemática faz tristes; a medicina, doentes; a teologia, pecadores”. A ironia da frase nos atinge com violência. Giordano Bruno dizia que: “Todas as coisas são feitas de contrários; razão pela qual, não podemos experimentar prazer algum que não seja mesclado de amargura”. O prazer do pensar teológico vem junto com a amargura das descobertas desconcertantes. O próprio Lutero dizia: “Não tenho outro nome senão pecador. Pecador é meu nome, pecador é meu sobrenome”.

A verdade fundamental é uma só: Todos somos pecadores! Todos temos nossas fraquezas. Deslizes são íntimos companheiros nessa viagem alucinante da existência. A incrível capacidade de totalidade do pecado nos atinge implacavelmente, porém a multiforme graça de Deus, também tem o poder da totalidade, também trabalha com o princípio do todo e da verdade. De Adão a Noé; de Abraão a Jacó; de Jacó a Davi; a história é o relato de homens em luta contra o domínio cruel do pecado. Mas a vida de Cristo, seu amor e sua esperança nos garantem a beleza do acreditar, de semear na graça, de existir em plena capacidade de, apesar do pecado, amar a Deus.

Nosso grande salto, nosso maior triunfo está justamente no “amar a Deus”. Essa é a grande certeza que podemos ter: somos capazes de amar a Deus! Quando isso acontece, a história ganha novas cores, nova dimensão, novo cheiro de graça. Aí podemos aprender as lições dos “pecadores da teologia”, homens como Abraão, que apesar de suas mentiras, amava a Deus, e isso o ajudou a trabalhar essas arestas do caráter e amar a verdade. Podemos aprender com Davi, o sanguinário, que amava a Deus, e isso o ajudou a desenvolver uma incrível capacidade de arrependimento. Quando amamos a Deus, nossa ética começa a ser trabalhada pelos frutos desse amor, aí, todo o intrigante domínio do pecado se torna uma área que procuramos vencer todos os dias com o “carregar a cruz”.

Pecadores, porém amados. Essa deve ser nossa esperança, nossa graça, nossa âncora nesse tempestuoso oceano da história. Quando entendemos que somos amados por Deus, passamos a buscar corresponder a esse amor, e esse é o milagre maior do relacionamento entre Deus e o homem: O milagre do amor mais profundo e puro nascendo em corações tatuados pelo pecado.

Quem não faz parte do incrível grupo dos “pecadores da teologia?”

sábado, 27 de março de 2010

FATOS SOBRE A TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


À luz do novo testamento da história dos povos contemporâneos, verificaram-se os fatos mais importantes da história dos hebreus. É claramente verificado, e geralmente reconhecido, que a sociedade patriarcal apresentada no livro de Gênesis é semelhante a dos hurianos, um povo contemporâneo de Abraão, Isaque e Jacó. Até os costumes e as práticas dos dois povos eram semelhantes. A literatura dos hurianos, como os seus contratos de casamento e várias outras qualidades de documentos que descrevem os seus negócios e as sua atividades de dia em dia por alguns anos, demonstra as semelhanças entre a vida social dos hurianos e a dos patriarcas bíblicos. A crítica literária e histórica não modifica essencialmente a interpretação dos eventos históricos que deram origem ao culto de Javé pelo povo de Israel. A crítica não pode modificar as evidências abundantes da certeza absoluta do povo de Israel de que Javé tomou como a iniciativa no estabelecimento da sua fé, e da sua vida como o povo escolhido do Senhor. A psicologia da religião e o estudo das religiões comparadas ajudam no entendimento dos característicos dos ideais distintivos do Antigo Testamento e o valor imperecível das suas verdades divinas. De interesse são as obras publicadas desde 1904 sobre a Teologia do Velho Testamento. A tarefa de teólogo do Antigo Testamento, segundo Davidson, é a de apresentar as verdades da religião de Israel organicamente, mostrando como uma verdade surgiu de outra que a precedeu. Assim Deus implantou as verdades de seu reino na vida religiosa de Israel, o seu povo, As verdades do reino de Deus se apresentam em termos da história , das instituições e da vida do povo de Israel. Há um distinção definitiva entre a teologia do Velho Testamento e a do Novo Testamento. A teologia dos judeus baseia-se principalmente nos seus livros canônicos do Antigo Testamento. Os mulçumanos acrescentam ao Velho Testamento os ensinos de seu profeta. Ora, os cristãos reconhecem a conveniência de tratar a teologia de cada uma das duas partes da nossa Bíblia separadamente, cuidando de não ler no Antigo Testamento ensinos distintivos do Novo. Nem se deve obscurecer as diferenças entre os ensinos das duas partes. É necessário, todavia, do ponto de vista cristão, reconhecer que as doutrinas teológicas do Novo Testamento ficam enraizadas na teologia do Antigo, e que a teologia do Velho Testamento chega à plena fruição na teologia do Novo Testamento. Alguns teólogos cristãos preferem escrever sobre a teologia bíblica. Assim começam com as doutrinas do Antigos Testamento e mostram como se desenvolveram no Novo. É claro que este método tem algumas vantagens, mas tem a tendência de olvidar os característicos distintivos e as riquezas peculiares de cada uma das divisões. Não se deve ler o Velho Testamento como texto científico da história, pois que trata-se das experiências religiosas do povo de Israel com o seu Deus. Escritores bíblicos, de épocas diferentes, interpretaram os acontecimentos na sua vida nacional de pontos de vista diferentes. Um estudo cuidadoso mostra que há três fontes da teologia do Velho Testamento representadas no longo período de desenvolvimento, que culminou nas doutrinas teológicas dos profetas canônicos. A corrente principal se originou da revelação de Javé ao povo de Israel por intermédio de Moisés, a redenção e a escolha de Israel para o serviço de seu deus. Depois Javé identifica-se como El Shadai, o Deus de Abraão, e assim a fé patriarcal integrou-se com a teologia bíblica. A terceira fonte, a influência dos vizinhos na religião de Israel, é mais difícil avaliar. Os mensageiros do Senhor lutavam heroicamente para purificar a sua religião das influências piores dos povos contemporâneos, mas não há dúvida de que os israelitas incorporaram algumas das festas e cerimônias religiosas dos povos cananeus no seu culto ao Senhor. Mas na teologia dos profetas esta influência foi reduzida ao mínimo, mais ou menos como o cristianismo livrou-se, em grande parte, das influências do paganismo. Há sempre oposição aos novos métodos de estudar a Bíblia, e a mudança de ênfase na interpretação de seus ensinos. Escrito por muitos autores, através de um longo período, com psicologia e cultura peculiares, o Velho Testamento oferece dificuldades para o leitor moderno que não tem conhecimento do seu fundo cultural. Por isso a leitura da bíblia esta sendo muito negligenciada pelo povo em geral. Por outro lado, o estudo das ciências bíblicas por especialistas está tirando tesouro das Escrituras.

terça-feira, 23 de março de 2010

EUSÉBIO DE CESARÉIA UM HISTORIADOR COM PROPÓSITOS APOLOGÉTICOS.

Eusébio de Cesaréia (260-339). Homem de grandes virtudes,segundo grande historiador eclesiástico, depois de Lucas. Além de ter sido um erudito eminente, apologista cristão, influente estadista eclesiástico e, acima de tudo, bispo de Cesaréia. Teve como pai espiritual Panfílio,o sábio presbítero de Cesaréia.
Panfílio restarou uma grande biblioteca em Cesaréia, pelo que também Eusébio dispunha de fontes informativas para nelas basear os seus escritos. Sua História Eclesiástica levou registros históricos da Igreja até 323 d.C. Ainda escreveu uma crônica da história universal, que incluía uma tentativa cronológica, exibindo uma lista de datas. Uma edição definitiva de sua História Eclesiástica apareceu em 325 d.C., preservando valiosas informações, em grande parte das quais com base em fontes informativas não mais existentes. Esta obra concedeu-lhe o título de Pai da História Eclesiástica. Ele também foi o autor de obras polêmicas contra as heresias da época, incluindo aquelas intituladas em latim: Preparatio Evangélica; Demonstrano Evangélica e Contra Hieracleum. A última era contra Apolônio de Tiana, que alguns exaltavam como se fosse maior do que Cristo.
Sua atividade literária e precoce foi interrompida pela perseguição de Diocleciano; ele foi perseguido e preso por causa de sua fé. Voltando a paz, tornou-se bispo de Cesaréia. Em 326 d.C. publicou um enciclopédia em quatro volumes. Um dos volumes recebeu o título Onomasticon, a única porção dessa obra que ainda resta, conta com cerca de seiscentos nomes de cidades, rios e lugares e etc. tanto do Antigo quanto dos quatro Evangelhos. Portanto, Eusébio também foi o pai dos dicionários e enciclopédias bíblicas> Jerônimo corrigiu e acrescentou detalhes a essa obra. Agostinho louvou-a emitindo a esperança de que outros dessem prosseguimento a esse tipo de esforço literário.
Eusébio se envolveu muito na controvérsia ariana, recusou-se a condenar Ário, e lutou em favor de uma fórmula equívoca, a fim de conseguir que os dois partidos entrassem em acordo. Viveu a atmosfera da corte, cujos favores apreciava e cuja política elogiou. Mais erudito do que teólogo é antes de tudo um historiador e um apologista. Sua Crônica, sua história eclesiástica consagraram seu valor como historiador. A preparação e a demonstração evangélicas foram muitíssimo apreciadas no decorrer dos séculos.
Eusébio foi origenista da segunda geração, bem como decidido aderente da teologia filosófica do Logos, embora tivesse várias idéias não-ortodoxas acerca da divindade de Cristo. Sua principal contribuição é a sua História Eclesiástica. Suas obras apologéticas, embora de menor valor, encontram lugar na literatura cristã.
Tendo participado da controvérsia ariana, Eusébio até hoje permanece como uma figura um tanto enigmática. Alguns estudiosos supõem que ele não entendeu corretamente as implicações da posição ariana.

terça-feira, 16 de março de 2010

PELA UNIÃO DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO CENTENÁRIO - parte 2


É HORA DE AGIR E ORARMOS PELA DERRUBADA DOS MUROS, ALGUNS PODEM ATÉ PENSAR QUE ISSO NÃO SEJA POSSÍVEL OU ATÉ MESMO QUE NÃO MUITA IMPORTÂNCIA, PORÉM, SÓ QUEM COMPREENDE A EXTENSÃO E PROFUNDIDADE DA OBRA DO SENHOR JESUS, É QUE NUM MOMENTO COMO ESSE PODE ESTAR PENSANDO DESSA FORMA. A UNIDADE DA IGREJA É A MÁXIMA DO REINO DE DEUS. É INATO AO SER HUMANO A TENDÊNCIA PARA CONSTRUIR "MUROS DE SEPARAÇÃO". O NOVO TESTAMENTO NOS MOSTRA QUE O ESPÍRITO DE FACÇÃO ERA ALGO PRESENTE TANTO NO MUNDO SECULAR, COMO DENTRO DA PRÓPRIA IGREJA DE CORINTO. OS JUDEUS, ESPECIFICAMENTE OS FARISEUS ESTABELECERAM A BARREIRA RELIGIOSA, OS GREGOS A BARREIRA CULTURAL, OS ROMANOS A BARREIRA POLÍTICA, TODAVIA, JESUS SE COLOCOU ACIMA DE TODAS ESSAS BARREIRAS, E AS DESTRUIU, QUANDO ATRAIU HOMENS DE TODOS ESSES CONTEXTOS E OS FEZ VIVER COMO IRMÃOS QUE TINHAM QUASE TODAS AS COISAS EM COMUM, DESFRUTANDO DA KOINONIA DIVINA. ESSA NÃO É UMA MISSÃO MUITO FÁCIL, TENDO EM VISTA UMA LONGA HISTÓRIA DE CONFLITOS QUE CULMINARAM EM DIVISÕES, E PROVAVELMENTE ALGUNS FICARAM OFENDIDOS, E A BÍBLIA DIZ QUE É MAIS FÁCIL GANHAR UMA CIDADE INTEIRA DO QUE UM IRMÃO OFENDIDO, MAS EU CREIO NO AGIR DE DEUS A FAVOR NO MOVIMENTO DA UNIFICAÇÃO, POIS ELE QUER VER A UNIDADE DA SUA IGREJA "OH QUÃO BOM E QUÃO SUAVE É QUE OS IRMÃOS VIVAM EM UNIÃO". ESSA É MAIS UMA BARREIRA QUE O SENHOR JESUS QUER DERRUBAR, E ISSO NÃO É NADA PARA ELE, É SÓ OBSERVARMOS NA LISTA DOS APÓSTOLOS, E PERCERBEMOS QUE ENTRE ELES ESTAVAM DOIS HOMENS QUE HAVIAM SIDO INIMIGOS MORTAIS, MATEUS O PUBLICANO E SIMÃO ZELOTE. QUEM CONHECE O CONTEXTO POLÍTICO DAQUELA ÉPOCA SABE QUE OS ZELOTES ERAM UM GRUPO PATRIOTA REVOLUCIONÁRIO, OS QUAIS ODIAVAM OS PUBLICANOS (JUDEUS QUE TRABALHAVAM COMO COBRADORES DE IMPOSTOS), CONSIDERANDO-OS TRAIDORES DA PÁTRIA AO MESMO TEMPO QUE ALIMENTAVAM UM ÓDIO MUITO GRANDE CONTRA ELES. NÃO ESTOU FAZENDO NENHUMA ANALOGIA DESSE CASO COM AS QUESTÕES ENTRE AS CONVENÇÕES ASSEMBLEIANAS, POR OUTRO LADO NÃO POSSO NEGAR QUE SÓ ACONTECERÁ ESSA TÃO DESEJADA UNIDADE NO CENTENÁRIO, SE ALGUMAS BARREIRAS QUE FORAM CONSTRUÍDA AO LONGO DOS ANOS, CAIAM POR TERRA. NA SIMPLES E LIMITADA REFLEXÃO ESTOU QUERENDO DIZER QUE SE AS PESSOAS PERMITIREM, "SE DEREM LUGAR" COMO COSTUMAM DIZER ALGUNS IRMÃOS NA NOSSA IGREJA, DEUS IRÁ FAZER ALGO MARAVILHOSO NESSE CENTENÁRIO.




sábado, 13 de março de 2010

PELA UNIÃO DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO CENTENÁRIO - parte 1

creio que esta campanha se constitui num clamor do Espírito do Senhor, pois, o individualismo e exclusivismo ostentado por alguns ministérios das A D no Brasil, é algo muito triste e extremamente vergonhoso para a comunidade Assembleiana. É obvio e inevitável que algumas diferenças alusivas aos dogmas e as tradições religiosas, venham a existir, já que somos cabeças pensantes que conforme o contexto no qual estamos inseridos podemos construir paradigmas diferenciados. Porém, a presunção de algumas lideranças deste pais, os quais praticam um legalismo irracional, sem base teológica e muitos menos bíblica tem se configurado na ressurreição do "Farisaísmo" no seio da igreja dos tempos hodiernos. Esses tais se proclamam "homens de doutrina", nos seus púlpitos batem no peito e dizem: "aqui temos doutrina, não somos como os demais..." Infelizmente tenho que admitir que o "farisaísmo continua vivo, e está entre o povo de Deus", porém, uma campanha como essa é um grande passo para eliminarmos essa praga do meio da igreja, e promovermos a conscientização daqueles que se desviaram do verdadeiro propósito da igreja. Alguns desses "abastados" líderes não só pregam e promovem um tipo denominacionalismo ascético, isolando-se e repudiando as convenções co-irmãs, mas vão muito mais além, chegando a difamar os líderes e crentes de tais convenções utilizando expressões como:"não temos nada a ver com a aquela outra igreja, aquele povo está desviado, e assim vai... isso é muito triste e desgastante para a maior e mais importante denominação evangélica desse pais. No momento em que vivemos no qual se apresentam tendências individualistas e separatistas, creio que o Espírito do Senhor está movendo homens comprometidos com a causa do reino de Deus, para promover um despertamento, para dizer a todos os que se dizem assembleianos neste pais: "somos irmãos, aos servos do Senhor não convém contender". Aqueles que pregam separatismo "nós não nos misturamos", estão pregando contra o maior propósito que Jesus estabeleceu para a sua igreja aqui na terra, A UNIDADE. A igreja é o corpo de Cristo, os membros que não se harmonizam no corpo, ou não fazem do corpo, ou se tornam um outro corpo a parte, deixando de ser o corpo de Cristo. Em João 17.21 Jesus ora por esse propósito: "para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste." Não entendo aqui, que Jesus estivesse pregando algum tipo de ecumenismo religioso, entretanto, fica claro que o emblema caracterizador da identidade da igreja aqui na terra se chama unidade, uma unidade que é muito mais espiritual do que social e estrutural, porém, é necessário que essa realidade seja manifesta ao mundo através de algumas atitudes, porque conforme Jesus expressa no cerne da sua oração, isso precisa acontecer para que o mundo veja e creia que Jesus é o Salvador. As pessoas de uma forma geral, já estão cansadas de discursos dissociados de uma prática verdadeiramente evangélica. Tem muita gente pregando amor e união, mas só seu "gueto religioso" e mesmo assim com muitas restrições. O mundo já tomou conhecimento dessa triste situação, e por isso muitos têm resistido em crê no Evangelho. Quero pedir desculpas por ter me empolgado na minha reflexão,porém, como conclusão eu gostaria de dizer que já estou engajado nesse clamor, mesmo que seja por um momento, como é caso do centenário, mas se tivermos êxito, será um acontecimento fundamental para o futuro das Assembléias de Deus no Brasil e também para a pregação do Evangelho, pois o testemunho de uma igreja verdadeiramente unificada no Espírito de Deus, será irresistível para o coração de qualquer pecador.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A DOUTRINA DA TRINDADE SEGUNDO TERTULIANO - PARTE II

Tertuliano e Hipólito desenvolvem as idéias de Justino e de Irineu. Para eles, Jesus é a Palavra que procede de Deus, com poder criador divino e que agora se torna homem. Ambos acentuam a realidade da carne de Jesus contra o dualismo gnóstico e docetismo. Ambos usam a idéia de Irineu do intercâmbio. E ambos afirmam que o divino e o homano são o mesmo. Hipólito antepõe, com muita ênfase, o pronome “estin”, quando enumera propriedades humanas e divinas de Jesus Cristo. Tertuliano demonstra que o Cristo divino não é outro senão o homem Jesus. Ele apresenta o Filho divino sem mais nem menos como o sujeito verdadeiro da vida humana e do destino de Jesus. “Deus se submete a nascer” de uma mãe humana e deve-se dizer, conforme a Escritura, que “o Filho de Deus morreu”.

Mas Tertuliano não fica preso a seus mestres na reflexão cristológica; distingui, no único Jesus Cristo, duas “substâncias”, a divina, chamada por ele também de espírito, e a corporal. Os milagres de Jesus ele atribui à substância divina, as fraquezas, como fome e sede, medo e morte, pertencem a substância humana. Dois motivos levam a esta maneira de considerar. Por um lado, aprendeu dos seus antecessores a significação do nascimento virginal de Jesus: Ele nasceu de um Pai divino e mais tarde de uma mãe humana. Mas nascimento implica participação na matéria constitutiva da origem; esta é a primeira significação da palavra substância para Tertuliano. Como Filho de Deus, Jesus participa da substância espiritual de seu Pai; como filho de Maria, participa da substância humana. Por outro lado, existiam várias heresias que obrigou Irineu também, a fazer esta distinção. Seus adversários gnósticos e marcionistas reconhecem Jesus como um ser de ordem divina, mas negam a sua verdadeira humanidade. Tertuliano apela então para as reais fraquezas humana de Jesus. Várias tendências monarquianas encontraram precisamente nisto uma nova prova contra a sua verdadeira divindade. A distinção entre substância ofereceu uma saída.

O nascimento da virgem não deve levar portanto à conclusão de que ele não seja um verdadeiro ser humano, como muitos pensavam, mas implica que ele é, de um lado, verdadeiro homem da nossa carne e de outro, que ele não é “total e absolutamente Filho dos homens”, pois é também de substância divina.

Argumenta-se contra a doutrina da encarnação que ela implica uma mudança enquanto Deus é imutável. ou: “Se ele nasceu e se revestiu de real condição humana, deixou de ser Deus porque Deus perdeu o que era, tornando-se o que não era”. Tertuliano diz que este princípio tem valor no caso de coisas terrestres; mas Deus é totalmente diferente; “Deus pode mudar-se em tudo o que existe, sem deixar de ser o que Ele é”. Com exceção da palavra mudar-se, que ele mais tarde vai corrigir, encontramos aqui uma idéia profunda que talvez sirva de pressuposto essencial para a idéia de encarnação: Sendo Deus a afirmação perfeita de tudo quanto existe e não havendo nada que lhe seja contrário, a encarnação não implica que Ele se torna algo distinto.

Dessas considerações surgem formulações que serão importantes para a história da igreja. Dizer: “A palavra se tornou carne e homem” significa então que ele se transformou em carne ou significa que se revestiu de carne. A primeira suposição é contrária a imutabilidade divina. Além disso: Se a Palavra se tem tornado carne por transformação ou mutação da substância, seria Jesus uma só substância, composta de duas, um tipo de análgama como o elétron, que é uma mistura de ouro e prata; neste caso não seria nem espírito nem carne: uma coisa mudando a outra, dando a terceira como resultado. Neste caso, Jesus não seria Deus: porque pela encarnação deixaria de ser a Palavra. Também não seria carne e homem: sendo a Palavra, não seria realmente carne. Sendo composto de dois, não seria nenhum dos dois, mas um terceiro ser, diferente dos dois”. Tal mescla contradiz a escritura que o chama filho de Deus e filho do homem. Tanto Deus como homem, com ambas as substâncias diferentes nas suas propriedades... Vemos uma condição dupla, não misturada, mas unida numa só pessoa, Deus e homem, Jesus... O que é próprio de cada uma das substâncias é tão inviolável que em Cristo o Espírito operou o que era do Espírito, a saber prodígios, milagres, sinais, enquanto a carne sofreu nele o que era da carne”, fome, sede, lágrimas, medo mortal e finalmente a morte.

A continuação do texto prova que a cristologia de Tertuliano não é tão amadurecida como fazem suspeitar as frases. Antes de mais nada é duvidoso se a expressão “única pessoa” indica a unidade do sujeito. Essas formulações não se impuseram de imediato; “uma pessoa de duas substâncias ou em duas naturezas se tornou a palavra-chave da ortodoxia latina só com Agostinho. Mesmo assim Tertuliano se mostra mais profundo do que seus antecessores no problema de Jesus, um e o mesmo, que é Deus de tal maneira que sua humanidade verdadeira em nada é diminuída e que é o homem de tal maneira que é Deus perfeito. Ele inventou expressões e elaborou conceitos que mais tarde foram aproveitados.

sexta-feira, 5 de março de 2010

TERTULIANO E A DOUTRINA DA TRINDADE - PARTE I

TERTULIANO E SEU ENSINO SOBRE A TRINDADE

Com exímio uso do latim, Tertuliano foi o primeiro a usar o termo Trinitas para designar a Trindade. Expôs também a tese de que o Pai e o Filho eram da mesma substância. Antecipou-se em um século ao Símbolo de Nicéia.

Suas principais obras foram: Ad nationes, o Apologeticum (aos governadores das províncias do império – uma apologia que considera as acusações políticas contra os cristàos, como o crime de lesa-majestade e a negação dos deuses imperiais; passa a apologética do plano filosófico para o jurídico), Adversus Iudaeos, De praescriptione haereticorum, Adversus Marcionem (contra a gnose de Marcião), Adversus Valentinianos (contra a gnose de Valentino), Scorpiace, De carne Christi (contra o docetismo dos gnósticos), Adversus Praxean (exposição mais clara antes de Nicéia sobre a doutrina da Trindade, contra o patripassiano Práxea), De baptismo, De anima (obra antignóstica), Ad martyres, De penitentia, Ad uxorum... Do período montanista temos alguns escritos de caráter ascético, como o De exhortatione castitatis, em que exorta um amigo a não contrair novas núpcias (para ele uma forma de devassidão).

Tertuliano coloca-se com relação a Trindade mais ou menos nos mesmos parâmetros dos pais apologistas, dos primeiros séculos.

Assim como no caso de Irineu, a chave para a sua doutrina é abordá-la simultaneamente de duas direções opostas, considerando Deus:

I – Enquanto Ele existe em Seu ser eterno;

II - Enquanto Ele se revela no processo da Criação e da Redenção

Embora sigam a linha dos apologistas e de Irineu, sua doutrina é mais explícita do que a destes (em geral), (e, em particular) nos seguintes pontos:

a) Provavelmente por causa da tendência da igreja ocidental, (da qual faziam parte) de acentuar a unidade da divindade, Hipólito eTertuliano procuram tornar mais explícito como a Trindade revelada não é incompatível com a unidade essencial de Deus.

b) Ao descreverem o Pai, o Filho e o Espírito Santo, usam o termo ‘Pessoa’ (‘Prosopon’, no caso de Hipólito, um dos últimos escritores de língua grega no Ocidente; ‘Persona’, no caso de Tertuliano).

c) O termo ‘Pessoa’é aplicado por Hipólito ao Pai e ao Filho; e por Tertuliano ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Porém aplicam-lhes o termo ‘Pessoa’ somente enquanto manifestados na ordem da Revelação. O termo ‘Pessoa’ só mais tarde começou a ser aplicado ao Filho e ao Espírito Santo enquanto imanentes no ser eterno de Deus.

Tertuliano escreve “antes de todas as coisas, Deus estava sozinho, sendo Ele seu próprio universo. Ele estava sozinho, entretanto, no sentido em que não havia nada de externo a Ele, pois mesmo então Ele não estava realmente sozinho, já que Ele tinha consigo aquela Razão que Ele possuía em Si mesmo, isto é, sua própria Razão”. ( Tertuliano: Adversus Prax. 5).

Em outra passagem ele tenta explicar, mais claramente que os seus antecessores, o ser-outro ou a individualidade desta razão imanente ou verbo. Ele explica que a racionalidade ou o discurso, por meio do qual o homem cogita e faz planos é, de uma certa maneira, um “outro” e um “segundo” no homem, e assim é com o Verbo divino, com o qual Deus raciocina desde toda a eternidade e que constitui “um segundo para consigo”.